segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Erre mais

Por Romeu Zema
Presidente do Grupo Zema
 
Este pedido pode soar estranho, mas uma das maiores batalhas que tenho travado é justamente esta - pedir às pessoas que errem mais. Mas não é fazer errado aquilo que já se sabe fazer. O erro pelo qual imploro é de outra natureza, é aquele cometido por quem tenta fazer algo novo ou diferente. Tentar o novo, arriscar, gera ansiedade, insegurança e desconforto. É por isto que gostamos de lidar somente com o que dominamos e conhecemos. O desconhecido nos ameaça e intimida. Mas é preciso mudar!
Quem tem medo não arrisca. Quem não arrisca não tenta. Quem não tenta não inova. Quem não inova fica estagnado. Profissionais e empresa estagnados perdem espaço e desaparecem! Não há nada mais frustrante que assistir às pessoas executarem suas tarefas, ano após ano, exatamente da mesma maneira. A impressão que fica é que não pensam, não questionam e que são incapazes de almejar ou enxergar melhorias.
DESCONDICIONAR
A causa deste comportamento apático tem a ver não só com medo, mas também com desinteresse, educação e experiências castradoras. Durante nossa vida, é provável que as frases que mais escutamos de nossos pais, professores e chefes tenham sido: “fica quieto”, “você nunca faz nada certo”, “faça somente o que eu pedir”, “o jeito certo de fazer é este”, “a resposta certa é esta”, “sua opinião não me interessa” e “isto sempre foi feito assim”...
Pronto! Nossa cabeça ficou condicionada a pensar pouco, a não questionar, a não criar nada! Passamos a agir como robôs. Fazemos somente o que é solicitado e do jeito solicitado! Quanto desperdício! Simplesmente deixamos de acreditar que tudo pode ser melhorado.
Daí a importância de um ambiente aberto, em que as opiniões são consideradas e é permitido questionar, arriscar e experimentar o novo. Chefes que não agem desta forma com sua equipe estão jogando na lata de lixo o recurso mais importante e valioso de que eles e a empresa dispõem - cérebros.
TRABALHO EM EQUIPE
Não confunda inovação com sair por aí fazendo o que você imagina ser o melhor e tem vontade de testar. Isto não é inovação, é anarquia e, às vezes, o caos. Inovar exige discussão, planejamento, organização e medição. Quando discutimos uma nova ideia com os outros, sempre somos alertados para uma série de fatores ou riscos que desconsideramos. A partir destas considerações, podemos chegar à conclusão de que a ideia não é viável ou que pode ser aperfeiçoada. As inovações são sempre fruto do trabalho coletivo e de equipes afinadas. Aí está a importância dos líderes e gestores, cabe a eles agir como catalizadores e propiciar a criação deste ambiente adequado ao questionamento.
FACILIDADE
Temos uma grande vantagem - nossa operação é pulverizada, logo podemos utilizar apenas uma pequena parte da empresa (por exemplo, 4 lojas) como “laboratório de teste”. Isto significa baixo investimento, aplicação e medição do resultado mais fáceis. Se a experiência falhar, perdemos pouco em valor e tempo. E mesmo assim ganhamos conhecimento, pois todo fracasso ensina mais que o sucesso.
Se a experiência prosperar, teremos condição de estendê-la e multiplicá-la por toda a operação. Ou seja, o custo de falhar é muito pequeno, e o retorno pelo êxito é grande. Um grande motivo para não temermos experimentar o desconhecido e arriscar mais.
Mesmo em processos abrangentes, em que não é possível separar um “laboratório”, é justificável experimentar. Na pior das hipóteses, o teste falha e se pode voltar ao estado pré-teste.
MUDANÇA DE CULTURA
Nossa cultura sempre foi voltada para o desempenho, valorizamos aqueles que mais produzem, os que mais acertam e os mais rápidos. Isto está certo, mas não completamente. Além de desempenho é preciso valorizar o aprendizado, aqueles que mais experimentam e assumem riscos. As melhorias e inovações estão nas mãos destas pessoas, que podem não ser as de melhor desempenho.
A empresa sempre esteve disposta a testar e a perder em novas experiências. Errar e perder faz parte do processo de desenvolvimento. Apesar dos avanços, ainda estamos engatinhando neste processo de acelerar e gerir inovações. O papel do gestor é de fundamental importância, cada colaborador é uma semente. Cabe a ele adubar, aguar e cuidar.

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