O Visconde de Sinimbu definiu uma das funções importantes da atividade política:
“Temos uma missão mais elevada, que é educar a população. Ora, esta educação não pode ser feita senão pelo exemplo, que é a primeira lição, a primeira base de qualquer educação. O povo tem os olhos fitos nos seus homens de Estado, e se os vê dúbios, contraditórios, incertos, oscilantes em suas idéias, perde-lhes a fé e a confiança”.
D. Pedro II acreditava na eficiência cívica do bom exemplo, que compete ao monarca esclarecido oferecer aos seus súditos. Confiava no império da justiça, que orienta a atividade da nação para a plena consecução dos seus elevados ideais.Era um exemplo raro de soberano, do qual não se apontava, com provas convincentes, uma amante ou sequer uma protegida. Vivia, pode-se dizer, exclusivamente para o lar e para o País.Falando em 1921 a respeito de D. Pedro II, Rui Barbosa afirmou: “As suas virtudes eram muito maiores que os seus defeitos. D. Pedro era um padrão de moralidade, um farol penetrante que brilhava dos cimos do poder, exercendo com a vigilância de sua luz, quer sobre o Governo, quer sobre a administração, quer sobre o estado geral dos costumes, uma ação incalculavelmente saneadora”.
Como participante de uma companhia lírica, L.A. Segond esteve no Rio em 1857, e escreveu sobre a Família Imperial:
“O que há de notável aqui é a veneração unânime que o Imperador e a Imperatriz inspiram. Sua vida privada é sem mácula”.
Em julho de 1877 inaugurava-se em Londres a Caxton Exhibition, exposição organizada em honra de William Caxton, introdutor da imprensa na Inglaterra. Gladstone, um dos mais célebres estadistas ingleses, fez um discurso no banquete ao qual estavam presentes a Rainha Vitória e o Príncipe de Gales. Nesse discurso, ergueu o brinde protocolar – o chamado brinde da lealdade – à sua soberana e ao futuro rei da Inglaterra. Normalmente, nenhum outro brinde se poderia fazer. Contudo, Gladstone pediu licença, dizendo estar certo da aprovação não só da Rainha e de seu filho, mas de todos os presentes, pois desejava saudar o Imperador do Brasil.Dom Pedro fora dos primeiros a visitar a exposição, e mantivera longa palestra com o Primeiro-Ministro. Os jornais, no dia seguinte, assim resumiam as palavras de Gladstone:
“Esse homem – e posso falar com mais liberdade por estar ele ausente – é um modelo para todos os soberanos do mundo, pela sua dedicação e esforços em bem cumprir seus altos deveres. É um homem de notável distinção, possuidor de raras qualidades, entre as quais uma perseverança e uma capacidade de trabalho hercúleas. Muitas vezes começa seu dia às quatro horas da manhã, para terminá-lo tarde da noite. Atualmente, essas dezoito ou vinte horas de atividade diária, ele as emprega através do mundo, e em esforços constantes para adquirir conhecimentos de todo o gênero, que saberá aproveitar no regresso à pátria. E continuará, assim, a promover o bem-estar de seu povo. É o que chamo, senhoras e senhores, um grande, um bom soberano, que, pelo seu procedimento no alto cargo que ocupa, é um exemplo e uma bênção para a sua raça”.
Quando a Família Imperial deixava a terra brasileira, em 17 de novembro de 1889, o mesmo estadista Gladstone pronunciou um discurso no qual disse:
“Todos admitem que o homem excelente e distinto, ora derrubado do trono por essa revolução, não o deve certamente a qualquer falta pessoal. Aqui, nesta independente associação britânica, deixai-me prestar testemunho aos seus méritos. Tive a honra de apreciar algumas de suas qualidades pessoais, das quais ousarei dizer duas coisas: não há na Inglaterra, nem em Manchester, no mais suntuoso palácio do mundo, como na mais humilde choupana, não há homem mais ávido do que foi o ex-imperador do Brasil em adquirir todos os conhecimentos de útil aplicação. Nenhum monarca foi mais dedicado à felicidade do seu povo.Seu nome será distinto na História, e ainda que não caiba a mim dar parecer sobre as causas que produziram esta grande mudança em um país importante, estou inteiramente convencido de que entre elas não está a desaprovação do procedimento do Imperador, nem falta de afeição à sua pessoa”.
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