Colarinho branco e mãos vermelhas
Por Ricardo Galuppo - Publisher do jornal Brasil Econômico
O italiano Salvatore Cacciola, dono do extinto Banco Marka, ganhou liberdade condicional após cumprir parte da pena a que foi condenado por crimes cometidos na crise cambial de 1999.
Ontem à tarde, Cacciola saiu da prisão e, na forma da lei brasileira, poderá levar vida praticamente normal - desde que informe seus movimentos às autoridades e se apresente à Justiça sempre que chamado.
Já tem muita gente dizendo por aí que ele passou pouco tempo na cadeia e que aí está a prova definitiva do tratamento privilegiado que a Justiça brasileira concede a criminosos endinheirados. Que nada!
Em relação à pena inicial, de 13 anos, o tempo que Cacciola passou trancafiado parece uma eternidade diante dos poucos anos que outro italiano, o assassino Cesare Battisti, passou na penitenciária da Papuda, em Brasília.
Em junho, o Supremo Tribunal Federal concedeu-lhe o direito de não ser devolvido para a Itália, onde deveria cumprir prisão perpétua por quatro assassinatos a sangue-frio.
Na mesma semana em que Cacciola conquistou sua liberdade condicional, Battisti pôs as mãos nos documentos brasileiros que o autorizam a viver no país como cidadão de passado limpo. Vergonha não é o banqueiro passar pouco tempo atrás das grades. Vergonha maior é o assassino não passar tempo algum.
Cacciola cometeu seu crime no Brasil e, no instante em que se deu conta da impossibilidade de safar-se da Justiça, deu uma prova cabal de admissão de culpa. Não se defendeu: se mandou para a Itália, seu país natal, antes que o processo se encerrasse. Julgado à revelia, teria ficado livre da prisão caso não resolvesse passar uns dias em Monte Carlo.
O Brasil não tem acordo de extradição com a Itália - mas, no Principado de Mônaco, ele ficou ao alcance da lei e foi preso pela Interpol. Com Battisti, a história é diferente. Depois de matar quatro pessoas (nenhuma das quais colocava em risco a sua vida nem desafiava em suas convicções políticas), Battisti foi preso, escapou e, por caminhos tortuosos, chegou ao Brasil.
Julgado à revelia em seu país, foi condenado à prisão perpétua (mesma pena que muita gente reclama para quem pratica crimes hediondos por aqui). Ao descobri-lo curtindo a vida no Brasil, a polícia fez sua parte e o mandou para a cadeia - onde deveria esperar pelo julgamento do pedido de extradição do governo italiano.
Por obra e graça do advogado de Battisti, o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT de São Paulo, o caso foi tratado como questão de Estado pelo ex-ministro da Justiça Tarso Genro. E Battisti ganhou do governo Lula o direito de permanecer no Brasil, mais tarde ratificado pelo STF.
Cacciola acertou suas contas com a Justiça nos termos da sentença que o condenou, mas dificilmente se livrará da pecha de criminoso do colarinho-branco. E, sempre que seu nome for mencionado, haverá alguém para lembrar que ele, afinal de contas, era um banqueiro e, para os banqueiros, toda punição parece ser pouca.
Battisti, ao contrário, é visto como "ativista". Passará a ser saudado como escritor e suas mãos vermelhas de sangue logo serão lavadas pelos aplausos de quem acredita que ele estava, de fato, lutando por algum tipo de ideal.
Já estou começando pensar em gritar:
ResponderExcluirVIVA O REI - VIVA O REI
DEUS SALVE O REI - E VIVA A MONARQUIA PARLAMENTARISTA.
Já que é pra ter "rei", que sejam então os de direito. Não essa cambada de sanguesugas que se aboletaram no poder.
Você tá mais que certo meu nobre Rogério!
ResponderExcluirGrande abraço,
WXC