Nas “Cartas de Erasmo”, publicadas em 1865, José de Alencar dirige-se ao Imperador Dom Pedro II nestes termos: “Monarca, eu vos amo e respeito. Sois, nestes tempos calamitosos de indiferentismo e descrença, um entusiasmo e uma fé para o povo. Aproxima-se o cidadão livre e altivo de vosso trono, porque nunca aí se sentou a tirania; sua dignidade não se vexa ao inclinar-se para vos beijar a dextra, que tem feito tanto bem a inúmeros infelizes e assinado só perdões e indultos, porque em vós acata ele o pai da Nação. Na cúpula social, onde estais colocado, sois para a sociedade brasileira mais do que um rei, sois um exemplo. Bem poucos monarcas poderão dizer como D. Pedro II: 'Nunca abri o meu coração a um sentimento de ódio, nunca pus o meu poder ao serviço de vinganças'”.
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Uma tremenda crise financeira assoberbava o País, em 1858. Apareceram então no “Jornal do Comércio” alguns artigos tratando de economia política, assinados sob o pseudônimo de “Veritas”, nos quais se patenteava a competência do seu autor. O Imperador Dom Pedro II encarregou o presidente do Conselho de Ministros, Limpo de Abreu, de indagar quem era o autor desses artigos, e convidá-lo a assumir a pasta da Fazenda.Dois dias depois, durante o despacho ministerial, o Imperador perguntou pelo resultado da incumbência, ao que o ministro comentou:-- Se Vossa Majestade soubesse quem é o “Veritas”...-- Basta! Já sei, já sei... Bem vejo que os senhores não me conhecem. Sr. Presidente do Conselho, quando lhe confiei essa delicada missão, eu já sabia que “Veritas” é o pseudônimo do Dr. Francisco de Salles Torres Homem, o Timandro, autor do “Libelo do Povo”, livro onde eu, minha mulher e minhas filhas somos cruelmente tratados. Mas eu não posso colocar os meus sentimentos pessoais acima dos interesses do meu povo. Atravessamos uma crise econômica e financeira das mais agudas, e esse homem parece dispor dos meios para atenuá-la, senão vencê-la. Vá convidá-lo em meu nome a vir à minha presença.No dia seguinte, a pasta dos negócios da Fazenda era confiada à competência do violento panfletário. Ao apresentar-se ao Imperador, e tornando-se ministro, teria declarado:-- Senhor, para os grandes crimes, as grandes expiações...A imprensa da oposição foi implacável com o seu correligionário da véspera, que no entanto resolveu em pouco tempo o complicado problema financeiro. Vendo-o diariamente batido pelos amigos e invejosos, que não lhe perdoaram o fato de ter posto o seu grande talento e aptidões a serviço da Pátria, o Imperador foi de uma generosidade além das próprias ambições do novo estadista: deu-lhe o título de Visconde de Inhomirim, mandou nomeá-lo depois ministro plenipotenciário e enviado extraordinário junto a uma das mais brilhantes cortes européias, e na primeira oportunidade escolheu-o para o cargo vitalício de senador do Império.
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