segunda-feira, 29 de julho de 2013

Plataforma irá vender novas empresas pela internet


Adolfo Melito, 60, presidente do conselho de criatividade da Fecomercio-SP, afirma estar criando a primeira plataforma de "equity crowdfunding" (compra de pequenas porcentagens de empresas por meio de uma vaquinha virtual) no Brasil.
O site inglês Crowdcube é a inspiração dele, que pretende lançar a empreitada ainda neste ano.Para poder fazer isso, ele irá usar um tipo de contrato chamado sociedade em conta de participação. Por essa regra, é possível haver um sócio majoritário, chamado de "ostensivo", e sócios participantes, que detém pequenos fragmentos da organização.
Ele exemplifica: se uma nova companhia é avaliada em R$ 1 milhão, poderá decidir vender 20% da titularidade no site. Seria o equivalente a R$ 200 mil -ou seja, por R$ 1.000 compra-se 0,1% da corporação.
Poderão levantar recursos no projeto pequenas companhias, que têm faturamento de até R$ 3,6 milhões por ano.
Por serem regidas pelo estatuto das pequenas empresas, as organizações ficam isentas de registro na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o órgão que fiscaliza o mercado de ações. Em nota, a CVM afirma que, caso verifique alguma irregularidade, pode determinar que os envolvidos "cessem de imediato a prática".
A ideia é acelerar o processo de financiamento das empresas. Segundo Sergio Risola, da incubadora de negócios Cietec, no Brasil "é realmente lento o processo de namoro entre empreendedores e investidores", o que faz com que seja difícil para elas conseguirem recursos.
"Montar uma minibolsa de valores não é simples", diz Melito. Para isso, ele buscou apoio da agência especializada em "crowdsourcing" Mutopo, da diretora Marina Miranda, 41. "Empresas que não têm recursos vão precisar encontrá-los de alguma maneira, e essa será uma delas", ela afirma.

FONTE: REVISTA VEJA

CEOs têm a ilusão de que são apoiados por seus subordinados

Quando o chefe conta uma piada ruim, geralmente quem trabalha para ele ri. Orgulhoso, ele nem percebe que a maior parte desses sorrisos são "amarelos". Isso acontece porque o poder inebria e, pior, cria a falsa sensação de apoio. Essa ilusão sobre alianças que na verdade não existem é tão nociva que pode levar o executivo a perder negócios e até o próprio cargo.

Essa é uma das afirmações de um estudo conduzido pelo professor Sebastien Brion, da escola de negócios espanhola Iese Business School, e Cameron Anderson, da Haas School of Business, da Universidade da Califórnia. Por meio de diversos experimentos com grupos de executivos, eles chegaram à conclusão que os líderes superestimam o que as equipes sentem por eles. "Os chefes acreditam que são amplamente apoiados e, por isso, muitas vezes acabam se dando mal", disse ao Valor, Sebastien Brion.
Segundo o professor, vários fatores associados à perda de poder estão fora do controle do CEO, como uma fusão ou aquisição mal conduzida ou até mesmo uma atuação mais dura do conselho de administração. Mas o que o estudo sugere é que o próprio comportamento do dirigente acaba causando esse enfraquecimento. "Um fator crítico que determina quem tem poder é a habilidade de, efetivamente, formar e manter alianças". A dificuldade em monitorar o envolvimento social, entretanto, pode comprometer a construção dessas conexões, segundo o estudo.
Em uma negociação, segundo Brion, ter poder significa sair dela com mais dinheiro. "Executivos que se consideram bons negociadores superestimam o quanto os outros gostam deles e o quanto lhes dão suporte. Muitas vezes, acabam antecipando a formação dessas alianças e, de uma hora para outra, podem ser excluídos do acordo final", afirma. Esse tipo de CEO não sobe na carreira. Na verdade, ele cai quando menos espera.
Quem sofre dessa cegueira no trato com os subordinados, que parecem sempre muito solícitos e companheiros, segundo Brion, sente que não precisa se dedicar ao engajamento de pessoas. "Eles acabam não construindo relacionamentos com quem precisam para conseguir qualquer tipo de apoio, inclusive financeiro ".
Outra constatação do estudo é a de que os chefes acreditam que levam em conta as individualidades dentro da equipe. De acordo com Brion, os gestores costumam achar que tratam todos bem e que dão autonomia às pessoas, mas nem sempre quem está abaixo deles pensa dessa forma. "Quanto mais alto o executivo chega, mais difícil fica entender como é percebido por quem trabalha com ele". O maior problema para o dirigente, é que a equipe continua rindo de suas piadas.

Por Stela Campos | De São Paulo – FONTE: Jornal Valor Econômico

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Eike Batista - O Brasil como prioridade: ontem, hoje e sempre


Publicado no jornal Valor Econômico, dessa sexta-feira, 19 de julho de 2013

Por Eike Batista
 

Ao longo dos últimos meses, decidi que não me pronunciaria sobre a avalanche que se abateu sobre minha vida privada e principalmente sobre meus negócios. Mudei de ideia nos últimos dias diante da grande insistência de amigos próximos e alguns de meus executivos. Venho a público então submeter à reflexão aspectos que têm passado em branco quando se analisa minha trajetória empresarial.

Eu me tornei um empreendedor ainda no início dos anos 80, quando me aventurei no garimpo da Amazônia. Aprendi bastante em regiões de fronteira, ambientes hostis à atividade produtiva, enormes dificuldades de toda ordem para transportar equipamentos, surtos de malária que me obrigaram a substituir equipes inteiras da noite para o dia, o desafio de extrair minério em locais quase inacessíveis e meu próprio questionamento em torno das possibilidades de êxito diante das adversidades que se apresentavam. Acabei por me tornar proprietário de minas em diversos países e decidi estabelecer-me em definitivo no Brasil e me desfazer das participações que detinha na área de mineração.

Muitas vezes as pessoas imaginam que surgi do nada, em meio a uma febre desenfreada de aberturas de capital, e que surfei na onda de um mercado em alta que, sem qualquer razão aparente, me ofereceu um cheque em branco com algumas dezenas de bilhões para que eu pudesse brincar de empreender. Nestes últimos anos aprendi muito, errei e acertei em diversos projetos contribuindo para geração de riqueza para terceiros, para mim e principalmente para investidores. Se algum dia mereci a confiança do mercado, foi porque havia uma trajetória de mais de 30 anos de muito trabalho, desafios superados, sucesso e uma capacidade comprovada de cumprir compromissos.

Como entendo que a OGX está na origem da crise de credibilidade que se abateu sobre meu nome e que acabou por turvar as realizações e conquistas de empresas como MPX, MMX e LLX, começo por ela.

O que aconteceu desde que ficou claro que a OGX não estaria apta a apresentar os resultados que um dia pareceu possível alcançar? Eu me tornei de repente um aventureiro inconsequente que arregimenta recursos para seu próprio benefício e não se importa se entregará o que havia anunciado? Hoje é difícil lembrar, mas a OGX foi construída por algumas das cabeças coroadas por décadas de serviços prestados a empresas de renome. Eu não investi na indústria do petróleo sem me cercar daqueles que eu e o mercado entendíamos estar entre os mais capacitados profissionais com que se podia contar. Ao arrematar os campos que arrematou, a expectativa em torno da OGX era altíssima. Esta mesma expectativa parecia uma irrelevância diante dos prognósticos que recebi de diversas empresas independentes no mercado do petróleo. Uma delas foi a DeGolyer & MacNaughton (D&M). De acordo com um relatório divulgado em 2011, auditado por empresas independentes de renome internacional, a OGX possuiria recursos aproximados de 10,8 bilhões de barris de petróleo equivalente (incluídos recursos contingenciais e prospectivos). Meu corpo técnico me reafirmava, dia após dia, a mesma coisa. Minhas empresas eram auditadas por três das maiores agências de risco do mundo, e nunca uma delas veio a mim ou a público alertar que não era bem assim.

Evidentemente, eu estava extasiado com as informações que me chegavam. Podia tê-las guardado para mim? Não, eu era o controlador de uma companhia de capital aberto e o que fiz foi compartilhar todo aquele esplendor e respectivos desafios com o mercado, além dos riscos envolvidos e chances de sucesso neste negócio de tão alto risco.

Tive ofertas para vender fatias expressivas ou mesmo o controle da OGX a partir de um valuation de 30 bilhões de dólares. Há dois anos, coloquei mais um bilhão de dólares do meu bolso na companhia. Eu perdi e venho perdendo bilhões de dólares com a OGX. Alguém que deseja iludir o próximo faz isso a um custo de bilhões de dólares? Se eu quisesse, poderia ter realizado uma venda programada de 100 milhões de dólares por semestre ao longo de 5 anos. Eu teria embolsado 5 bilhões de dólares e ainda assim permaneceria no controle da OGX. Mas não o fiz. Quem mais perdeu com a derrocada no valor da OGX foi um acionista: Eike Batista. Ninguém perdeu tanto quanto eu, e é justo que assim seja. Eu investi em um negócio de risco. É injusto e inaceitável, por outro lado, ouvir que induzi deliberadamente alguém a acreditar num sonho ou numa fantasia. Quem mais acreditou na OGX fui eu. Continuo acreditando e por isso estamos, nestes últimos meses, reinventando a companhia. Não desistirei deste desafio.

A OGX tem sido alvo de todo tipo de movimento especulativo, com vendas a descoberto no mercado e vazamentos de informações (falsas ou verdadeiras) numa escala sem precedentes e totalmente irresponsável. Muita gente ganhou dinheiro com a OGX por conta de toda esta excessiva especulação. Muitos também têm perdido dinheiro assim.

Sou solidário com os investidores que acreditaram na OGX em sua origem e que me honraram com sua confiança naquele momento ou mesmo depois, quando parecia que a companhia entregaria resultados de grande magnitude. O que posso dizer a essas pessoas é que acreditei neste cenário tanto quanto elas. Investi e continuo investindo quase todo meu patrimônio, tempo e dedicação na OGX e nas demais empresas X. E lamento profundamente não ver confirmados os prognósticos de consultorias de renome, auditados por agências de idêntico renome e referendados por executivos de renome.

Sou um otimista incorrigível em relação a meu país, a meus negócios e às pessoas que me cercam. Ao longo de minha atividade empresarial, os êxitos e conquistas superaram largamente fracassos e erros. Mas os fracassos aconteceram e eu nunca os escondi. Tive experiências mal sucedidas com a fabricação de jipes, com uma empresa concebida para concorrer com os Correios, com algumas minas fora do Brasil das quais tive de abrir mão por fatores diversos. Mas eu nunca deixei de ser transparente, pagar ninguém e nem de honrar meus compromissos. Sempre mirei atividades de alto risco com possibilidades de elevados retornos para parceiros e acionistas. Mineração é uma atividade de risco. Extração de petróleo é uma atividade de alto risco. As promessas de retorno são elevadas, num caso e noutro, mas o risco é grande. Isso jamais foi escondido, faço questão de pontuar novamente.

Mais do que ninguém, me pergunto onde errei. O que deveria ter feito de diferente? Uma primeira questão talvez esteja ligada ao modelo de financiamento que escolhi para as empresas. Hoje, se pudesse voltar no tempo, não teria recorrido ao mercado de ações. Eu teria estruturado um private equity que me permitisse criar do zero e desenvolver ao longo de pelo menos 10 anos cada companhia. E todas permaneceriam fechadas até que eu estivesse seguro de que havia chegado o momento de abrir o capital. Nos projetos que concebi, o tempo se revelou fator de estresse vital para a reversão de expectativas sobre companhias que ostentam resultados amplamente satisfatórios e possuem ativos valiosos.

Nos casos de MPX, MMX e LLX, a depreciação do valor de mercado é claramente incompatível com o que têm a oferecer. Estes últimos investimentos que efetuei tiveram como importante motivação contribuir para um Brasil mais competitivo, estruturado logisticamente e capaz de proporcionar um futuro melhor para o conjunto de sua população. A MPX possui a maior carteira de projetos licenciados do país. Ela se tornou modelo no conceito de térmicas ao longo da costa e gera hoje 2 mil megawatts, o suficiente para alimentar a cidade do Rio de Janeiro. Em pleno cenário de crise energética, foi dito publicamente por um membro da Aneel que, graças à MPX, não haveria apagão ou racionamento de energia. A MMX já produz 7 milhões de toneladas anuais de minério de ferro e conta com um ativo de importância estratégica vital, o Porto do Sudeste. Graças a ele será possível extrair minério de ferro de Minas Gerais e exportar a partir do quadrilátero ferrífero com ampla repercussão para a logística e para a balança comercial. A LLX conta com o Porto do Açu, polo industrial para os setores de petróleo e para o transporte de cargas em geral e a granel. É um porto-indústria que revela, em escala crescente, sua capacidade de atrair novas parceiras para sua retroárea de aproximadamente 90 km2. Dentre as empresas que já se instalaram ou estão se instalando no Açu, estão Technip, National Oilwell Varco (NOV), BP, GE, Wartsila e Vallourec, todas grandes corporações internacionais que acreditam nos meus negócios e no Brasil.

As pessoas ainda comentam que sou o cara do papel, do power point. Por que não visitam o Porto do Açu? Por que não visitam o Porto do Sudeste? Por que não visitam as plantas da MPX? É justamente o oposto do que se tem falado: sou o cara da economia real, que, mesmo com muitos obstáculos, coloca as coisas de pé. No pico das obras de meus empreendimentos, 30 mil pessoas estavam empregadas tornando concreto o que até então eram apenas sonhos. Isso é papel? Trinta mil pessoas em atividade? Eu realmente gostaria que todos os que duvidam de minha capacidade de entregar pudessem visitar o Porto do Sudeste e o Porto do Açu e as térmicas da MPX já em operação. É um convite que gostaria de fazer a todos. São empreendimentos para o Brasil, para o futuro do país. Meu sentimento é de que, em pouco tempo, as pessoas vão olhar para trás e pensar que pude oferecer minha contribuição ao desenvolvimento do sistema logístico brasileiro. Coloquei 2 bilhões de dólares do meu bolso na construção de um estaleiro por acreditar nas encomendas da OGX. No total, investi mais de 4 bilhões de dólares em recursos próprios nas empresas X.

Tomei a decisão de reestruturar o controle das companhias. Faço isso com a certeza de que tenho um legado a deixar ao país, e não abrirei mão de colaborar na condição de acionista relevante em cada companhia. Honrarei todos os meus compromissos. Não deixarei de pagar um único centavo de cada dívida que contraí. Acredito no meu país e nunca desistirei de investir recursos próprios em ativos que contribuem para toda a sociedade.

Eu me enxergo e continuarei a me enxergar como um parceiro do Brasil. Acho que cumpri esse papel ao conceber e entregar projetos que terão uma importância crucial nas próximas décadas. Falhei e decepcionei muitas pessoas, em especial por conta da reversão de expectativas da OGX. Esta reversão contaminou todo o Grupo X e acarretou um déficit de credibilidade com o qual nunca me deparei em minha trajetória. Mas o fato é que fui tão surpreendido quanto cada um de meus investidores, colaboradores e todo o mercado. Esta é a verdade. Hoje me sinto frustrado por não ter sido capaz de entregar o que eu mesmo esperava nos casos da OGX e da OSX, esta última concebida em parte para oferecer suporte à primeira em suas atividades. Mas acredito que a OGX reestruturada se tornará um player relevante no setor em que atua, assim como confio numa OSX redimensionada a partir de um novo cenário.

Sempre agi de boa-fé e sempre o farei. Acho que era isso o que mais gostaria de dizer e que, assim espero, sintetiza meu percurso empresarial nos últimos cinco anos. Com minha estrutura de capital equacionada, continuarei a empreender e tenho convicção de que ainda vou gerar riqueza novamente e deixar um país melhor com estes ativos que criei do zero. Eu talvez faça isso agora sem o mesmo peito aberto de antes. Talvez tenha confiado demais em pessoas que não mereciam esta confiança, ainda que no final a responsabilidade seja toda minha. Com certeza eu também não me submeteria à exposição pública excessiva de tempos recentes, da qual me arrependo sobretudo por haver exposto igualmente minha família e meus amigos a uma curiosidade indesejada.

O orgulho de erguer do nada tantas empresas em tempo tão curto me colocou no centro do palco e eu me vi como o porta-voz de um novo empreendedor, que não tem vergonha de expor suas conquistas e mostrar que é possível gerar riqueza e ao mesmo tempo contribuir com o desenvolvimento do país. Tenho consciência de que fui um símbolo para as pessoas, a representação de um Brasil que prospera, que dá certo e está preparado para desempenhar um papel de preponderância global. A destruição de valor dos meus negócios colocou por terra talvez o sonho de muita gente que acreditou na possibilidade de partir do zero e se tornar um empreendedor de sucesso. Espero que elas procurem enxergar o que deu certo em minha trajetória e peço que esperem alguns anos para uma avaliação mais definitiva do que terei sido capaz de construir com o apoio dos que acreditaram e dos que ainda acreditam em mim. Houve muitos acertos e eles ficarão mais evidentes em tempo não tão longo. Não me refiro apenas aos negócios propriamente ditos. Nestes últimos cinco anos, apoiei causas de naturezas diversas, que me levaram a investir centenas de milhões de reais próprios em projetos de interesse público e social ou mesmo de caráter humanitário, principalmente na Cidade do Rio de Janeiro, o que hoje é esquecido por muitos. Isso eu faria e farei novamente se estiver a meu alcance.

Nos últimos meses, meu obituário empresarial tem ocupado as páginas de blogs, jornais e revistas. Só posso dizer que me vejo muito longe deste Eike aposentado. Tenho 57 anos e muita energia para arregaçar mangas e tirar do papel novos projetos. Sou um empreendedor brasileiro, acredito no que faço, amo meu país. A cada dia, minha cabeça fervilha com ideias novas, que nascem do nada e tomam forma aos poucos. Eu me alimento desta capacidade de sonhar e de realizar. Empreender está no meu sangue, no meu DNA. É minha fonte inesgotável de energia e de vida.

O empresário Eike Batista é presidente e controlador do grupo EBX

 

 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Freio de arrumação

Publicado no Estadão desta terça-feira
 
Por DORA KRAMER
 
Há um mês, desde que saíram as primeiras pesquisas de opinião registrando queda na avaliação positiva da presidente Dilma Rousseff – inicialmente de sete e, em seguida aos protestos, de 27 pontos porcentuais – o governo vive sob o efeito de um choque de realidade ao qual ainda não se adaptou.

A popularidade não era inabalável nem a aliança política tão sólida quanto desenhava o cenário de reeleição garantida. A esse novo quadro é que, na avaliação corrente nas bancadas do PT na Câmara e no Senado, o Palácio do Planalto não está dando as respostas adequadas.
O governo caiu das nuvens, mas ainda não conseguiu firmar os pés no chão. Continua operando no modo antigo, trabalhando com tentativas irrealistas de mudar de assunto e de compartilhar responsabilidades sem se concentrar na questão principal que emergiu das manifestações.
E qual é a questão? A existência de um “sentimento oposicionista” (a expressão é de um petista) que atinge os políticos e governantes de modo geral, os de oposição inclusive, mas prejudica muito mais quem detém mais poder e, portanto tem mais a perder: o governo federal.
Por enquanto o referido oposicionismo é difuso e não foi para lugar algum. “Pode ir para qualquer um”, diz um deputado referindo-se às forças políticas que disputarão em 2014.
O receio de parlamentares do PT, no entanto, é que esse capital não possa ser recuperado pelo partido se o governo não se concentrar em tomar medidas concretas (e consistentes) na gestão da economia, na melhoria dos serviços públicos, na reconstrução do ambiente de confiança para o investidor, na segurança para o empresário.
De acordo com os que pensam assim, a hora não é de alimentar apelos pela candidatura do ex-presidente Lula – “é ruim para ele, para o governo e para o partido” – nem de insistir em propostas inexequíveis como a do plebiscito sobre reforma política em ritmo de passe de mágica, muito menos de se atritar com o Congresso.
O momento requer um freio de arrumação: parar de escrever por linhas tortas e andar em linha reta para reconquistar a sociedade governando melhor. A recuperação da competitividade eleitoral e a reconstrução das alianças políticas seriam consequências naturais.
 
Testemunho. Militar aposentado, Athos Cardoso envia a seguinte mensagem a propósito do uso de aviões da Força Aérea Brasileira por autoridades que se sentem autorizadas a cometer qualquer tipo de abuso.
 
Como coronel da ativa comandei o 4º Batalhão Especial de Fronteiras, guarnição mais a Oeste do Brasil, sediada em Rio Branco-AC. Foi de 1985 a 1988. A capital era a única do Brasil não ligada ao restante do Brasil por estrada asfaltada.
“Na época da terrível temporada de chuva amazônica, intransitável a rodovia, o rio ainda sem vazão para transporte fluvial; a cidade, isolada, só recebia suprimentos por via aérea. Faltava do óleo diesel ao papel higiênico.
“A família militar, com raríssimas exceções, passava quase dois anos na cidade sem viajar nas férias. As distâncias eram longas, as passagens aéreas inacessíveis. De ‘caronas’ pela FAB, nunca soube. Eu, o coronel comandante, viajava de Manaus para o Rio, com a passagem mais barata que existia. A do famoso ‘Corujão’.
“Assisto, indignado, à postura do senador Renan, político profissional, rico, cheio de mordomias, viajando de carona na FAB. Ele finge não ouvir o clamor das ruas. Enfrenta e afronta a opinião pública. Pergunto: pode um político como ele comandar as mudanças políticas de que o Brasil precisa?”.
 
Não poderia, não deveria nem estar onde está se o Congresso tivesse mais respeito pela opinião do público.