Por Guilherme Fiuza *
O Brasil que aprova Dilma Rousseff quis esquecer Erenice
Guerra. Quis esquecer a pessoa que Dilma preparou para comandar o seu governo –
e que caiu antes da hora, ao transformar o Ministério da Casa Civil em bazar de
interesses particulares. O Brasil quis esquecer que Erenice era braço direito
de Dilma, ou mais que isso, era o estilo Dilma de administração pública. Mas de
nada adiantou o esquecimento, porque o espírito está em Dilma – e se não é
Erenice, é Rosemary.
Chega a ser patético o sobressalto dos brasileiros com o
escândalo na representação da Presidência da República em São Paulo. O gigante
adormecido, decididamente, não presta atenção no filme. Rosemary Noronha, chefe
de gabinete de Dilma na capital paulista, protegida da presidente, de Lula e de
Dirceu, é apanhada com a boca na botija. O que fazia Rosemary? Exatamente o
mesmo que Erenice, e também que Dirceu e mensaleiros associados: tráfico de
influência. Uso do palácio para a montagem de negócios privados.
Mas a ficha ainda não caiu. O público continua meio confuso,
já querendo aplaudir a presidente pela demissão da delinquente. Chegará o dia
em que Dilma demitirá solenemente a si mesma, e chegará aos 100% de aprovação
popular.
Lula criou a representação da Presidência em São Paulo, e
Dilma, então ministra-chefe da Casa Civil, nomeou Rosemary como chefe de
gabinete. Eleita presidente, Dilma manteve Rosemary no cargo. Alto zelo com a
titular de um gabinete que, segundo o líder do governo no Senado, Eduardo
Braga, “não é usado”. Por que a proteção por tantos anos a uma funcionária de
uma repartição que não serve para nada?
Aí está o engano. O tal gabinete era muito útil. Ali se
fechavam excelentes negócios particulares. A venda de pareceres das agências
reguladoras para empresários, por exemplo, ampliou a função desses órgãos
técnicos. Como se sabe, eles foram criados no governo Fernando Henrique para
acabar com a interferência política dos ministérios nas decisões sobre
infra-estrutura. No governo Lula, as agências se tornaram importantíssimas para
abrigar companheiros e seus afilhados. Ou seja: criadas para acabar com a
politicagem, elas se tornaram a própria politicagem. Continuaram seguindo
estritamente critérios técnicos – a técnica do cabide.
A venda de pareceres – R$ 300 mil um laudo da Agência
Nacional de Aviação Civil – tornou esses órgãos técnicos ainda mais lucrativos.
Por coincidência, Erenice também intermediava bons negócios com a Anac, onde
seu filho trabalhara. A filha de Rosemary também estava empregada nessa agência,
dirigida por um comparsa da chefe de gabinete da Presidência, segundo a Polícia
Federal. Dilma está demitindo todo mundo, horrorizada. Ela nem podia imaginar
quantas maldades essa turma andava fazendo. É bem verdade que Rosemary falava
quase diariamente com Lula. Mas Dilma nem se lembra direito quem é Lula.
Não se lembra que nomeou Rosemary, nem que a manteve no
cargo, assim como o Brasil não se lembra de Erenice. A memória dos brasileiros
só alcança o momento em que Dilma resolveu extinguir a representação da
Presidência em São Paulo. Afinal, ela não servia para nada mesmo. Quase nada.
No embalo, a faxineira poderia extinguir também a
Advocacia-Geral da União, cujo sub-chefe está entre os suspeitos no caso
Rosemary. Quem sabe, Dilma não devesse extinguir também o Ministério do
Desenvolvimento, cuja principal finalidade hoje é abrigar Fernando Pimentel, o
consultor fantasma? Pimentel arrecadou R$ 2 milhões por seus belos olhos de
amigo da presidente, e estava em reuniões intermediadas por Rosemary no gabinete
fantasma. A única coisa palpável entre tantos fantasmas é o lucro privado dos
guerrilheiros estatais.
A demissão do diretor da Anac, flagrado no esquema de
Rosemary, mostra como o governo Dilma está preparando bem os aeroportos para a
Copa do Mundo, daqui a um ano e meio. Pode-se imaginar a festa que foram as
concessões para as empresas que administrarão o setor. Mas Dilma não tem nada
com isso.
De Erenice a Rosemary, o governo do PT é repleto de
parasitas por um acidente natural, uma espécie de furacão Sandy do
fisiologismo. A República só não desmorona porque o Brasil tem Dilma, vassoura,
pano de chão e memória de protozoário.
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