Viver era como correr em círculo num grande labirinto, esse
género de labirinto para crianças que se vê em certos parques de jogos
modernos; em cima de uma pedra no meio do labirinto há uma pedra brilhante; os
míudos chegam com as faces coradas, cheios de uma fé inabalável na honestidade
do labirinto e começam a correr com a certeza de alcançarem dentro de pouco
tempo o seu alvo. Corremos, corremos, e a vida passa, mas continuaremos a
correr na convicção de que o mundo acabará por se mostrar generoso para quem
correr sem desãnimo, e quando por fim descobrimos que o labirinto só
aparentemente tende para o ponto central, é tarde demais - de facto, o
construtor do labirinto esmerou-se a desenhar várias pistas diferentes, das
quais só uma conduz à pérola, de modo que é o acaso cego e não a justiça lúcida
o que determina a sorte dos que correm.
Descobrimos que gastámos todas as nossas forças a realizar
um trabalho perfeitamente inútil, mas é muito tarde já para recuarmos. Por isso
não é de espantar que os mais lúcidos saiam da pista e suprimam algumas voltas
inúteis para atingirem o centro cortando caminho. Se dissermos que se trata de
uma acção imoral e maldosa, não devemos esquecer que a imoralidade de um homem
não poderá, nunca por nunca ser, competir com o malefício da ordem do mundo
cujas engrenagens bem oleadas funcionam sempre na perfeição. Temos, por um
lado, um desespero que se incendeia rapidamente assumindo formas cada vez menos
equilibradas e, por outro lado, uma consciente imoralidade de reflexos
metálicos e glaciais, orgulhosa do seu gelo e do seu fulgor.
Stig Dagerman, in 'A Ilha dos Condenados'
Stig Dagerman, in 'A Ilha dos Condenados'
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