terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os 120 anos de atualidade do Monarquist​a Eduardo Prado

 
Eduardo Prado
 
"Sejamos nós mesmos, sejamos o que somos, e só assim seremos alguma coisa."
 
Em 5 de dezembro de 1893, portanto há 120 anos a polícia de São Paulo fez a primeira apreensão de um livro censurado desde a proclamação da República, quatro anos antes. A obra se chamava A Ilusão Americana. Seu autor, Eduardo Prado, relataria depois: “O delegado entrou pela oficina e mandou ajuntar todos os exemplares do livro, mandando-os amontoar na carroça. O burro e o delegado levaram o livro para a repartição da polícia”. Ameaçado de prisão, Prado fugiu para Paris. Seu texto era considerado subversivo porque criticava o sistema republicano. “As monarquias têm todo o interesse em adiar e evitar a grande crise do proletariado. (...) Na república (...) os homens sabem que, quer encham o seu país de benefícios, quer acumulem erros sobre erros, terão (...) de deixar o poder”.
A defesa da monarquia era coerente com a história de Prado. Filho de uma tradicional família de cafeicultores paulistas, ele era um dos maiores representantes da elite monárquica brasileira. Culto, requintado, foi amigo do escritor português Eça de Queiroz (1845-1900). Em sua última visita a São Paulo, em 1887, dom Pedro II fez questão de visitar a mãe de Eduardo, Veridiana Prado, em seu palacete, que depois seria ocupado pelo São Paulo Clube, no bairro nobre de Higienópolis. Mas, para além das críticas que irritaram a polícia do marechal Floriano, A Ilusão Americana tinha outro mérito, que só ficou claro com o passar do tempo: o livro de Prado era um dos primeiros panfletos a criticar a política externa americana. “[Em alguns] países sul-americanos, (...) há uma grande prevenção contra a política absorvente, invasora e tirânica da diplomacia norte-americana.” E nisso ele se revelaria profético.
Cinco anos depois da publicação de seu livro, os Estados Unidos venceriam a guerra contra a Espanha na região do Caribe e estenderiam seu controle sobre a América Central. Mas Eduardo não viveu para ver os americanos assumirem o papel de líderes mundiais. Ele conseguiu voltar a morar em São Paulo em 1900, apenas para morrer de febre amarela, no ano seguinte. Mas seu livro se mantém precursor da linha de pensamento que considera os americanos excessivamente intervencionistas.

 As palavras abaixo foram escritas em 1893, muito antes das ongs financiadas pelas fundações americanas (e também europeias) ditarem as normas para o comportamento social e moral dos brasileiros. Não existe um único aspecto nas relações humanas que não seja objeto da transformação do jeito brasileiro no modo de ser dos liberais americanos e seus homólogos do decadente continente. Se naquela época já eram uma influência negativa, hoje basta olhar ao redor para ver quanto avançou a obra.

"Que não há razão para querer o Brasil imitar os Estados Unidos, porque sairíamos da nossa índole, e, principalmente, por que já estão patentes e lamentáveis, sob nossos olhos, os tristes resultados da nossa imitação;
Que os pretendidos laços que se diz existirem entre o Brasil e a república americana são fictícios, pois não temos com aquele país afinidades de natureza alguma real e duradoura;
Que a história da política internacional dos Estados Unidos não demonstra, por parte daquele país, benevolência alguma para conosco ou para com qualquer república latino-americana;
Que todas as vezes que tem o Brasil estado em contato com os Estados Unidos tem tido outras tantas ocasiões para se convencer de que a amizade americana (amizade unilateral e que, aliás, só nós apregoamos) é nula quando não é interesseira;
Que a influência moral daquele país, sobre o nosso, tem sido perniciosa
."


Segue uma "pérola" do mesmo livro, que pode ser aplicada ao Brasil atual:
 
"Ora,os países,vitimados pela superabundância de dinheiro,só tem um meio de escapar a esse mal,aliás singularíssimo.É fazer o bem. E há tantos modos de um governo ser benfazejo! NÃO FALAMOS DE SOCORROS PÚBLICOS,DE GRANDES ESMOLAS COLETIVAS,DE DINHEIRO DISTRIBUÍDOS PELOS POBRES OU PELOS SOLDADOS,SINAIS CERTOS ESTES DO ESFACELAMENTO DO CARÁTER NACIONAL,FATOS PRÓPRIOS DAS TIRANIAS EXPIANTES E DOS PRETORIANOS INSACIÁVEIS.(grifo nosso) A ciência ´política caminhou desde a antiguidade.Hoje,o dinheiro público,que vem do imposto,sendo mais do que é necessário para os serviços públicos,o que há a fazer é pagar as dívidas do estado,se o estado tem dívidas.Se as não tem ou se não convém liquidá - las por qualquer razão,não há outro ALVITRE HONESTO SENÃO A DIMINUIÇÃO DOS IMPOSTOS." 
 

A Ilusão Americana, escrito por Eduardo Prado, é uma excelente leitura. Principalmente para entender a amizade e a fraternidade entre os países. O livro foi censurado e recolhido durante a ditadura de Floriano Peixoto devido às críticas ao governo republicano. Obrigando o autor a se exilar na Europa para não ser preso.

Nascido em 27 de fevereiro de 1860, faleceu aos 41 anos. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e também membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
 
 
 





 
 

2 comentários:

Sonia disse...

Muito bom! Coerente e propicio à reflexão.

Abraços

Sonia Rodrigues

Sonia disse...

Muito bom! Coerente para reflexão.

Abraços
Sonia Rodrigues