terça-feira, 9 de setembro de 2014

Olhando para a frente

Olhando para a frente

Por Fersen Lambranho *

De acordo com a sabedoria oriental, quem não aprende com o passado, comete os mesmos erros no presente e compromete o futuro.
Em 1980, logo após ser eleito, Ronald Reagan dirigiu as seguintes palavras à nação americana, palavras estas que poderiam fazer parte do discurso de posse de qualquer um dos nossos atuais candidatos a presidente da República: "Temos que agir ousada, decisiva e rapidamente a fim de controlar o crescimento desmedido dos gastos federais, eliminar os desincentivos fiscais que estrangulam a economia e reformar a teia regulamentadora que a sufoca.
Temos que manter a taxa de crescimento dos gastos governamentais em níveis razoáveis e prudentes.
Temos que reduzir as taxas incidentes sobre a renda pessoal, acelerar e simplificar de modo ordenado e sistemático as taxas de depreciação, a fim de remover os desincentivos ao trabalho, à poupança, aos investimentos e à produtividade.
Temos que rever os regulamentos que afetam a economia e mudá-los de maneira a estimular o crescimento.
Precisamos instituir uma política monetária estável, válida e previsível".
A este discurso, eu acrescentaria os ensinamentos de Milton e Rose Friedman, descritos no excelente livro "Tirania do Status Quo": "Um novo governo dispõe de seis a nove meses a fim de produzir novas mudanças. Se não aproveitar a oportunidade e agir decisivamente nesse período, não terá outra igual. As mudanças adicionais virão apenas lentamente, ou não virão em absoluto, e contra-ataques serão desfechados contra as mudanças iniciais. As forças políticas temporariamente derrotadas reagrupam as suas hostes e tendem a mobilizar todos os que foram prejudicados pelas mudanças, enquanto os proponentes destas tendem a relaxar após as primeiras vitórias".
Quem vier por aí, com a legitimidade de milhões de votos, terá de arrumar a casa e repensar o país, de modo a reinseri-lo na nova fase de reglobalização, uma vez que a globalização se encerrou com a crise de 2008. Usando uma linguagem bem simples, utilizada na indústria automobilística, em vez dos Brics 1.0 - Brasil, Rússia, Índia e China -, temos agora os Brics 2.0 com a inclusão da África do Sul.
A questão ideológica está em extinção e só persiste no bolivarianismo anacrônico de alguns dos nossos vizinhos - os que estão em pior situação econômica, por sinal. Os acordos no mundo atual passam a ser feitos por interesses econômicos pontuais, tais como Estados Unidos-Europa; Moscou-Pequim; Transpacífico: Estados Unidos- México-Colômbia-Peru-Chile e Austrália etc. Os blocos que congregam as nações independentemente de suas ideologias é que se tornaram atores relevantes. As Organização nas Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) passaram a ter uma importância relativa.

Embora a China tenha desacelerado o seu crescimento, 7,5% sobre US$ 9 trilhões ainda constitui uma montanha de dinheiro. Neste ritmo, a China ultrapassa os Estados Unidos até 2023. Isto só aconteceu no século XIX, em 1871, quando os Estados Unidos tomaram o lugar da Inglaterra como maior potência mundial e, antes disso, no século XVII, no momento em que a Inglaterra superou a China no comércio internacional. Portanto, estamos assistindo ao início de um longo ciclo.
Neste novo mundo, o Brasil não pode continuar a ter uma economia tímida e fechada. No grupo que reúne as principais nações ricas e emergentes, o nosso país é onde o comercio internacional tem menor relevância para a economia. Exportações e importações somadas em relação ao PIB, temos um percentual de 21% contra 87% da Coreia do Sul, 63% do México, 34% da Austrália e 25% da Argentina. É muito pouco!
No índice de liberdade econômica medido pela Heritage Foundation (centro de pesquisa com sede em Washington), que toma como base de aferição o direito de propriedade, os gastos do governo, o nível de corrupção, o sistema tributário, as regras do mercado de trabalho, a legislação sobre o fluxo de capital e a abertura comercial de 185 países, numa escala de zero a cem, o Brasil aparece com o índice de 56,9, contra 90,1 de Hong Kong; 89,4 de Singapura; 82 da Austrália; 81,2 da Nova Zelândia; 75,5 dos Estados Unidos e 74,9 do Reino Unido.
Seja quem for o eleito, torna-se imprescindível acabar com a alergia ao liberalismo. Ao lado de corrigir-se rumos da economia, é necessário reparar erros do passado, quando se deixou de investir de maneira necessária na educação, saúde e segurança, justamente os problemas que os brasileiros, ricos e pobres, apontam como os maiores responsáveis pela nossa imensa dívida social, que vem desde os tempos coloniais.
Somente assim poderemos atrair um fluxo contínuo de capital. Num primeiro momento, atitudes macroeconômicas, apesar de necessárias, atraem recursos de curto prazo. Porém, o que precisamos são políticas permanentes de Estado, que sejam seguidas por um programa de ação ininterrupta de governo por longos períodos e por seguidos mandatos, a fim de transmitir à comunidade de negócios internacional e aos formadores de opinião uma visão séria e perene do nosso país.

* Fersen Lambranho é engenheiro com mestrado na UFRJ, empresário e chairman da GP Investments.

FONTE: Valor Econômico S.A.

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