quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O contágio da mediocridade


Por Eugênio Mussak

Eu estava adiantado para a reunião. Tinha pelo menos meia hora, resolvi esperar em algum lugar e, para minha alegria percebi que estava em um bairro cheio de bares e restaurantes. Escolhi um local bonito, com mesas na calçada e visual alegre. Como era metade da tarde, e ainda estava praticamente vazio, pude escolher a mesa mais estratégica e esperei o garçom. Foi quando as coisas começaram a complicar.

Depois de acenar algumas vezes alguém me viu. Um rapaz com cara de queria estar em outro lugar aproximou-se e perguntou: “quer alguma coisa?”. Bem, se eu estava lá, é porque queria ser servido, claro – que pergunta mais boba, pensei. Pedi um suco de laranja e perguntei que tipo de lanche ele podia oferecer. Anotou o pedido do suco e foi buscar o cardápio. Para resumir a história, o lanche estava insosso e gorduroso e o suco tinha gosto de laranja passada. Pedi a conta e a mesma demorou porque a moça do caixa havia saído.

Após essa péssima experiência fui para minha reunião, não sem algum mau humor. Felizmente as pessoas que fui encontrar eram muito agradáveis, o que ajudou a dissolver a bílis que tinha acumulado no sangue. Quando comentei o ocorrido, me explicaram o motivo: “esse lugar antes era legal, mas mudou de dono, e o atual não circula pelo restaurante, fica só no escritório fazendo contas e culpando a equipe pelo resultado ruim”.

Entendi. O novo dono não gostava do negócio, comprou o restaurante pensando só no faturamento, que, aliás, não parava de cair. Eu diria que ele tem um futuro bastante previsível. Esta é uma lei da universal: qualquer ambiente será fortemente influenciado pelo estilo de sua pessoa mais proeminente. Aspectos como preocupação com qualidade, desejo de servir, prontidão, cuidado com os detalhes, não são decisões administrativas, são atributos da cultura. São replicáveis e devem vir de cima, do comando, da liderança. E, claro, seus opostos são igualmente disseminados, epidemicamente.

Saí da reunião no final da tarde, quando os bares da região começam fervilhar nas happy hours. Gente bonita e alegre circulando, colegas conversando, casais se aproximando, super-heróis corporativos revelando suas identidades secretas. As melhores mesas começavam a ser disputadas em todos os lugares. Menos naquele bar, onde a mediocridade contagiosa de seu gerente tinha se impregnado em todo o ambiente, instalando a doença do fracasso crônico. Se o seu time não está desempenhando como você acha que deveria, reflita se seu comportamento no comando tem sido o melhor. A conduta do líder diz muito sobre a performance da equipe e do negócio.

Texto publicado sob licença da revista Você s/a, Editora Abril.

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