A nova década perdida
Por Marcos Troyjo
Sobrevém um amargor na boca quando "recessão",
"eclipse" – ou mesmo "impeachment” – aparecem na
tela do radar que o mundo direciona ao Brasil.
O impacto negativo dessas indesejáveis
características nos próximos quatro anos, acrescido da mediocridade
do último quadriênio, convida a outra noção: o País está em
meio a uma nova década perdida.
Pensamos nos anos 1980 como a dolorosa
convalescênça do hiato democrático e dos excessos
nacional-desenvolvimentistas dos governos militares.
Hoje, o desperdício de nossas potencialidades
associa equívocos econômicos aos de política externa numa
combinação que deprecia o respeito pelo País.
Se o foco é no alívio da pobreza, inexiste na
história momento recessivo em que os maiores prejudicados não
tenham sido os menos favorecidos. Na ausência de crescimento
vigoroso, caem por terra alicerce e discurso do combate à
desigualdade.
Isso é tanto mais grave no tipo de recessão que
se avizinha para o Brasil. Ela vem de mãos dadas com vácuo de
liderança e inflação. Ambos desencorajam o investimento, que
deveria ser o grande motor de uma nova fase de crescimento.
Se o País fechar a atual década com expansão
média anual de 2%, nem de perto nos desvencilharemos da armadilha da
renda média. Em paralelo, é frustrante continuarmos a assistir
grandes mercados emergentes arremeterem.
Indonésia, Índia e China esperam crescimento
anual superior a 6% no intervalo 2015-18. No período, estimativas
realistas projetam o Brasil com expansão média 1,5 % abaixo da
economia mundial.
Ouve-se com frequência do governo brasileiro, no
que só pode ser alusão à Europa, que poucos no mundo estão
crescendo.
Uma coisa, porém, é o desempenho estacionário da Zona do Euro, onde a renda per capita é de US$ 35 mil. Outra é empacar com um terço disso, como o Brasil, ainda nos verdes anos do bônus demográfico. Nesse ritmo, é grande o risco de ficar velho antes de se tornar rico.
No âmbito das relações internacionais, estamos desorientados. Na melhor hipótese, praticamos uma diplomacia confusa. E, ao contrário do desejado mote para o Itamaraty de Dilma 2.0, "sem resultados”.
Nos fóruns multilaterais, estamos eclipsados por
falta de pagamento de contribuições regulares ou pela grande
alocação de tempo, recursos e capital político em portfólio de
baixo retorno, de que é exemplo o marasmo da OMC.
Em nossa suposta prioridade à África, abrimos
grande número de postos diplomáticos, agora em frangalhos
orçamentários.
Na América Latina, o embate maior entre
Washington e Pequim por aliados regionais num momento de fragilidade
econômica e diplomática brasileira mina nossa influência. A
Argentina claramente já substituiu o Brasil pela China como
principal referência de sua política externa.
Nações desperdiçam anos quando não crescem, não performam à altura de seu potencial. Mas uma década só é realmente perdida quando um país nada aprende com ela. Vivemos uma confluência de todos esses fatores.
Tomara que desta vez o passado – e o presente –
nos ensinem algo para o futuro.