terça-feira, 7 de abril de 2009

Inveja


Inveja. Eis um dos sentimentos mais torpes e difíceis de serem eliminados da alma humana. Trata-se de um dos vícios que mais causa sofrimento à humanidade. Onde houver apego à materialidade das coisas, notadamente em seu significado, naquilo que o objeto de desejo simboliza em termos de bem-estar e status quo, aí estará a inveja, sobrevoando os pensamentos mais íntimos qual urubu ou abutre insaciável, esfomeado pela carniça. A cobiça é o seu moto-contínuo.A inveja, segundo Aurélio, “é o desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem. O desejo violento de possuir o bem alheio”. A inveja é, no vislumbrar de Francis Bacon, a paixão inquieta e acossadora que obriga a caminhar pelas ruas e não permite que fiquemos em casa. A inveja é a dolorosa busca de algo que nunca chegará. É assistir ao progresso alheio corroendo-se por dentro. É ficar, ao final, acorrentado à própria maldade, remoendo-se das úlceras adquiridas no decorrer da desprezível vida.O odioso sentimento está presente nos seres humanos, constituindo-se na principal causa dos fracassos de quem o possui. O invejoso está sempre preocupado com o semelhante que ascende no emprego, ganha melhor salário, possui um melhor carro ou casa... ou, simplesmente, uma família saudável. É uma espécie de ostracismo que tenta eclipsar os bons espíritos. Vã tentativa...A inveja é a paixão mais miserável e abjeta. O invejoso é o doente terminal lutando contra a inevitável morte. Apesar da obstinação dessa paixão humana, ela falece na escuridão e corrói o coração de quem a transporta. Ela maltrata seu possuidor, machuca, mata! É destruidora e fatal. A descrição da inveja feita por Ovídio é conclusiva: “A inveja habita no fundo de um vale, onde jamais se vê o sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas(...). Assiste com despeito aos sucessos dos homens e este espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma, e este é o seu suplício”. A inveja é a coirmã da maldade e do ódio. É trágica, é a mãe da maledicência e representa todo instrumento de não-realização pessoal. Para ser um pouco virtuoso (anote-se, um pouco), tem-se que suportar alguns ônus. A inveja é um desses ônus. Os destemidos ignaros e invejosos falam e falam, desprezam a razão, pleiteiam vencer aos berros (e não raro às avessas do direito), e não aceitam a história. Napoleão dizia ser a inveja a declaração tácita da inferioridade. O invejoso nunca perdoa o mérito.A melhor resposta ao invejoso é a prova de eqüidade nas ações na conduta. Vencidos, os homens são acorrentados à sua maldade. O repugnante sentimento torna-se um contrapeso à nossa negligência, à medida que nos vingamos utilmente daqueles, afligindo-os com o nosso próprio aperfeiçoamento moral. Os invejosos são-nos, dessa forma, úteis.A maioria das vantagens de uns sobre outros é inevitável. Ninguém tem a mesma oportunidade mental, pois todos nós nascemos mais ou menos inteligentes, mais ou menos neuróticos, mas ninguém vai compartilhar as mesmas oportunidades históricas e sociais. Nada adianta. Ao final, vence a humildade e a sabedoria, e o riso solitário dos medíocres cala-se para fazer ecoar a virtude e a verdade.


Querer tudo é como correr atrás do vento. Não se alcança nunca.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro William,acho que você abordou um tema que muitas vezes passa por despercebido entre nós.Espero que surja efeito a todos que tiverem a oportunidade de ler.Enquanto eu fazia a leitura do texto,pude refletir que as vezes até mesmo sem ter-mos a intenção"eu" acho que acabamos por invejar os outros,as vezes por pensamentos passageiros que logo passa,mas...não deixa de ser"inveja".Mas conheço pessoas que são capazes de coisas terríveis por sofrerem dessa "doença chamada inveja".Um grande abraço!Glória

William Xavier de Carvalho disse...

Concordo com você Gloria.As pessoas sentem inveja quando são incapazes de ver a luz, a alegria e o brilho das outras pessoas. O invejoso sempre culpa os outros pelos seus fracassos. Sua auto-estima é deficiente e a sua autoconfiança precisa ser desenvolvida. De posse dessa emoção devastadora – a inveja – a pessoa torna-se arrogante, amarga e egoísta, afastando de si mesma qualquer possibilidade de encontrar a paz.
Relato, para você um belo conto, de autor desconhecido, cujo título é:

”A inveja não brilha”.

“Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vaga-lume que só vivia para brilhar. Ele fugia com medo da feroz predadora e a cobra não pensava em desistir. No terceiro dia de fuga, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra: ´Posso fazer três perguntas?` A cobra respondeu, irônica: ´Não costumo abrir este precedente para ninguém, mas já que vou comê-lo mesmo, pode perguntar...` ´Pertenço à sua cadeia alimentar?` ´Não!` ´Fiz alguma coisa a você?` ´Não!` ´Então, por que você quer me devorar?` E a cobra respondeu, friamente: ´Porque não suporto ver você brilhar...`”