Eclipse global do Brasil
Por MARCOS TROYJO
O imenso potencial do país é conhecido; a ideia de eclipse sugere ocultação só temporária dos astros
Países, assim como estilos, entram e saem de moda.
No início dos anos 90, México e Tailândia estavam com tudo. A "crise
tequila" de 94 e "maquiladoras" ofuscadas pela hipercompetitividade
chinesa minaram o entusiasmo pelo primeiro. Em 97, o derretimento do
baht tailandês precipitou o colapso financeiro do Sudeste Asiático e
aparou garras do promissor "tigre".
Muito do balde de água fria que a conjuntura joga neste ou naquele país
deve-se à formação de expectativas do mercado financeiro, por vezes
superficial e imediatista. Será então que o atual desalento com que o
Brasil é visto no mundo deve-se a seu desempenho como destino de
investimentos de portfólio?
Sobram motivos para entender que a perda de brilho extrapola apostas
financeiras. O "eclipse" envolve percalços abrangentes nos três campos
das relações internacionais: o econômico-comercial, o político-militar e
o dos "valores".
Durante a cúpula do G20 há cinco anos, Obama chamava Lula de "o cara". O
Brasil era "o país". Parecia em rota para ultrapassar a França como
quinta maior economia em 2015. Hoje, após três anos de crescimento
medíocre, estamos às portas da recessão técnica. Taxas de poupança e
investimento inferiores a 20% do PIB, ocaso do Mercosul e inexistência
de acordos comerciais com polos mais dinâmicos projetam baixa expansão.
Também nosso "soft power" irradia-se com menos força. Programas como o
Bolsa Família, cuja aplicabilidade se cogitou na África e noutras
regiões em desenvolvimento, têm viabilidade questionada na ausência de
crescimento vigoroso.
Na política internacional, mesmo que a reforma do Conselho de Segurança
da ONU andasse, qual a contribuição efetiva do Brasil à segurança
internacional se, no próprio território, 50 mil homicídios/ano superam a
destruição de vida nos conflitos de Afeganistão, Iraque e Sudão?
Na América Latina, a liderança brasileira fragmentou-se com
inconsistência moral. Empregamos "padrões duplos" – marca do cinismo de
potências que sempre criticamos – nas crises presidenciais de Honduras e
Paraguai. Nossa tradição de equilíbrio parece incongruente com endosso
automático aos regimes de Cuba e Venezuela.
Grande capital diplomático foi despendido para elegermos dirigentes de
instituições como OMC e FAO, cujas funções são arbitrais e de
coordenação, não a alavancagem direta dos interesses brasileiros.
Acrescente-se o atabalhoamento de Dilma na diplomacia presidencial – a
que, quando chamada, vexa compatriotas – e se completa o quadro de
retração brasileira em diversas frentes globais.
Esse eclipse não resulta tão somente de ceticismo macroeconômico ou
inépcia internacional da presidente. Reformas estruturantes, essenciais
ao bom lugar do Brasil no mundo, terão de incluir também a política
externa.
O imenso potencial brasileiro é conhecido e admirado – e a ideia de
eclipse sugere ocultação só temporária dos astros. Trabalhemos para que
isso, e não um obscurecimento mais profundo, seja o que aguarda o Brasil
no concerto internacional.
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