quarta-feira, 7 de junho de 2017

Aeródromo para atender Inhotim avança

Luiz Tito, Vittorio Medioli, Bernardo Paz e Antonio Grassi na expectativa da criação na nova infraestrutura aeroportuária que vai beneficiar o museu e o polo industrial de Betim

Na última sexta-feira, um almoço importante aconteceu naquele que é considerado o maior e mais conceituado museu de arte moderna do Brasil: o Inhotim, em Brumadinho. De um lado, o idealizador e fundador, Bernardo Paz, e, do outro, o prefeito de Betim, Vittorio Medioli. Ambos unidos no objetivo de criar uma infraestrutura aeroportuária que possa beneficiar a região mais industrializada de Minas e que possibilite um acesso fácil para o Inhotim.
O empreendimento já tem autorização da Anac e conta com um grupo de investidores determinado a construir um aeródromo executivo que possa atender o polo automotivo e petroleiro sediado em Betim. Paz e Medioli acertaram que o aeródromo levará o nome do museu e contará com um terminal privativo de acolhimento dos turistas que desembarcarem com destino a Brumadinho.
O aeródromo dará um novo impulso ao Inhotim, que está trabalhando na construção de quatro hotéis e de uma estrutura de entretenimento artístico, que se somarão ao já famoso acervo artístico e paisagístico.
O projeto terá uma área paisagística e uma construção inspirada no próprio museu e deverá acolher por ano mais de 2.000 voos executivos de visitantes. O aeródromo entrará também no circuito de aviação regional de Minas Gerais.
A Codemig, que vem investindo na ligação de voos entre municípios de Minas, será parceira desse projeto, conforme anunciou o prefeito de Betim. As bases da parceria ainda estão em fase de negociação, mas já receberam sinal verde do governador Fernando Pimentel.
O aeródromo atenderá a forte demanda executiva e regional represada e que deixou a região “abandonada”. Mais de 30 empresas de médio e grande porte estão na fila para hangaragem de aeronaves e, ainda, médias empresas de manutenção de aviões na classe executiva.
FONTE: O TEMPO - Coluna MINAS S/A


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Colgate pode estar à venda, atraindo Unilever e 3G de Jorge Paulo Lemann


De acordo com o The New York Post, o CEO da Colgate, Ian Cook, disse a investidores que estaria aberto a uma venda da empresa a US$ 100 por ação, que ontem fechou a US$ 71,58.

A declaração teria sido feito numa reunião com investidores institucionais há algumas semanas.

A Colgate já está em alta de 5% no pre-market da Bolsa de Nova York.

Recentemente, o mercado começou a especular sobre uma possível oferta da Unilever pela Colgate.

Mas, depois que a Kraft Heinz fez sua oferta pela Unilever e sinalizou que está expandindo seus alvos da categoria mais estreita de ‘alimentos' para 'produtos de consumo', não seria surpresa se uma venda da Colgate gerasse uma disputa entre a Kraft e a própria Unilever.

Em tese, numa guerra de ofertas, a 3G teria condições de pagar mais caro, já que sua capacidade de cortar custos é muito mais reconhecida que a da Unilever, para dizer o mínimo.


O Post sugere que um terceiro comprador da empresa poderia ser a Procter & Gamble, hoje sob a influência do ativismo do investidor Nelson Peltz.

O jornal ainda cita a Johnson & Johnson e uma parceria entre Warren Buffett e a 3G Capital, mas, dado o que transpirou depois da oferta da Unilever, parece improvável que a 3G fizesses esta aquisição se não por intermédio da Heinz.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Bitcoin bate novo recorde e já vale mais de US$ 2,2 mil


bitcoin bateu um novo recorde nesta segunda-feira, atingindo a marca dos 2,2 mil dólares. Por volta das 15h30, o preço da moeda digital estava em torno dos 2.266,22 dólares, de acordo com o índice de preços da Coindesk.
Curiosamente, a primeira transação feita com bitcoin completa exatos setes anos hoje. Em 22 de maio de 2010, um programador chamado Laszlo Hanyecz gastou 10 mil bitcoins,  equivalentes na época a pouco mais de 25 dólares, na compra de duas pizzas. Hoje, essas seriam as pizzas mais caras do planeta.

Disparada

O rali da bitcoin parece não ter fim.  De janeiro para cá, a criptomoeda acumula alta de mais de 120%. Só hoje, a valorização é de 9%.
Alguns fatores ajudam a explicar a disparada. Um deles é o aumento do interesse dos japoneses, depois que o governo do país regulamentou a utilização da criptomoeda como forma de pagamento. A companhia aérea Peach Aviation, por exemplo, informou hoje que será a primeira no Japão a aceitar a bitcoin na compra de bilhetes.

A busca por outras moedas virtuais, como o ether, também estaria influenciando os preços. Como as transações são feitas em bitcoin, o preço da criptomoeda mais conhecida entre investidores aumenta conforme a demanda pelas outras.  
Além disso, os investidores seguem otimistas com as chances da SEC (o órgão que regula o mercado mobiliário nos Estados Unidos) aprovar a criação do primeiro ETF atrelado à moeda.
Além do Japão e dos Estados Unidos, a China, Rússia e o México estão em processo de regulamentação de leis sobre o uso de moedas digitais.

Liberdade de imprensa

A imprensa só deve ser livre, no entendimento do PT, quando informa “corretamente”. E só deve ser livre para ser correta, dentro do seu raciocínio, quando quem decide o que é correto ou não é o PT. A imprensa independente e profissional não faz mais do que cumprir a sua obrigação. É a mesma imprensa fazendo as mesmas coisas que os atuais críticos aplaudiam, quando as denúncias eram sobre a compra de votos para a reeleição de FHC, a Pasta Rosa,o Sivam, os grampos das conversas dos articuladores da privatização da Telebrás, as denúncias de Pedro Collor contra a corrupção do governo do irmão Fernando, a compra do Fiat Elba com o dinheiro de PC Farias- etc,etc,etc. A imprensa de então, embora fosse a mesma e fizesse as mesmas coisa, não era golpista- era altiva, isenta, equilibrada e independente. 

Como o império político de Aécio ruiu em Minas Gerais



Traições, alianças rompidas, censura e crise econômica minaram hegemonia local do ex-governador.




Há quatro anos, o maior líder político mineiro das últimas duas décadas dava sua primeira cartada para lançar-se à tão sonhada Presidência da República. Aécio Neves acabava de ser eleito presidente nacional do PSDB, com quase 100% dos votos. O ato simbólico de largada para assumir a cadeira que o avô Tancredo esteve prestes a ocupar no período da redemocratização encobria, no entanto, a incipiente perda de força do tucano em seu reduto eleitoral. A gravação de Joesley Batista, que flagra Aécio pedindo propina de 2 milhões de reais, é apenas o golpe de misericórdia sobre o corroído capital político que restava ao ex-presidenciável depois de ter sido engolido pelas delações da Odebrecht na Operação Lava Jato.

Desde que iniciou o primeiro mandato como governador, em 2003, o neto de Tancredo adotou um perfil distinto do avô, que notabilizou-se pela liderança personalista. Embora tentasse se vender como estadista, Aécio tinha como virtude a repartição do poder em diversas frentes, sobretudo no interior de Minas Gerais. “Aécio é um facilitador, nunca foi protagonista”, afirma o cientista político Rudá Ricci. Com maioria na Assembleia Legislativa e o controle do orçamento, o governador conseguia direcionar recursos para núcleos sob sua influência no estado, que reuniam não só a base aliada, mas também políticos identificados com o governo federal.
A afinidade com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não demonstrava puramente o estilo pacificador, mas também uma estratégia para ampliar seu campo de atuação. “O aecismo, que se formou em torno de um quebra-cabeça, tinha a capacidade de aglutinar forças antagônicas. Dava poder a partidos de oposição e conciliava famílias rivais pelo interior. Depois de sua experiência como deputado federal, Aécio levou a pequena política do baixo clero do Congresso para o estado. Essa estrutura lhe garantiu por muitos anos um status de intocável”, analisa Ricci. A favor do tucano também pesava a juventude e a projeção nacionalque ganhara como presidente da Câmara dos Deputados. “Depois de Tancredo, Aécio foi o primeiro representante do executivo mineiro com envergadura de presidenciável”, diz Bruno Reis, professor de ciências políticas da Universidade Federal de Minas Gerais. “Ele simbolizava as pretensões da elite e dos setores econômicos.”

Para consolidar sua força, a verve aglutinadora de Aécio alcançou proezas que o conduziram ao pedestal de um semideus. Primeiro, uniu PSDB e PT para emplacar o desconhecido Márcio Lacerda, do PSB, na prefeitura de Belo Horizonte. Em seguida, garantiu a eleição de Antonio Anastasia, sem nenhum lastro na política, como seu sucessor no governo enquanto se lançava ao Senado. A esta altura, ele já havia protagonizado os fenômenos “Lulécio” e “Dilmécio”, em que vários prefeitos do interior apoiavam o PSDB no estado e, ao mesmo tempo, o PT, no plano nacional. As seguidas mostras de domínio nas entranhas mineiras o deixaram confiante para resgatar o ex-ministro Pimenta da Veiga do ostracismo e escolhê-lo para a sucessão de Anastasia em 2014.

Segundo antigos aliados, esse teria sido o erro capital de sua trajetória política. A escolha foi vista como uma traição ao deputado federal Marcus Pestana, regente de um importante núcleo eleitoral na Zona da Mata mineira e candidato natural ao governo. “O Aécio não traiu somente o Marcus Pestana, mas toda a rede que ele liderava no interior, que foi rapidamente desarticulada. Na campanha, havia prefeitos ligados ao Pestana posando para fotos com o Fernando Pimentel [candidato do PT que acabou superando Pimenta da Veiga no primeiro turno]. Foi um erro grosseiro de cálculo político”, afirma Ricci. Para Bruno Reis, “as conquistas que obteve em Minas subiram um pouco à cabeça de Aécio, que cedeu à tentação de tirar um nome do bolso do colete para se manter influente no governo”.

Deterioração do aecismo.

Em pouco mais de uma década à frente do executivo, a administração que propalava o famoso “choque de gestão” fez de Minas o segundo estado mais endividado do país e perdeu o fôlego para investimentos em áreas-chave como saúde, segurança e educação. “O modelo do Aécio se restringia às relações econômicas e negligenciava as políticas. A partir do momento em que se fecha a torneira e o dinheiro acaba, essa estrutura não se sustenta mais”, avalia Ricci. Do Congresso, em meio à guerra declarada com o PT e a concentração de esforços para derrubar Dilma, Aécio tampouco conseguia atender às demandas estaduais com emendas parlamentares, o que desagradava ainda mais os apoiadores que seguiam ao seu lado após a derrota. “Aécio sempre foi um insider da política, de postura centrista”, diz Reis. “Ao partir para o ataque contra o PT, ele saiu de seu hábitat e fez do impeachment a última cartada pela presidência. Mas, como tinha retaguarda vulnerável, acabou se expondo demais.”

Nesse ponto, a corrida presidencial deixou feridas jamais escancaradas em seu berço eleitoral. Contando com a mão de ferro da irmã Andréa Neves, que desempenhou o papel informal de articuladora política durante o governo, Aécio domava a grande imprensa mineira de acordo com seus interesses. Tinha relacionamento próximo com proprietários de meios de comunicação, como Flávio Jacques Carneiro, antigo dono do jornal Hoje em Dia, que, segundo delação de Joesley Batista, teria se reunido com o empresário para tratar de propinas destinadas à campanha do tucano. O bom trânsito na imprensa do estado, historicamente alinhada a governos de diferentes orientações partidárias, somado à dependência das verbas de publicidade estatal, construiu uma blindagem praticamente impenetrável em torno de Aécio. Vários jornalistas mineiros despedidos durante a proeminência do aecismo atribuem a demissão a exigências de Andrea Neves. De acordo com o Sindicato de Jornalistas de Minas Gerais, ela “exercia forte controle sobre as publicações no estado e perseguia críticos de Aécio”.

Horas depois da prisão de Andrea, que teria negociado pessoalmente com Joesley os 2 milhões de propina repassados por meio de Frederico Costa, primo de Aécio, dezenas de jornalistas promoveram um encontro no sindicato para celebrar o que chamaram de “Dia da Liberdade de Imprensa em Minas Gerais”. Foi justamente nesse contexto de insatisfação velada nas redações que tornou-se praxe ao longo da campanha presidencial o que repórteres apelidaram, em tom irônico, de “tráfico de matérias”. Muitas vezes guiados pela autocensura, a fim de evitar colocar o próprio emprego em risco, profissionais repassavam informações que pudessem comprometer Aécio a veículos de outros estados. Jornais nacionais começaram, então, a publicar reportagens que dificilmente ganhariam espaço em Minas, como a história do aeroporto construído com recursos públicos em um terreno da família do senador, na cidade de Cláudio.

Fora da zona de conforto, diante de uma artilharia que nunca havia experimentado, Aécio e o clã liderado por Andrea Neves reagiam de forma pouco republicana à circulação de notícias negativas que afetavam até mesmo o lado mais íntimo do senador. No começo de 2014, por exemplo, a Justiça negou um pedido para barrar buscas na internet que relacionavam o nome de Aécio ao uso de drogas. A imagem desgastada também comprometeu a capacidade de angariar recursos para as campanhas do PSDB no estado, tanto que o pleito à Presidência deixou uma dívida superior a 15 milhões de reais para o partido. Ainda segundo a delação de Joesley, a JBS teria repassado pelo menos 60 milhões de reais em propinas para a campanha de Aécio. “Esse escândalo é a concretização do desgaste que se desenhava há alguns anos. O declínio de Aécio deixa um vácuo de lideranças políticas sem precedentes na história de Minas”, afirma Rudá Ricci. Por determinação do Supremo Tribunal Federal, Aécio Neves foi afastado do cargo no Senado, pode ter o mandato cassado e ainda é acusado de tentar obstruir investigações da Lava Jato. A defesa do tucano alega que o pedido a Joesley se tratava meramente de um empréstimo para fins pessoais.

quinta-feira, 2 de março de 2017

3G Capital de Jorge Paulo Lemann tem US$ 15 bilhões para próximo grande negócio


O fundo criado no fim do ano passado pela 3G Capital, a empresa de investimentos de Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, já conta com mais de US$ 15 bilhões (R 46,7 bilhões). O objetivo inicial era levantar US$ 10 bilhões com investidores privados e a cota mínima para entrar no negócio havia sido estabelecida em US$ 100 milhões (R$ 311,1 milhões) e nenhum centavo a menos. Gisele Bündchen e o tenista Roger Federer estão entre os que fizeram o aporte.
A 3G esteve por trás daquela que teria sido uma das maiores transações da história – a compra da Unilever pela Kraft Heinz por mais de US$ 143 bilhões (R$ 444,9 bilhões). A oferta de aquisição foi feita pela Kraft Heinz, que é controlada pela empresa de investimentos e pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, à companhia anglo-holandesa na semana passada, mas não foi aceita e acabou sendo retirada. O apetite de Lemann e companhia por marcas globais, no entanto, continua grande.

Por que empresários bem sucedidos são corruptos? Harvard responde



O que leva empresários e executivos bem-sucedidos a enveredar por caminhos ilícitos? Para Eugene Soltes, da Harvard Business School, tem menos a ver com cobiça e falta de caráter do que se pensa. A distância física e psicológica das vítimas faz essas pessoas perderem a noção do estrago que podem causar
Por Paulo Vieira para a revista Poder de fevereiro
Não faltariam personagens no Brasil. E tampouco nos Estados Unidos, país onde está grande parte dos empresários e executivos citados no livro Why They Do It: Inside the Mind of the White-Collar Criminal (PublicAffairs, não lançado por aqui), que tenta explicar por que profissionais extremamente bem-sucedidos enveredam pelo caminho do crime corporativo. Seu autor, Eugene Soltes, professor da Harvard Business School, fez longo inventário sobre o surgimento desse crime e entrevistou gente que botou para quebrar, como Bernard Madoff, condenado a 150 anos de prisão por ter montado um esquema de pirâmide que levou seus investidores a um prejuízo de pelo menos US$ 18 bilhões. Mesmo na cadeia, Madoff não sossegou: monopolizou a compra do chocolate instantâneo para vender o produto com ágio para os colegas e, segundo se noticiou, recentemente levou um tapa de outro detento por mexer na posição da TV sem autorização dos “parças”.
Se até o fim dos anos 1960 despachar empresários e altos executivos para a cadeia era algo francamente desconfortável, no começo do século 21, em um período de apenas cinco anos, 200 CEOs, 50 CFOs e 120 vice-presidentes foram condenados por crime do colarinho branco nos Estados Unidos. Ainda assim, a corrupção cresceu nas corporações. Para Soltes, empresários e executivos fazem isso menos por cobiça ou por serem essencialmente maus, mas por não verem dano associado às suas ações e por estarem física e psicologicamente distantes de suas vítimas.
Nesta entrevista exclusiva a PODER, Soltes fala sobre o crescimento do crime corporativo no mundo, diz ser “encorajador” ver sinais de que países como o Brasil vêm tentando cada vez mais lidar com o problema, acha que os sistemas de compliance podem falhar na proteção dos funcionários e ainda tenta responder a uma pergunta que não quer calar: a Odebrecht vai sobreviver?
PODER: Em seu livro, o senhor mostra de que forma executivos trilharam caminhos em direção ao crime do colarinho branco. Há uma coleção grande de exemplos. Mas uma questão ficou, e ela é justamente o leitmotiv da obra: por que fizeram isso? Se tivesse de escolher uma única razão, qual seria?
EUGENE SOLTES: Executivos não veem o dano associado às suas ações ao tomar decisões passíveis de serem criminalizadas. No crime do colarinho branco, as vítimas estão distantes física e psicologicamente. Como resultado, não há o mesmo sentimento que se tem quando se inflige o mal às vítimas dos crimes comuns.
PODER: Ocorre no Brasil uma enorme investigação relacionada a crimes perpetrados por políticos e seus financiadores em companhias privadas ou estatais. O controlador da Odebrecht, maior empreiteira do país, por exemplo, está na cadeia e mais de 70 executivos assinaram acordos de delação premiada. Comparadas às empresas que o senhor estudou, acha possível que a Odebrecht mantenha sua força depois da investigação?
ES: Há companhias que conseguiram se recuperar. Computer Associates e Tyco, por exemplo, tiveram seus executivos condenados e encarcerados e seguiram fortes. Nas que conseguem sobreviver, a atividade-fim é sólida, e a fraude ou não faz parte do negócio (desfalques financeiros, por exemplo) ou não é aplicadacom o intuito de sustentar a empresa (como na pirâmide montada por Bernard Madoff). O desafio que a Odebrecht e outras empresas nessa situação enfrentam é que sua capacidade de manter contratos e de atrair novos negócios pode se reduzir por conta da corrupção interna. Companhias sólidas podem cair se clientes considerarem preocupante fazer negócio com elas. Nos Estados Unidos, organizações muito maiores que a Odebrecht estão indo à bancarrota por conta de alegações de fraude e de corrupção.
PODER: Se Bernard Madoff pudesse liderar uma companhia novamente, ele montaria outra pirâmide? Pessoas que incorrem em crimes do colarinho branco aprendem com seus erros ou esse comportamento é compulsivo?
ES: Não creio que Madoff tenha premeditado a criação de um esquema de pirâmide. Seu caso é trágico porque, como outros executivos com quem tive contato (para escrever o livro), ele é genial. Seu brokerage business (negócio que assessora na compra e na venda de ações) é responsável por inovações importantes em diversos mercados financeiros. Ao mesmo tempo, criou um sistema fraudulento. Quando a pressão era grande, em vez de parar, ele cavou mais fundo. Em outra vida e em outro mundo, talvez pudesse ser lembrado como um grande líder do sistema financeiro.
PODER: Dois casos de executivos condenados e presos citados em seu livro, Rajat Gupta, da consultoria McKinsey, e Scott London, da KPMG, levam a crer que não é dinheiro nem mesmo vantagens pessoais que conduzem ao crime corporativo. O que seria, poder? Amizade?
ES: As razões são diversas e incluem amizade e
lealdade. Mas esses dois executivos bem-sucedidos não premeditaram ações criminosas. Há um caminho escorregadio que leva de um ponto a outro. Quando eles perceberam o que haviam feito já estavam envolvidos em ações de enorme repercussão.
PODER: Como as companhias podem desenvolver antídotos para os crimes do colarinho branco?
ES:  A eliminação total desses crimes nas corporações é inviável. Os custos altíssimos talvez criassem mais dano. Mas não se deve aceitar o nível atual de infrações. Um dos principais desafios está no fortalecimento da cultura corporativa. É comum firmas criarem sistemas de compliance que são mais focados em regras do que em proteger seus funcionários. Vejo muitas pessoas inteligentes e bem intencionadas engajando-se em atividades criminosas não por terem se tornado más, mas por sucumbir às circunstâncias, aos estímulos e às pressões que as cercam.
PODER: Depois que o senhor terminou de escrever seu livro algo mudou no mundo do crime corporativo?
ES: Acredito que houve um incremento da preocupação com essa questão no mundo. Historicamente, Estados Unidos e Reino Unido sempre estiveram na linha de frente do combate à corrupção corporativa. Agora vemos outros países lidando com esses problemas, e o Brasil é o mais proeminente deles. Acho isso muito encorajador.