domingo, 9 de dezembro de 2012

A República da Vassoura, de Erenice a Rosemary


Por Guilherme Fiuza *
O Brasil que aprova Dilma Rousseff quis esquecer Erenice Guerra. Quis esquecer a pessoa que Dilma preparou para comandar o seu governo – e que caiu antes da hora, ao transformar o Ministério da Casa Civil em bazar de interesses particulares. O Brasil quis esquecer que Erenice era braço direito de Dilma, ou mais que isso, era o estilo Dilma de administração pública. Mas de nada adiantou o esquecimento, porque o espírito está em Dilma – e se não é Erenice, é Rosemary.
Chega a ser patético o sobressalto dos brasileiros com o escândalo na representação da Presidência da República em São Paulo. O gigante adormecido, decididamente, não presta atenção no filme. Rosemary Noronha, chefe de gabinete de Dilma na capital paulista, protegida da presidente, de Lula e de Dirceu, é apanhada com a boca na botija. O que fazia Rosemary? Exatamente o mesmo que Erenice, e também que Dirceu e mensaleiros associados: tráfico de influência. Uso do palácio para a montagem de negócios privados.
Mas a ficha ainda não caiu. O público continua meio confuso, já querendo aplaudir a presidente pela demissão da delinquente. Chegará o dia em que Dilma demitirá solenemente a si mesma, e chegará aos 100% de aprovação popular.
Lula criou a representação da Presidência em São Paulo, e Dilma, então ministra-chefe da Casa Civil, nomeou Rosemary como chefe de gabinete. Eleita presidente, Dilma manteve Rosemary no cargo. Alto zelo com a titular de um gabinete que, segundo o líder do governo no Senado, Eduardo Braga, “não é usado”. Por que a proteção por tantos anos a uma funcionária de uma repartição que não serve para nada?
Aí está o engano. O tal gabinete era muito útil. Ali se fechavam excelentes negócios particulares. A venda de pareceres das agências reguladoras para empresários, por exemplo, ampliou a função desses órgãos técnicos. Como se sabe, eles foram criados no governo Fernando Henrique para acabar com a interferência política dos ministérios nas decisões sobre infra-estrutura. No governo Lula, as agências se tornaram importantíssimas para abrigar companheiros e seus afilhados. Ou seja: criadas para acabar com a politicagem, elas se tornaram a própria politicagem. Continuaram seguindo estritamente critérios técnicos – a técnica do cabide.
A venda de pareceres – R$ 300 mil um laudo da Agência Nacional de Aviação Civil – tornou esses órgãos técnicos ainda mais lucrativos. Por coincidência, Erenice também intermediava bons negócios com a Anac, onde seu filho trabalhara. A filha de Rosemary também estava empregada nessa agência, dirigida por um comparsa da chefe de gabinete da Presidência, segundo a Polícia Federal. Dilma está demitindo todo mundo, horrorizada. Ela nem podia imaginar quantas maldades essa turma andava fazendo. É bem verdade que Rosemary falava quase diariamente com Lula. Mas Dilma nem se lembra direito quem é Lula.
Não se lembra que nomeou Rosemary, nem que a manteve no cargo, assim como o Brasil não se lembra de Erenice. A memória dos brasileiros só alcança o momento em que Dilma resolveu extinguir a representação da Presidência em São Paulo. Afinal, ela não servia para nada mesmo. Quase nada.
No embalo, a faxineira poderia extinguir também a Advocacia-Geral da União, cujo sub-chefe está entre os suspeitos no caso Rosemary. Quem sabe, Dilma não devesse extinguir também o Ministério do Desenvolvimento, cuja principal finalidade hoje é abrigar Fernando Pimentel, o consultor fantasma? Pimentel arrecadou R$ 2 milhões por seus belos olhos de amigo da presidente, e estava em reuniões intermediadas por Rosemary no gabinete fantasma. A única coisa palpável entre tantos fantasmas é o lucro privado dos guerrilheiros estatais.
A demissão do diretor da Anac, flagrado no esquema de Rosemary, mostra como o governo Dilma está preparando bem os aeroportos para a Copa do Mundo, daqui a um ano e meio. Pode-se imaginar a festa que foram as concessões para as empresas que administrarão o setor. Mas Dilma não tem nada com isso.
De Erenice a Rosemary, o governo do PT é repleto de parasitas por um acidente natural, uma espécie de furacão Sandy do fisiologismo. A República só não desmorona porque o Brasil tem Dilma, vassoura, pano de chão e memória de protozoário.
 * Guilherme Fiuza é jornalista e autor de vários livros, entre eles “Meu Nome não é Johnny”, adaptado para o cinema. Neste blog, trata de grandes temas da atualidade, com informação e muita opinião principalmente sobre política.

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