sábado, 23 de março de 2013

O país que não funciona

Cerca de 150 navios estão parados nos portos de Paranaguá e Santos, à espera da carga de soja e milho destinados à exportação. Por sua vez, as rodovias que conduzem a esses portos estão congestionadas de caminhões, que não conseguem chegar a eles para descarregar.

O país vive um apagão, decorrente da deficiência da infraestrutura logística para escoar a produção. Faltam armazéns na origem e nos portos para estocar a produção. Em consequência da demora, o valor dos fretes aumenta para o exportador e para o importador.

Nesta semana, a maior trading chinesa de soja cancelou a compra de 2 milhões de toneladas da produção brasileira. A China compra 70% da soja do Brasil. Deixaram de ser entregues 12 cargas em fevereiro e março, e a empresa avalia comprar a soja argentina.

O governo tem consciência da situação, tanto que lançou um programa de concessão de portos, ferrovias e rodovias à iniciativa privada para fazer escoar a produção. No entanto, está tudo ainda no papel, enquanto os trabalhadores dos portos ameaçam greve.

Para o governo, a crise é de produção. Em cinco anos, a produção de grãos aumentou 50 milhões de toneladas, estando projetada em 185 milhões de toneladas neste ano. Trata-se, então, de uma crise de fartura, a qual o governo não esperava.

Há anos que os analistas chamam a atenção do governo para a necessidade de realizar investimentos em infraestrutura. O custo Brasil é um refrão já velho. Não adianta ter preço competitivo na produção, se ele é onerado com os custos do transporte.

Diante da situação de impasse atual, quase nada é possível fazer. As decisões sobre investimentos são de longo prazo. O país precisava estar se preparando há mais tempo para a eventualidade de ocorrer uma supersafra. O risco é parte dela ficar encalhada e se perder.

O Brasil depende de seus portos, mas eles não funcionam.
Editorial do jornal  O TEMPO – 23 de março de 2013

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