quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Riscos do pré-sal

Passada a tensão do governo com o leilão do megacampo de Libra, um evento que reuniu um único consórcio de quatro petroleiras, afora a Petrobras, mas melhor que o receio de que não comparecesse ninguém, as atenções retornam para a realidade da economia, mais salgada que a expectativa de lucros bilionários do pré-sal daqui a uma década.
Até 2027, quando Libra poderá produzir 1,4 milhão de barris/dia, segundo projeção da Agência Nacional do Petróleo, com a produção total do país em torno de 4,4 milhões/dia, acima do dobro da atual contagem, o pré-sal vai impressionar mais pelo desembolso que pela receita e pela distribuição de 15% de royalties à educação (75% do bolo) e à saúde (25%). O início comercial da exploração de Libra será gradativo, por volta de 2017, se não surgir nenhum imprevisto.
Até lá, o pré-sal explorado sob o regime de partilha (que garante à União um naco da produção de petróleo, 41,65% no caso de Libra, em vez das taxas cobradas no modelo de concessão) não será a riqueza sonhada pelos governadores e prefeitos que exigiram do Congresso os royalties repassados nacionalmente. Como em qualquer projeto novo, há o tempo de plantar, que demanda dinheiro, e o de colher, quando se recupera com lucro, tudo correndo bem, o que foi plantado.
Entre um e outro momento, planejam-se os próximos passos, o que já não se fez, na medida em que os políticos se posicionam para gastar por conta do resultado futuro. Eles falaram em educação de primeiro mundo, associando gasto a qualidade, conceitos sem relação de causa e efeito, em geral. Meses atrás, o ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, cogitou o ingresso do Brasil no cartel da Opep. Do sal que se tem de comer antes do mel projetado pelo pré-sal, ninguém disse.
O que a operação reserva à Petrobras, mesmo auxiliada pelos sócios do consórcio (as petroleiras Shell e Total, que também vão aportar experiência, e as chinesas CNPC e CNOOC, apenas dinheiro), é uma pancada. Parte está contemplada em seu plano de negócios até 2017, orçado em US$ 237 bilhões, 62% em exploração e produção, sobretudo para desenvolver o pré-sal e os campos da "cessão onerosa" — forma "criativa" de a União integralizar em 2010 um aumento de capital em valor equivalente a 5 bilhões de barris de óleo. Potencialmente, a Petrobras é uma joia. Mas precisa ser lapidada para vir a brilhar.

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