Procura-se CEO para o Brasil
A principal característica da unidade que será
conduzida pelo profissional é o subdesempenho
Por Marcos Troyjo
País de grande porte contrata chefe executivo.
Período de trabalho é de quatro anos, podendo renovar-se.
Profissional responderá aos anseios de 202 milhões de acionistas.
Atuará em setor altamente competitivo. A
performance é não apenas avaliada por critérios como tamanho
do PIB, mas por fatores meritocráticos como capacidade
administrativa e empreendorismo. Ciência de ponta e unidades
empresariais intensivas em tecnologia balizam o ecossistema em que o
profissional exercerá suas atribuições.
Em suas novas responsabilidades, cumprirá ao novo
gestor assessorar-se de grupo de profissionais sofisticados e
inovadores, capazes de ombrear-se com os melhores do mundo.
Hoje sua unidade apresenta estrutura de custos
excessivamente elevada para fazer frente a competidores mais baratos.
Sua produtividade é demasiado baixa para medir-se contra os mais
avançados. Sua logística é atravancada para equiparar-se aos mais
ágeis.
A unidade a ser liderada pelo profissional
encontra-se enredada no baixo crescimento. A pirâmide demográfica
de seus colaboradores, ainda a gerar benefícios econômicos
positivos, em breve se inverterá. O executivo haverá de evitar que
seus acionistas fiquem velhos antes de se tornarem ricos.
A principal característica da unidade a ser
conduzida pelo profissional é o subdesempenho. A burocracia asfixia
negócios e intimida novos empreendimentos. O profissional será
positivamente avaliado se sua unidade subir vinte casas nos rankings
internacionais de competitividade. O CEO ambicionará não somente o
grau de investimento, mas também o "business grade".
Muitos setores produtivos ou regulatórios
esclerosaram-se por presença sindical orientada ao velho contraste
capital/trabalho. Outros são instrumentalizados pelo compadrio
ideológico. Empresários passam a enxergar bancos oficiais, e não o
mercado, como seu "target". Caberá ao chefe executivo
levar adiante verdadeiro "turnaround".
Seus acionistas mais jovens têm deixado de
mostrar apetite para risco e desafio. Em vez de alimentar-se de um
ambiente em que poderão tornar-se bilionários a partir de
"start-ups", sonham com o emprego estatal.
O chefe executivo envidará esforços para que o
seu setor educacional privilegie educação empreendedora e ensino de
ciências e matemática. Fará com que 2% de sua receita destinem-se
à inovação. Trabalhará para que seus "stakeholders"
contem ao menos três universidades dentre as cem melhores do
planeta.
Espera-se que o chefe executivo insira sua unidade
nas cadeias globais de valor. Para tanto, desenhará plano de
trabalho para desafios na Europa, EUA e Ásia-Pacífico. Criará
condições para que triplique o número de multinacionais
brasileiras. Reconverterá a estratégia industrial do atual foco
em substituição de importaçōes para a promoção de
exportações.
Remuneração e benefícios são compatíveis com
o que se pratica no mercado. A principal recompensa do CEO, contudo,
será a honra de inaugurar nova fase na trajetória de
desenvolvimento do Brasil.
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