Produção científica brasileira gera cada vez mais artigos, mas poucos produtos inovadores
Por Marcos Troyjo*
O número de patentes geradas a cada ano não é a única forma de medir o
que um país produz em termos de inovação. Quando, no entanto, se trata
de pedir registro de novas patentes à OMPI (Organização Mundial da
Propriedade Intelectual), os números são embaraçosos.
Em 2012, os EUA entraram com 50 mil novos pedidos; China, 17 mil; Coreia do Sul, 11.000. Brasil? Pouco mais de 600.
Por que o Brasil vai mal em inovação intensiva em tecnologia quando o mundo nos vê criativos e empreendedores?
Nossa criatividade voltada ao mercado é bem-sucedida: o aclamado design
das Havaianas e os cosméticos ecologicamente corretos da Natura são bons
exemplos.
Ademais, o Relatório de 2010 do Global Entrepreneurship Monitor aponta o Brasil como o mais empreendedor dos países do G20.
Por que então não surgem mais start-ups brasileiras com potencial para
virarem novos Googles ou Teslas? Bem, "criatividade não é suficiente",
estipulava Theodore Levitt. Para esse lendário guru de Harvard,
"criatividade é pensar coisas novas, inovação é fazer coisas novas".
A inovação brasileira é do tipo "adaptação criativa", não a
schumpeteriana "destruição criativa", que reinventa setores e inaugura
ciclos econômicos. É a isso que convida a política industrial de
substituição de importações dos últimos dez anos.
Inovar vem da interação entre capital, conhecimento, empreendedorismo e
um ecossistema que catalise tudo isso. Seria possível esperar do Brasil
grandes inovações quando investimos apenas 1% de nosso PIB em pesquisa
& desenvolvimento (P&D)? A média nos 20 países mais inovadores é
de 2,3%.
O Brasil concentra 80% dos gastos com inovação em instituições
governamentais. A maioria dedica-se à ciência pura. Interação com
empresas não faz parte de seu ethos.
E nas universidades públicas muitos professores e alunos demonstram feroz resistência ideológica a laços estreitos com empresas.
A presidente Dilma Rousseff busca estimular a inovação por meio do
"Ciência sem Fronteiras". Ainda que louvável, o programa apenas
tangencia a P&D orientada a mercado, o que requer do Brasil ambiente
de negócios conducente à inovação.
Resultado: a "produção científica" brasileira expande-se com mais e mais
artigos publicados em revistas indexadas, mas poucos produtos
inovadores.
Mas se seu papel é chave, por que o setor privado investe tão pouco em inovação?
Abismo entre universidades e empresas. Políticas que sufocam a
concorrência. Complexidades burocráticas, trabalhistas e fiscais a
exaurir recursos que poderiam ser destinados a laboratórios e
cientistas.
Eis os fatores que arrastam o Brasil à 56 ª posição no mais recente Relatório de Competitividade Global.
Nosso subdesempenho inovador tem menos que ver com deficiências na
ciência, criatividade ou capacidade empreendedora e mais com camisas de
força microeconômicas e institucionais. Os obstáculos que coíbem a
inovação empresarial são os mesmos que bloqueiam nosso caminho à
prosperidade.
* Marcos Troyjo é graduado em ciência política e economia pela
Universidade de São Paulo (USP), doutor em sociologia das relações
internacionais pela USP e diplomata. É integrante do Conselho Consultivo
do Fórum Econômico Mundial, diretor do BRICLab da Universidade
Columbia, pesquisador do Centre d´Études sur l´Actuel et le Quotidien
(CEAQ) da Universidade Paris-Descartes (Sorbonne), fundador do Centro de
Diplomacia Empresarial e conselheiro do Centro de Integração
Empresa-Escola (CIEE).
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