sexta-feira, 16 de maio de 2014

Quero meus quadros de volta

 Paulo Geyer ,um exemplo de filantropo e Brasileiro

A revista "Época" número 832,trouxe reportagem especial de quatro páginas,com o título "Quero meus quadros de volta",sobre a disputa judicial envolvendo os herdeiros do empresário Paulo Geyer e o Museu Imperial de Petrópolis. Paulo Geyer realizou a maior doação já feita no Brasil em 1999,a sua mansão no Cosme Velho com todo o recheio de quadros,móveis e livros. Após a sua morte em 2004,os filhos se dividiram e começaram a manipular a viúva Maria Cecília,de 92 anos, ocasionando uma disputa judicial escandalosa. A reportagem alega que muitos quadros já foram retirados da mansão e dispersos pelas residências dos parentes questionadores da doação,tendo como cabeça, Maria Geyer. Uma falta de respeito à memória e vontade de Paulo Geyer, um exemplo de filantropo e Brasileiro.

Socialismo para milionários

Socialismo para milionários

Por Marcos Troyjo

Pego emprestado título de um livro de Bernard Shaw para esta coluna. A frase é perfeita para descrever o atual frenesi em torno da dualidade "crescimento-desigualdade".
Duas investidas recentes acirram o debate. A primeira é o Índice de Progresso Social (IPS), que busca aferir o desenvolvimento relativo dos países sem utilizar o referencial do PIB. A segunda, a acalorada recepção ao "Capital no Século 21", de Thomas Piketty.
A repercussão de ambos é multiplicada, na Europa e nos EUA, pelos traumas não curados da Grande Recessão –sobretudo as elevadas taxas de desemprego.
Tanto o IPS quanto o "Capital" de Piketty apontam para a prevalência do investimento social "para além do crescimento da economia". Convidam a retomar a questão da moralidade do capitalismo. Repisam (sobretudo em Piketty) a desproporção nas remunerações a capital e trabalho como principal obstáculo ao bem-estar social.
De acordo com esses apontamentos, a desigualdade, mal maior do capitalismo, poderia remediar-se com maior carga tributária e mais investimentos "no social".
Sem entrar demais nos altos e baixos do IPS ou de Piketty, minha percepção é que ambos devem interessar mais a países avançados do que a nações em desenvolvimento. É papo para ricos.
Dos países que ocupam as 20 primeiras posições do IPS (em que supostamente o PIB não conta), todos apresentam renda per capita anual superior a US$ 30 mil. Ainda assim, mesmo para os que já se desgarraram da armadilha da renda média, como sustentar amplo acesso a educação e saúde pública sem crescimento ao longo do tempo?
Nesse contexto, o atual debate sobre desigualdade reflete, de ponta-cabeça, a binária consideração de "crescimento" ou "austeridade" como alternativas para países em crise de dívida soberana, caso da Europa mediterrânea em 2011.
Há mérito na crítica à inércia patrimonialista no Ocidente. As soluções tributário-distributivistas apontadas por Piketty, contudo, não tratam de questão –importante o suficiente para os ricos– e absolutamente essencial para países em desenvolvimento. Que padrão de economia política adotar para, ao final do dia, gerar excedentes que custeiem os trampolins sociais?
Decepciona, em Piketty, não ver referência a "empreendedorismo", "competitividade", "start-ups", "papel da inovação", ou à "destruição criativa" de Schumpeter.
A principal tensão do mundo contemporâneo não advém do conflito distributivo entre capital e trabalho. O cabo de guerra é entre empreendedores e burocratas, seja na forma da grossa camada de gestores cujo intuito é a autopreservação ou nas inúmeras esferas estatais que esclerosam o dinamismo econômico.
Para países como o Brasil, o grande desafio é encontrar seu próprio modelo de capitalismo competitivo que o permita pagar o preço da civilização.
Deixemos para amanhã manuais de instalação de um "Welfare State 2.0", como o IPS ou o tijolo de Piketty. Concentremo-nos, agora, nas lições de Acemoglu e Robinson em "Por que as Nações Fracassam".


 

 

Piketty e o debate da desigualdade

A novidade do economista francês, contida em ‘O capital no século XXI’, é a profundidade e a solidez empírica da pesquisa que sustenta suas conclusões

Não é difícil entender a entusiástica defesa de uns e a cara feia de outros diante das conclusões de “O capital no século XXI”. O livro do economista francês Thomas Piketty, fenômeno editorial global, com edição em português prevista para o fim do ano, afronta pelo menos dois pilares do conservadorismo econômico.
Sustentado em robusta base de dados, que passou por tratamento estatístico original, Piketty chacoalha a ideia de que o crescimento econômico por si só é capaz de reduzir as desigualdades sociais. Abala também, num corolário da primeira afirmativa, a crença de que a meritocracia, apenas por ela mesma, conduz à ascensão social.
O economista é o arauto atualizado da previsão do retorno da economia global ao padrão de expansão desigual que caracterizou o “capitalismo patrimonial” de fins do século XIX até a Primeira Guerra Mundial, em que se formaram ou se consolidaram grandes heranças. Colabora, assim, para erodir o mito de que esforço e talento individuais são suficientes para assegurar mobilidade social.
São bem antigos os estudos sobre o caráter concentrador, tanto de renda quanto de ativos e mercados, da dinâmica capitalista. A novidade trazida pelo economista francês, que está no centro de uma avassaladora disseminação do debate sobre as desigualdades econômicas e sociais, é a profundidade e a solidez empírica da pesquisa que sustenta suas conclusões.
Bem antes de “O capital no século XXI” já se sabia que o sistema funcionava assim. A realidade da estrutura dos mercados, nos dias de hoje, em que a ação dos oligopólios precisa ser confrontada por agências reguladoras e órgão de defesa da concorrência, só pode ser contestada por meio de contorções ideológicas.
No caso das desigualdades pessoais de renda, o mundo real oferece inúmeros exemplos tão evidentes quanto. Um dos mais gritantes não deixa esquecer que, embora a produção de comida há muito seja suficiente para garantir a nutrição de toda a população mundial, metade dela ainda vive em estado de insegurança alimentar, e pelo menos um em cada dez seres humanos vivos passa fome.
A persistência dessa mancha civilizatória deveria ser suficiente para reduzir a uma curiosidade acadêmica o debate, agora reaceso, que opõe crescimento econômico e redução das desigualdades, como caminhos preferenciais — e excludentes — para o bem-estar geral. Mas não é isso que ocorre.
Parece quase intuitivo que o capitalismo, como um avião, artefato feito para voar, não para cair, é eficiente na produção de riqueza, mas não opera tão bem na sua distribuição, exigindo a adoção de políticas ativas que a promovam. É em socorro dessa percepção, rejeitada por visões mais conservadoras, que comparecem agora os achados históricos e as teses de Piketty.
Além de insistir na crença distributiva do crescimento, a visão conservadora ainda se agarra a teorias segundo as quais políticas distributivas o inibem. Mas, diferentemente de um avião, que, se fosse privilegiar elementos capazes de minimizar os impactos de uma queda, talvez nem conseguisse voar, a economia pode se beneficiar de esforços para reduzir as desigualdades.
Até o FMI, tido como um baluarte do status quo e do conservadorismo econômico, abriu espaço para a produção de um estudo que sustenta essa afirmação. Em “Redistribution, Inequality, Growth” (http://migre.me/iXU2G), publicado em fevereiro deste ano, os autores não só concluem que, dentro de certos limites, ações em favor de maior igualdade ajudam o crescimento, como constatam que o aumento da desigualdade acaba por restringi-lo.

* José Paulo Kupfer é jornalista

terça-feira, 13 de maio de 2014

Conselho da Petrobras

O empresário Jorge Gerdau, que foi conselheiro da Petrobras na época em que a estatal comprou Pasadena, admitiu, durante o Fórum de Comandatuba do Lide (BA), que o negócio foi incerto. “Naquele momento tinha excesso de gasolina, abundância de álcool e a Petrobras estava com superávit. O petróleo do Brasil é pesado e para aumentar a renda da Petrobras tinha que fazer a refinaria lá fora para poder vender gasolina valorizada”. Agora, Gerdau defende um reajuste no combustível para salvar a estatal dos prejuízos. “O combustível tem que subir a patamares internacionais, igual no mundo todo”.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Das nuvens ao pó

Das nuvens ao pó
 
Por Vittorio Medioli

Fiquem atentos àqueles indivíduos momentaneamente afortunados que ocupam os lugares mais poderosos do Estado considerando-os eternos.

Os caprichos do destino são infinitos, espreitam os voos dos Píndaros. O calor do sol já derreteu inapelavelmente a cera das asas de Ícaro, mesmo quando usava avião a jato.

Nunca fez mal a humildade verdadeira, não a humildade de fachada que um bom ator pode interpretar e costuma interpretar quando precisa de votos, apoios e favores.

Nas alturas do poder, qualquer pedra que se desprende da encosta pode gerar uma avalanche, uma hecatombe de fiéis seguidores. Cada passo tem que ser firme e cuidadoso em razão não só da meta, mas da forma que se pretende alcançá-la. O custo pode ficar alto demais.

Napoleão Bonaparte, dono da Europa inteira, morreu em Santa Helena, pobre, sozinho e envenenado. Adolf Hitler, outro dominador de meio mundo, se suicidou num bunker em Berlim. Benito Mussolini, Júlio César, Getúlio Vargas e muitos outros tiveram em comum sucessos fantásticos e fins trágicos.

Erros de avaliação? Crença em que as vitórias pudessem se reproduzir ao infinito? Confiança excessiva? Distanciamento da realidade? Feitiço de poder?

Claro que o epílogo trágico passou por um descuido. Frequentemente por grave descuido, em outros por um banal descuido ou por uma empáfia que se apoderou da razão.

O genial Maurice Leblanc coloca nos lábios de sua criatura literária, Arséne Lupin – o mais atraente, o mais habilidoso, o mais elegante, o mais astuto de todos os ladrões já concebidos –, a confissão no auge do sucesso: “Em certos instantes, a minha força me faz girar a cabeça. Fico ébrio de poder e autoridade”.

Ficar arrebatado pelo enlevo, de certa forma, é o “risco” maior que segue como sombra as pessoas que alcançaram grande poder em curtas temporadas e não conseguiram consolidá-lo nas circunstâncias menos favoráveis.

Faz lembrar aquele vento que atingiu de surpresa o ocupante da torre de marfim e o fez cair das nuvens para o pó mais indigesto da terra.

Tem gente que considera que ficará eternamente de um lado do balcão.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Inscrições para Seminário de Inclusão Social e Cidadania de Juiz de Fora estão abertas

 Click na imagem para ver ampliado

Colocar em pauta importantes questões sociais do Brasil é o objetivo da segunda edição do Seminário de Inclusão Social e Cidadania de Juiz de Fora, que acontece no dia 23 de maio, às 13h30. O evento será realizado no Teatro Academia, localizado na Rua Halfeld 1.179, Centro, e é coordenado pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal de Juiz de Fora (Intecoop/UFJF) e produzido pelo site de classificados gratuitos Viverjf.com .
Com o tema “Inclusão Social e Cidadania: Ideias para um Brasil Inclusivo e Transformador”, o seminário abordará questões como a inserção social de pessoas com deficiência física e Síndrome de Down. Serão tratados, ainda, temas atuais como o tráfico de pessoas e a transferência de renda por meio de programas sociais.

Haverá também uma exposição de artesanato, pintura e culinária na entrada do teatro. O material apresentado é fruto do trabalho da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), do Instituto Médico Psico-Pedagógico (Imepp) de Juiz de Fora e do Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas. Também serão apresentadas algumas peças da coleção de roupas da estilista Raquell Guimarães, confeccionadas por presidiários.

O seminário é destinado a profissionais ligados à inclusão social, estudantes e pessoas interessadas em aprofundar seus conhecimentos sobre o tema. Segundo o coordenador da Intecoop, professor da Faculdade de Enfermagem, Petrônio Barros, o evento também tem como finalidade aproximar teoria e prática através da universidade e sociedade local. “Discutir o papel da universidade como agente de transformação social que, em princípio, deve ser um de seus maiores objetivos, é promover também um debate sobre um dos direitos básicos do ser humano: a educação de qualidade.”
Segundo o diretor geral do Viverjf.com e um dos organizadores do evento, Marcel Aziz Iunes, a iniciativa partiu de uma carência em debates sobre o tema em Juiz de Fora e no país. “O Brasil é um país socialmente injusto, um mar de necessidades sociais. O objetivo do Seminário, em sua essência, é o compartilhamento de ideias que podem ser difundidas. Ideias que valem a pena ser espalhadas para a melhora da sociedade e do cidadão.”

Para o secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Juiz de Fora e um dos palestrantes do evento com o tema “Transferência de Renda e Emancipação pelo Trabalho”, Flávio Cheker, ainda existe muito preconceito a respeito dos programas de federais de transferência de renda, como o Bolsa Família. “Temos que desmitificar a ideia de que o Bolsa Família é um programa puramente assistencialista, na verdade ele é a primeira etapa da emancipação, uma espécie de porta de entrada para o emprego e que, por sua vez, é a porta de saída do programa.”

O evento é aberto ao público e os interessados em receber certificado emitido pela Pró-reitoria de Extensão (Proex) devem realizar as inscrições gratuitas http://www.ufjf.br/proex/seminario/

Outras informações: (32) 2102-3971 (Pró-reitoria de Extensão) 9102-1099 (Marcel Aziz Iunes)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

"Dilma está perdendo a condição de ser candidata", diz Antônio Lavareda

Para o cientista político, a reeleição da presidenta está ameaçada pelo desgaste do PT, baixa popularidade e a percepção pessimista dos eleitores sobre os rumos da economia, além da forte rejeição do mercado financeiro

 

Especialista em marketing eleitoral e comunicação institucional, o cientista político Antônio Lavareda considera a eleição de outubro a mais imprevisível desde a volta do país à democracia. E aponta dificuldades especialmente no caminho da presidenta Dilma Rousseff. Em sua opinião, a reeleição de Dilma está ameaçada por três fatores: a popularidade em baixa, a percepção pessimista dos eleitores sobre os rumos da economia e o desgaste do PT, após quase 12 anos no poder. Essa, diz, é a explicação para a queda da presidenta nas pesquisas de opinião. Além disso, ela enfrenta forte rejeição do mercado financeiro. “Desde 1989, era das eleições presidenciais democráticas no Brasil pós-ditadura, nunca houve um candidato que tenha sido eleito ou reeleito sob o antagonismo manifesto do mercado”, constatou Lavareda, em entrevista ao Brasil Econômico. Com base nessa equação, afirma que “Dilma está perdendo as condições de ser candidata” e pode ser substituída pelo ex-presidente Lula até as convenções de junho. “Se o declínio nas pesquisas continuar, será extremamente difícil o PT deixar no banco de reservas sua principal estrela”. Ele não chega a cravar uma aposta na oposição, mas ressalta que Aécio Neves e Eduardo Campos são identificados com o desejo de mudança por serem “candidatos do Século 21”.

Como o sr. está vendo o cenário eleitoral, com o crescimento de Aécio Neves na última pesquisa de intenção de votos?
O americano Thomas Holbrook (cientista político e professor da Universidade Wisconsin-Milwaukee), estudando fatos que vêm antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos — um país onde o processo eleitoral tem uma série histórica mais longa, que permite inferir as estatísticas de forma mais robusta — elegeu três variáveis como as mais importantes para segurar, ou não, a reeleição de um incumbente (titular do cargo) à Presidência.
Quais são essas variáveis?
A primeira é a popularidade do governante; a segunda, a percepção da população sobre a economia; e a terceira, o tempo que o partido do incumbente está no poder. Do ponto de vista da popularidade, Dilma está vendo aproximar-se o início da campanha eleitoral em viés perigosamente de baixa de sua avaliação positiva. As medições mais recentes apontam apenas 33% de ótimo e bom, contra 31% de ruim e péssimo. É um percentual baixo. Em segundo lugar, a percepção da economia, que neste momento é predominantemente negativa: 79% dos brasileiros dizem que o custo de vida aumentou nos últimos seis meses, segundo a pesquisa CNT/MDA. Sendo que 70,8% dizem que o principal item cujos preços viram aumentar nos últimos seis meses foi a alimentação. Ou seja, a inflação chegou à mesa dos brasileiros, e isso tem um potencial de produzir irritação muito grande. Ainda pela proposição do Holbrook, quanto mais tempo um partido passa no poder, menos chances terá o incumbente de se reeleger. Nos EUA, de 1952 para cá, em todas as eleições realizadas à época da televisão, somente uma vez um partido conseguiu uma sequência de três mandatos. Foi o Partido Republicano, que elegeu Ronald Reagan em 1980, reelegeu-o em 1984 e conseguiu eleger seu vice-presidente, George Bush (pai), em 1988. Mas não conseguiu produzir um quarto mandato: Bush perdeu para Bill Clinton em 1992. Assim, levando em conta essas três variáveis, vê-se que o cenário é bastante adverso, hoje, para a presidenta Dilma. Seria preciso que a economia melhorasse substancialmente, levando junto a percepção da população, e tudo isso se refletisse em sua popularidade. Mas é difícil que ocorra.
O tempo é curto, de três, quatro meses...
E há outro fator, que emite um sinal ainda mais preocupante para Dilma. Desde 1989, era das eleições presidenciais democráticas no Brasil pós-ditadura, nunca houve um candidato que tenha sido eleito ou reeleito sob o antagonismo manifesto do mercado. Há uma manifestação objetiva e cotidiana do mercado nos índices da bolsa de valores. Sintomaticamente, todas as vezes em que a presidenta Dilma tem enfrentado dificuldades e assistido à queda de seus índices de preferência, a bolsa de valores tem subido, automática e simetricamente. Isso é inédito. Não estou dizendo que o mercado indica o presidente, mas que, até hoje, não houve um candidato ou presidente vitorioso que tivesse um visível antagonismo do mercado. Em 1989, quando Fernando Collor começou a crescer, o mercado assistiu à sua ascensão aliviado, pois não queria Brizola e muito menos Lula. Em 1994 e 1998, o mercado assistiu e refletiu a satisfação com a ascensão de Fernando Henrique. Em 2002, até maio, o mercado tinha hostilidade com relação ao pré-candidato Lula, mas, exatamente por isso, ele confeccionou a “Carta ao Povo Brasileiro”. A partir de junho, tanto a oposição a Lula na mídia impressa quanto o próprio mercado arrefeceram na hostilidade ao candidato. Em 2006, podemos dizer que o mercado preferia A ou B, mas não havia sinais de hostilidade a Lula. Em 2010, o mercado até assistia, com boa vontade, o crescimento da candidata de Lula, então com 75% de avaliação em ótimo/bom e, sobretudo, comandando o país em uma fase de crescimento do PIB de 7,5%, sob os aplausos e a felicidade em larga latitude do mercado. Agora, pela primeira vez, temos um candidato à reeleição sobre quem o mercado manifesta desapreço.
Seria o caso de ela fazer uma nova “Carta aos brasileiros”?
Essa questão da carta era adequada a um candidato fora do poder. Para Dilma, essa recomposição com o mercado teria de ser sinalizada de forma mais objetiva. Por exemplo, pela substituição do ministro da Fazenda por um nome mais sintonizado com o mercado, um Henrique Meirelles da vida, em relação ao qual ela se comprometesse a garantir o máximo de autonomia e, sobretudo, sua permanência em um eventual segundo mandato. Mas isso não tem ocorrido, e ela está perdendo tempo. E o pacote de 1º de maio é um fator que agrava ainda mais a situação da presidenta com o mercado.
Mas não fortalece a base de sustentação dela no Nordeste e nas classes C, D e E?
Obviamente, a presidenta fez uma aposta de estancar o sangramento de seus índices de intenção de voto e deter, com isso, o “Volta, Lula”, que vem ganhando volume. Ela sabe da leitura que o mercado fez do seu pacote e imagina que pode ter chances de se reeleger a despeito da postura e da compreensão do mercado em relação a ela. É óbvio que ela fez uma aposta. O tempo dirá se foi correta, ou não.
Mas a gente pode chegar a um ponto que tenha um perfil do eleitorado como se vê, por exemplo, na Venezuela, em que você tem uma clara divisão entre as classes?
Nossa cultura política produziu um eleitorado menos ideologizado do que em outros países latino-americanos, como Argentina, Uruguai e, hoje, Venezuela. Nosso eleitorado é mais pragmático. Os partidos têm pequena inserção na sociedade. O único partido que consegue ultrapassar dois dígitos na preferência é o PT. Apenas ele.
Aécio Neves, pelo que se vê, tem o apoio do mercado, já que, quando ele sobe nas pesquisas, o mercado sobe também...
Não é bem um apoio do mercado ao Aécio. Na verdade, o movimento do mercado, diametralmente oposto, é associado à presidenta Dilma: o mercado não escolheu seu candidato, mas já definiu sua rejeição. E percebo que há poucas chances de a presidenta fazer um movimento de recomposição com o mercado.
E as outras candidaturas?
Os candidatos Aécio e Eduardo têm pontos em comum. O principal deles é que, pelo corte geracional, ambos são candidatos do século 21. A eleição de 2010, por exemplo, era entre dois candidatos que tinham combatido a ditadura. Agora não, você tem dois candidatos mais jovens. No caso de Aécio Neves, ele tem um partido e alianças com maior tempo de TV e que é melhor estruturado em áreas importantes do país — Minas Gerais, São Paulo, no Norte, onde tem o governo do principal estado, e no Sul, tem o Estado do Paraná, que é importante na região. É o partido que tem a melhor estrutura, maior número de quadros e maior tempo de TV. Já Eduardo tem a seu favor um posicionamento que não bate de frente com o lulismo. Ele tem essa postura de terceira via, fortalecida pela presença de Marina Silva na chapa.
Aécio, no programa de TV da semana retrasada, deu muita ênfase ao fato de ser neto de Tancredo Neves. Até com imagens dele ao lado do avô nas Diretas Já. Isso é um trunfo?
Quando você tem nomes desconhecidos na política, é natural que seus marqueteiros divulguem referências que facilitem e ajudem a promover o conhecimento sobre aquele candidato para o eleitorado. O fato de Aécio ser neto de Tancredo ajuda o eleitor comum a encaixar, no seu quadro de referências, essa figura do ex-governador de Minas. Isso dá uma marca de qualidade. Assim como o governador Eduardo Campos, quando se refere a seu avô, Miguel Arraes. Não é que isso tudo dê votos, mas aumenta sua taxa de conhecimento e confiabilidade.
O sr. acredita que a entrada de Lula na campanha de Dilma pode reverter a situação?
Lula teve um peso decisivo na eleição de Dilma em 2010, por dois fatores: ela era pouco conhecida e, com um governo Lula muito bem avaliado, a população desejou a continuidade desse governo e declarou isso em pesquisas. Agora, na mente dos eleitores, não se trata de recuar a 2010 com Lula fazendo uma reapresentação de Dilma. O apoio dele continua sendo importante, mas é um apoio político. Lula é o capitão do time que apoia a presidenta. Mas o que será tratado basicamente pelos eleitores são os sentimentos despertados pela administração Dilma durante esses quatro anos. Uma questão importante: Lula e a equipe de marketing da então candidata Dilma a apresentaram ao país como uma grande gerente, com uma bagagem técnica, a mãe do PAC, e o cargo de ministra-chefe da Casa Civil emprestava credibilidade.
E qual é o fator de agora?
É ver como ficou a imagem de gerente que o eleitorado “comprou” e sufragou maciçamente em 2010. Se essa imagem, na campanha, permanecer como está hoje, Dilma enfrentará severas dificuldades. Na pesquisa CNT/MDA, 22% responderam que Dilma é boa gerente, 31% que não é boa gerente e 45% disseram que ela é uma gerente regular. “Gerente regular” não é um atributo adequado para um presidente.
E como ficam, então, Aécio e Eduardo, dado que o povo não conhece bem esses candidatos?
Mais do que avaliação, a presunção de competência de Aécio e Eduardo será processada pela população a partir das respectivas campanhas, e do que mídia e adversários vão falar negativamente. As experiências de Aécio, no Congresso e no governo de Minas, e de Eduardo Campos, no governo de Pernambuco e no Ministério da Ciência e Tecnologia, serão avaliadas e, a partir daí, vai ser construída uma imagem de maior ou menor competência, assim como a população elaborou sua avaliação de competência gerencial da então candidata Dilma.
Há riscos de Dilma não passar ao segundo turno?
Um candidato incumbente tem, praticamente, um passaporte carimbado para o segundo turno. Isso é verdade aqui e em outros países. Raramente ocorre de o presidente ou o candidato apoiado por ele não chegar ao segundo turno. Mas isso ocorre em situações onde a avaliação positiva caiu tanto, que o presidente ou o candidato por ele apoiado perdeu as condições objetivas de apoio político e subjetivas do eleitorado para chegar lá. No Brasil, isso ocorreu na primeira eleição do ciclo de disputas democráticas, em 1989, com os candidatos Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves, dois pilares da Nova República. Mesmo que estivessem unidos, o somatório da votação de ambos não os colocaria no segundo turno. Na França, em maio de 2002, o primeiro-ministro Lionel Jospin, do Partido Socialista, foi candidato, mas foi ultrapassado por Jean-Marie Le Pen (Frente Nacional) e a França assistiu, perplexa, ao segundo turno entre o candidato da extrema-direita e Jacques Chirac (UMP), com o Partido Socialista de fora da disputa. A eventualidade desse viés de queda da presidenta Dilma avançar numa reta linear de agora até o final da campanha eleitoral a coloca no segundo turno. Acho que a possibilidade de ela não ir para o segundo turno é menor que a possibilidade de ela ser substituída pelo ex-presidente.
O sr. acha que ela ainda pode ser substituída por Lula?
Acho que sim. Por enquanto, Lula ratifica a candidatura da presidenta. Mas há de convir que se você perguntasse ao PT, à base de partidos aliados, aos candidatos a deputado estadual e federal, a senador e a governador o que facilitaria suas campanhas eleitorais, se Dilma ou Lula, a resposta seria o ex-presidente Lula. Se o declínio de Dilma continua, será extremamente difícil deixar no banco de reservas sua grande estrela, que é o Lula. O “Volta, Lula” seria a manifestação mais elementar da racionalidade do PT e de seus aliados.
Então não seria uma decisão dela, mas do partido...
De nenhum dos dois. As lideranças políticas conduzem seus adeptos, seus aliados, mas, em momentos cruciais, são conduzidas pelos interesses das respectivas bases. Como líderes, eles não podem se furtar a ouvir determinadas conclamações.
Dilma afirmou, semana passada, que sai candidata com ou sem base aliada.
Foi um escorregão retórico da presidenta, porque o processo de indicação da candidatura envolve partidos, alianças, tempo de televisão, compromissos com aliados. Se não houver a concordância dos aliados, não haverá a candidatura de Dilma.
Qual é o peso real do Bolsa Família na eleição?
O Bolsa Família foi importante em 2006 e 2010. Em 2014, ele tem sua inegável importância, mas o bom senso nos diz que o mesmo fator usado reiteradamente ao longo do tempo — são quase 10 anos da existência do Bolsa Família — vai perdendo sua utilidade eleitoral, a capacidade do programa de influenciar as pessoas. O país já assistiu a isso antes, com o Plano Real, que foi importantíssimo no discurso de 1998; em 2002, já não se mostrou decisivo; e, em 2006, granjeou poucos votos ao então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Há uma utilidade declinante nesse programa, como em quaisquer programas. A presidenta tem outros programas, do ponto de vista da opinião pública, muito mais novos e com impacto maior, como o Mais Médicos, que tem apoio de 75% da população. O Mais Médicos veio ao encontro de uma demanda enorme da população, que queria exatamente a presença de mais profissionais de saúde na rede pública. O Bolsa Família já rendeu dividendos eleitorais lá atrás é sua paternidade é creditada ao Lula.
O sr. acredita em aumento da abstenção por conta de desilusões políticas surgidas nas manifestações de 2013?
As pesquisas têm apresentado um percentual inusual de eleitores que não votarão em nenhum candidato. O que pode ocorrer é que, à medida que esses eleitores forem conhecendo candidatos alternativos a Dilma (que já é conhecida por 99% dos entrevistados), podem, eventualmente, direcionar o apoio a esses candidatos e essa desilusão ser apenas momentânea. Ou não — dependendo das campanhas desses candidatos, a decepção que produz tais percentuais nas pesquisas pode vir a se consolidar e mostrar a maior taxa de alienação da história das eleições no período democrático.
A abstenção favorece Dilma?
Depende de onde parte essa abstenção. Se a abstenção se faz mais intensa nas camadas D e E, isso prejudica a presidenta Dilma. Numa pesquisa recente, o Ibope perguntou se as pessoas votariam caso o voto não fosse obrigatório. Metade votaria, a outra, não. Então, se o não-voto assumisse uma grande proporção, faria o resultado dessa eleição uma grande interrogação.
O sr. concorda com a tese de que essa eleição será a mais difícil da história, inclusive nos estados?
Há um fator que não é lembrado diariamente, que são as manifestações de junho, a crise de representação que não desapareceu da cabeça do brasileiro. Como, durante a Copa, vai se reacender aquele tipo de desejo que a população expressou em 2013, de passar a limpo a política, de maior e melhor participação? Não sabemos ainda com que características isso voltará à superfície. Quando você pergunta nas pesquisas de opinião se haverá novas manifestações, mais de 60% dizem que sim, mas ninguém sabe qual a dimensão, quais as características, como isso vai interagir com a Copa do Mundo e desaguar na campanha eleitoral. É um conjunto de indagações. Portanto, temos as eleições, se não as mais complexas, com certeza as mais imprevisíveis pós-ditadura.
Se o Brasil perder no início da Copa, isso é um agravante?
A Copa nunca esteve relacionada ao resultado de eleições presidenciais, mas há o fato de a Copa ser no Brasil, onde a capacidade de organização do país está sendo muito discutida. Se houver uma onda de manifestações, uma vitória do Brasil pode ajudar a atenuar insatisfações. Já uma derrota, pode ser um pouco mais de água no copo cheio de indignação do povo. Não é que a vitória na Copa seja um excepcional resultado para o governo; é que ela ajudaria a desanuviar espíritos negativos.
Lula foi um presidente político e Dilma popularizou-se como uma gerente. Ser gerente já não traz uma carga inerente de impopularidade?
A avaliação dos governantes é sempre parametrizada pela avaliação retrospectiva dos antecessores. Se Dilma tivesse sucedido um Lula impopular, ela não teria sido eleita, mas seria beneficiada com isso. Governantes que sucedem líderes impopulares têm uma chance maior de desfrutar de uma boa avaliação ao longo do percurso, assim como o inverso é verdadeiro. Dilma, por seu estilo e pelas dificuldades que enfrentou, tem ainda como agravante uma comparação inconsciente que a população faz o tempo todo com Lula. E a comparação é sempre negativa para ela. Ainda assim, isso não a impediu de, por boa parte do seu mandato, ter patamares de aprovação bem elevados. Era impossível imaginarmos, um ano atrás, que as coisas sobre as quais estamos conversando pudessem vir a ocorrer. Em maio de 2013, a situação era muito diferente. Em junho de 2013, a avaliação positiva de Dilma era de 54%, segundo a pesquisa CNT/MDA. Hoje, está reduzida a 33%. A partir de julho, Dilma sofreu essa inflexão e, por volta de outubro, houve uma reação, mas ela já iniciou o ano em viés de baixa. É importante lembrar que a avaliação de governador e prefeito em todo o país está longe de ser positiva. Os governadores têm, hoje, em conjunto, 34,2% de avaliação entre ótima e boa e os prefeitos, 29,8%.
Então, o sr. não acredita que a presidente se reeleja...
O que eu acho é que ela está perdendo as condições de se manter como candidata. Isso é até mais grave.