Quando
o chefe conta uma piada ruim, geralmente quem trabalha para ele ri.
Orgulhoso, ele nem percebe que a maior parte desses sorrisos são
"amarelos". Isso acontece porque o poder inebria e, pior,
cria a falsa sensação de apoio. Essa ilusão sobre alianças que na
verdade não existem é tão nociva que pode levar o executivo a
perder negócios e até o próprio cargo.
Essa é uma das afirmações de um estudo
conduzido pelo professor Sebastien Brion, da escola de negócios
espanhola Iese Business School, e Cameron Anderson, da Haas School of
Business, da Universidade da Califórnia. Por meio de diversos
experimentos com grupos de executivos, eles chegaram à conclusão
que os líderes superestimam o que as equipes sentem por eles. "Os
chefes acreditam que são amplamente apoiados e, por isso, muitas
vezes acabam se dando mal", disse ao Valor,
Sebastien Brion.
Segundo o professor, vários fatores associados à
perda de poder estão fora do controle do CEO, como uma fusão ou
aquisição mal conduzida ou até mesmo uma atuação mais dura do
conselho de administração. Mas o que o estudo sugere é que o
próprio comportamento do dirigente acaba causando esse
enfraquecimento. "Um fator crítico que determina quem tem poder
é a habilidade de, efetivamente, formar e manter alianças". A
dificuldade em monitorar o envolvimento social, entretanto, pode
comprometer a construção dessas conexões, segundo o estudo.
Em uma negociação, segundo Brion, ter poder
significa sair dela com mais dinheiro. "Executivos que se
consideram bons negociadores superestimam o quanto os outros gostam
deles e o quanto lhes dão suporte. Muitas vezes, acabam antecipando
a formação dessas alianças e, de uma hora para outra, podem ser
excluídos do acordo final", afirma. Esse tipo de CEO não sobe
na carreira. Na verdade, ele cai quando menos espera.
Quem sofre dessa cegueira no trato com os
subordinados, que parecem sempre muito solícitos e companheiros,
segundo Brion, sente que não precisa se dedicar ao engajamento de
pessoas. "Eles acabam não construindo relacionamentos com quem
precisam para conseguir qualquer tipo de apoio, inclusive financeiro
".
Outra constatação do estudo é a de que os
chefes acreditam que levam em conta as individualidades dentro da
equipe. De acordo com Brion, os gestores costumam achar que tratam
todos bem e que dão autonomia às pessoas, mas nem sempre quem está
abaixo deles pensa dessa forma. "Quanto mais alto o executivo
chega, mais difícil fica entender como é percebido por quem
trabalha com ele". O maior problema para o dirigente, é que a
equipe continua rindo de suas piadas.
Por Stela Campos | De São
Paulo – FONTE: Jornal Valor Econômico
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