Olhando para a frente
Por Fersen Lambranho *
De acordo com a sabedoria oriental, quem não
aprende com o passado, comete os mesmos erros no presente e
compromete o futuro.
Em 1980, logo após ser eleito, Ronald Reagan
dirigiu as seguintes palavras à nação americana, palavras estas
que poderiam fazer parte do discurso de posse de qualquer um dos
nossos atuais candidatos a presidente da República: "Temos que
agir ousada, decisiva e rapidamente a fim de controlar o crescimento
desmedido dos gastos federais, eliminar os desincentivos fiscais que
estrangulam a economia e reformar a teia regulamentadora que a
sufoca.
Temos que manter a taxa de crescimento dos gastos
governamentais em níveis razoáveis e prudentes.
Temos que reduzir as taxas incidentes sobre a
renda pessoal, acelerar e simplificar de modo ordenado e sistemático
as taxas de depreciação, a fim de remover os desincentivos ao
trabalho, à poupança, aos investimentos e à produtividade.
Temos que rever os regulamentos que afetam a
economia e mudá-los de maneira a estimular o crescimento.
Precisamos instituir uma política monetária
estável, válida e previsível".
A este discurso, eu acrescentaria os ensinamentos
de Milton e Rose Friedman, descritos no excelente livro "Tirania
do Status Quo": "Um novo governo dispõe de seis a nove
meses a fim de produzir novas mudanças. Se não aproveitar a
oportunidade e agir decisivamente nesse período, não terá outra
igual. As mudanças adicionais virão apenas lentamente, ou não
virão em absoluto, e contra-ataques serão desfechados contra as
mudanças iniciais. As forças políticas temporariamente derrotadas
reagrupam as suas hostes e tendem a mobilizar todos os que foram
prejudicados pelas mudanças, enquanto os proponentes destas tendem
a relaxar após as primeiras vitórias".
Quem vier por aí, com a legitimidade de milhões
de votos, terá de arrumar a casa e repensar o país, de modo a
reinseri-lo na nova fase de reglobalização, uma vez que a
globalização se encerrou com a crise de 2008. Usando uma linguagem
bem simples, utilizada na indústria automobilística, em vez dos
Brics 1.0 - Brasil, Rússia, Índia e China -, temos agora os Brics
2.0 com a inclusão da África do Sul.
A questão ideológica está em extinção e só
persiste no bolivarianismo anacrônico de alguns dos nossos vizinhos
- os que estão em pior situação econômica, por sinal. Os acordos
no mundo atual passam a ser feitos por interesses econômicos
pontuais, tais como Estados Unidos-Europa; Moscou-Pequim;
Transpacífico: Estados Unidos- México-Colômbia-Peru-Chile e
Austrália etc. Os blocos que congregam as nações
independentemente de suas ideologias é que se tornaram atores
relevantes. As Organização nas Nações Unidas (ONU) e a
Organização Mundial do Comércio (OMC) passaram a ter uma
importância relativa.
Embora a China tenha desacelerado o seu
crescimento, 7,5% sobre US$ 9 trilhões ainda constitui uma montanha
de dinheiro. Neste ritmo, a China ultrapassa os Estados Unidos até
2023. Isto só aconteceu no século XIX, em 1871, quando os Estados
Unidos tomaram o lugar da Inglaterra como maior potência mundial e,
antes disso, no século XVII, no momento em que a Inglaterra superou
a China no comércio internacional. Portanto, estamos assistindo ao
início de um longo ciclo.
Neste novo mundo, o Brasil não pode continuar a
ter uma economia tímida e fechada. No grupo que reúne as
principais nações ricas e emergentes, o nosso país é onde o
comercio internacional tem menor relevância para a economia.
Exportações e importações somadas em relação ao PIB, temos um
percentual de 21% contra 87% da Coreia do Sul, 63% do México, 34%
da Austrália e 25% da Argentina. É muito pouco!
No índice de liberdade econômica medido pela
Heritage Foundation (centro de pesquisa com sede em Washington), que
toma como base de aferição o direito de propriedade, os gastos do
governo, o nível de corrupção, o sistema tributário, as regras
do mercado de trabalho, a legislação sobre o fluxo de capital e a
abertura comercial de 185 países, numa escala de zero a cem, o
Brasil aparece com o índice de 56,9, contra 90,1 de Hong Kong; 89,4
de Singapura; 82 da Austrália; 81,2 da Nova Zelândia; 75,5 dos
Estados Unidos e 74,9 do Reino Unido.
Seja quem for o eleito, torna-se imprescindível
acabar com a alergia ao liberalismo. Ao lado de corrigir-se rumos da
economia, é necessário reparar erros do passado, quando se deixou
de investir de maneira necessária na educação, saúde e
segurança, justamente os problemas que os brasileiros, ricos e
pobres, apontam como os maiores responsáveis pela nossa imensa
dívida social, que vem desde os tempos coloniais.
Somente assim poderemos atrair um fluxo contínuo
de capital. Num primeiro momento, atitudes macroeconômicas, apesar
de necessárias, atraem recursos de curto prazo. Porém, o que
precisamos são políticas permanentes de Estado, que sejam seguidas
por um programa de ação ininterrupta de governo por longos
períodos e por seguidos mandatos, a fim de transmitir à comunidade
de negócios internacional e aos formadores de opinião uma visão
séria e perene do nosso país.
* Fersen Lambranho é engenheiro com
mestrado na UFRJ, empresário e chairman da GP Investments.
FONTE: Valor Econômico S.A.
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