segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Colarinho branco e mãos vermelhas


Colarinho branco e mãos vermelhas


Por Ricardo Galuppo - Publisher do jornal Brasil Econômico

O italiano Salvatore Cacciola, dono do extinto Banco Marka, ganhou liberdade condicional após cumprir parte da pena a que foi condenado por crimes cometidos na crise cambial de 1999.
Ontem à tarde, Cacciola saiu da prisão e, na forma da lei brasileira, poderá levar vida praticamente normal - desde que informe seus movimentos às autoridades e se apresente à Justiça sempre que chamado.
Já tem muita gente dizendo por aí que ele passou pouco tempo na cadeia e que aí está a prova definitiva do tratamento privilegiado que a Justiça brasileira concede a criminosos endinheirados. Que nada!
Em relação à pena inicial, de 13 anos, o tempo que Cacciola passou trancafiado parece uma eternidade diante dos poucos anos que outro italiano, o assassino Cesare Battisti, passou na penitenciária da Papuda, em Brasília.
Em junho, o Supremo Tribunal Federal concedeu-lhe o direito de não ser devolvido para a Itália, onde deveria cumprir prisão perpétua por quatro assassinatos a sangue-frio.
Na mesma semana em que Cacciola conquistou sua liberdade condicional, Battisti pôs as mãos nos documentos brasileiros que o autorizam a viver no país como cidadão de passado limpo. Vergonha não é o banqueiro passar pouco tempo atrás das grades. Vergonha maior é o assassino não passar tempo algum.
Cacciola cometeu seu crime no Brasil e, no instante em que se deu conta da impossibilidade de safar-se da Justiça, deu uma prova cabal de admissão de culpa. Não se defendeu: se mandou para a Itália, seu país natal, antes que o processo se encerrasse. Julgado à revelia, teria ficado livre da prisão caso não resolvesse passar uns dias em Monte Carlo.
O Brasil não tem acordo de extradição com a Itália - mas, no Principado de Mônaco, ele ficou ao alcance da lei e foi preso pela Interpol. Com Battisti, a história é diferente. Depois de matar quatro pessoas (nenhuma das quais colocava em risco a sua vida nem desafiava em suas convicções políticas), Battisti foi preso, escapou e, por caminhos tortuosos, chegou ao Brasil.
Julgado à revelia em seu país, foi condenado à prisão perpétua (mesma pena que muita gente reclama para quem pratica crimes hediondos por aqui). Ao descobri-lo curtindo a vida no Brasil, a polícia fez sua parte e o mandou para a cadeia - onde deveria esperar pelo julgamento do pedido de extradição do governo italiano.
Por obra e graça do advogado de Battisti, o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT de São Paulo, o caso foi tratado como questão de Estado pelo ex-ministro da Justiça Tarso Genro. E Battisti ganhou do governo Lula o direito de permanecer no Brasil, mais tarde ratificado pelo STF.
Cacciola acertou suas contas com a Justiça nos termos da sentença que o condenou, mas dificilmente se livrará da pecha de criminoso do colarinho-branco. E, sempre que seu nome for mencionado, haverá alguém para lembrar que ele, afinal de contas, era um banqueiro e, para os banqueiros, toda punição parece ser pouca.
Battisti, ao contrário, é visto como "ativista". Passará a ser saudado como escritor e suas mãos vermelhas de sangue logo serão lavadas pelos aplausos de quem acredita que ele estava, de fato, lutando por algum tipo de ideal.

2 comentários:

Rogério de Moraes disse...

Já estou começando pensar em gritar:
VIVA O REI - VIVA O REI
DEUS SALVE O REI - E VIVA A MONARQUIA PARLAMENTARISTA.
Já que é pra ter "rei", que sejam então os de direito. Não essa cambada de sanguesugas que se aboletaram no poder.

William Xavier de Carvalho disse...

Você tá mais que certo meu nobre Rogério!
Grande abraço,
WXC