Não nos deve surpreender que, a maior parte das vezes, os
imbecis triunfem mais no mundo do que os grandes talentos. Enquanto estes têm
por vezes de lutar contra si próprios e, como se isso não bastasse, contra
todos os medíocres que detestam toda e qualquer forma de superioridade, o
imbecil, onde quer que vá, encontra-se entre os seus pares, entre companheiros
e irmãos e é, por espírito de corpo instintivo, ajudado e protegido. O estúpido
só profere pensamentos vulgares de forma comum, pelo que é imediatamente
entendido e aprovado por todos, ao passo que o génio tem o vício terrível de se
contrapor às opiniões dominantes e querer subverter, juntamente com o
pensamento, a vida da maioria dos outros.
Isto explica por que as obras escritas e realizadas pelos imbecis são tão abundante e solicitamente louvadas - os juízes são, quase na totalidade, do mesmo nível e dos mesmos gostos, pelo que aprovam com entusiasmo as ideias e paixões medíocres, expressas por alguém um pouco menos medíocre do que eles.
Isto explica por que as obras escritas e realizadas pelos imbecis são tão abundante e solicitamente louvadas - os juízes são, quase na totalidade, do mesmo nível e dos mesmos gostos, pelo que aprovam com entusiasmo as ideias e paixões medíocres, expressas por alguém um pouco menos medíocre do que eles.
Este favor quase universal que acolhe os frutos da
imbecilidade instruída e temerária aumenta a sua já copiosa felicidade. A obra
do grande, ao invés, só pode ser entendida e admirada pelos seus pares, que
são, em todas as gerações, muito poucos, e apenas com o tempo esses poucos
conseguem impô-la à apreciação idiota e ovina da maioria. A maior vitória dos
néscios consiste em obrigar, com certa frequência, os sábios a atuar e falar
deles, quer para levar uma vida mais calma, quer para a salvar nos dias da
epidemia aguda da loucura universal.
Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'
Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'
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