Ou, por que a sabedoria está em confiar em quem busca a verdade, e sempre desconfiar de quem quer ter a hegemonia da verdade
Por: Eurípedes Alcântara
O domingo passado será lembrado em nossa história
como um marco delimitador do avanço do hegemônico do PT no Brasil.
O modelo de dominação política que o PT detalha nos seus
documentos, resoluções e cartilhas exige duas condições básicas
para funcionar. A primeira é a censura à imprensa, com evolução
para a completa supressão da liberdade de expressão. A segunda, é
um corolário da primeira e responde pelo nome de "hegemonia".
A obsessão com a conquista da "hegemonia" é forte no PT,
mas seus doutrinadores sempre se esquivam de explicar o que isso
significa.
É difícil encontrar uma manifestação oficial
do PT em que a expressão "hegemonia" não apareça. Um
entre centenas de exemplos está na Resolução Política
divulgada pelo PT logo depois da contagem dos votos das eleições
passadas, que deram a vitória nas urnas a Dilma Rousseff. Diz o
documento: "É urgente construir hegemonia na sociedade,
promover reformas estruturais, com destaque para a reforma política
e a democratização da mídia".
Do Dicionário Houaiss:
Hegemonia (substantivo feminino)
1 - Supremacia, influência preponderante exercida
por cidade, povo, país etc. sobre outros
2 - Derivação: por extensão de sentido,
autoridade soberana; liderança, predominância ou superioridade
Com base apenas no verbete de dicionário, já
seria altamente suspeito que um partido político coloque para si
como objetivo "urgente" conquistar a "autoridade
soberana" e a "predominância" sobre os outros.
Qualquer partido que tenha a hegemonia como objetivo não pode, por
definição, ser um partido democrático.
O PT, portanto, precisa entender que, de duas,
uma: ou renuncia à hegemonia ou desespere de ser visto como um
partido apto para o jogo democrático, cuja premissa é a de que
nenhum dos participantes deve objetivar a "autoridade soberana"
sobre os outros.
Os doutrinadores petistas escapam como bagres
ensaboados quando se pede que expliquem ao distinto público, afinal,
que raios entendem por hegemonia. Entre quatro paredes eles debatem
avidamente esse ponto. Melhor poupar o leitor de devaneios sobre as
origens e variações filosóficas da hegemonia política e saltar
para o que realmente interessa:
1) Quem, quando e onde obteve essa hegemonia.
2) O que foi preciso para alcançá-la.
Vamos lá.
1) A hegemonia pela qual o PT é obcecado só
existiu e existe em regimes totalitários em que a democracia foi
erradicada: na Rússia soviética sob Stálin, na Alemanha nazista
sob Hitler e, perifericamente, em países irrelevantes como Cuba e
Coréia do Norte.
2) Para obter a hegemonia naqueles países foi
necessário:
a) Formar um regime de partido único colocando na
ilegalidade todos os demais
b) Prender, fuzilar ou exilar depois de julgamento
sumário as pessoas que pensassem de forma diferente
c) Censurar todas as formas de expressão cultural
e eliminar a imprensa livre
Vamos reler o trecho da recente resolução do PT
em sua forma dissimulada: "É urgente construir hegemonia na
sociedade, promover reformas estruturais, com destaque para a reforma
política e a democratização da mídia".
E, agora, substituindo os termos abstratos pelo
que eles significam na prática: "É urgente formar um partido
único colocando na ilegalidade todos os demais, promover a retirada
de circulação de todas as pessoas que pensem de forma diferente,
com ênfase na censura à imprensa e supressão de todas as formas de
expressão em desacordo com o partido".
Podemos estar cometendo uma injustiça atribuindo
ao PT objetivos que nem de longe são os acalentados pelo partido?
Existe a possibilidade de que esses objetivos sejam privativos de uma
ala radical e minoritária do PT? Sim, mas para que isso fique claro
seria do interesse do próprio PT que seus dirigentes explicassem
esse ponto com maior clareza.
Enquanto o esclarecimento não chegar às massas
vestidas de verde e amarelo que foram às ruas no domingo passado e
já preparam novas manifestações, elas vão gritar que "nossa
bandeira nunca será vermelha". Em outras palavras, enquanto o
PT não explicar como pretende obter a hegemonia e o que planeja
fazer com ela caso atinja seu objetivo, o mais prudente mesmo é
seguir o sábio conselho do escritor francês André Gide, premiado
com o Nobel de Literatura em 1947: "Confie em quem busca a
verdade, mas sempre desconfie de quem a encontrou".
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