Por MARCO ANTONIO VILLA *
É muito difícil encontrar na história brasileira um triênio
presidencial com resultados tão pífios como o da presidente Dilma
Rousseff. Desde a redemocratização de 1985, o único paralelo possível é
com o triênio de Fernando Collor, que conseguiu ser pior que o da
presidente. Em dois dos três anos houve recessão (1990 e 1992).
Mas Collor encontrou um país destroçado. Recebeu o governo com uma
inflação anual de 1.782%, as contas públicas em situação caótica e uma
absoluta desorganização econômica.
Dilma assumiu a presidência com um crescimento do PIB de 7,5%. Claro
que o dado puro é enganoso. Em 2009 o país viveu uma recessão. Mas o
poder de comunicação de Lula foi tão eficaz que a taxa negativa de 0,2%,
deu a impressão de crescimento ao ritmo chinês — naquele ano, a China
cresceu 8,7%.
No campo da ética, o triênio foi decepcionante. Nos dois primeiros
anos, a presidente bem que tentou assumir um discurso moralizador. Seus
epígonos até cunharam a expressão “faxineira”. Ela iria, sem desagradar a
seu criador, limpar o governo de auxiliares corruptos, supostamente
herdados de Lula.
Fez algumas demissões. Chegou até a entusiasmar alguns ingênuos. Logo
interrompeu as ações de limpeza e, mais importante, não apurou nenhuma
das denúncias que levaram às demissões dos seus auxiliares. Todos — sem
exceção — continuaram livres, leves e soltos. E mais: alguns passaram a
ser consultores de fornecedores do Estado. Afinal, como conheciam tão
bem o caminho das pedras….
Sem carisma e liderança, restou a Dilma um instrumento poderoso: o de
abrir as burras do Tesouro para seus aliados. E o fez sem qualquer
constrangimento. As contas públicas foram dilaceradas e haja
contabilidade criativa para dar algum ar de normalidade.
Todos os programas do seu triênio fracassaram. Nenhum deles conseguiu
atingir as metas. Passou três anos e não inaugurou nenhuma obra
importante como um aeroporto, um porto, uma estrada, uma usina
hidrelétrica. Nada, absolutamente nada.
O método petista de justificar a incompetência sempre foi de atribuir
ao antecessor a culpa pelos problemas. É construído um discurso que
sataniza o passado. Mas, no caso da presidente, como atribuir ao
antecessor os problemas? A saída foi identificar os velhos espectros que
rondam a história brasileira: os Estados Unidos, o capitalismo
internacional, o livre mercado.
A política externa diminuiu o tom panfletário, que caracterizou a
gestão Celso Amorim. Mas a essência permaneceu a mesma. O sentido
antiamericano — cheirando a naftalina — esteve presente em diversas
ocasiões. Em termos comerciais continuamos amarrados ao Mercosul,
caudatários da Argentina e, quando Chávez vivia, da Venezuela (basta
recordar a suspensão do Paraguai). Insistimos numa diplomacia Sul-Sul
fadada ao fracasso. No triênio não foi assinado sequer um acordo
bilateral de comércio.
A política de formar grandes grupos econômicos — as empresas “campeãs
nacionais” — teve um fabuloso custo para o país: 20 bilhões de reais. E
o BNDES patrocinou esta farra, associado aos fundos de pensão das
empresas e bancos públicos. Frente à burguesia petista, J.J. Abdalla, o
famoso mau patrão, seria considerado um exemplo de honorabilidade e
eficiência.
A política de energia ficou restrita à manipulação dos preços dos
combustíveis fornecidos pela Petrobras. Enquanto diversos países estão
alterando a matriz energética, o Brasil ficou restrito ao petróleo e
apostando na exploração do pré-sal, que poderá se transformar em uma
grande armadilha econômica para o futuro do país.
A desindustrialização foi evidente. Nos últimos três anos o país
continuou sem uma eficaz política industrial. Permaneceu dependente da
matriz exportadora neocolonial, que gerou bons saldos na balança
comercial, porém desperdiçando bilhões de reais que poderiam ser
agregados ao valor das mercadorias exportadas.
O Ministério da Defesa sumiu do noticiário. Celso Amorim, tão falante
quando estava à frente do ministério das Relações Exteriores, é uma
espécie de titular fantasma. Pior, continuamos sem política de defesa, e
as Forças Armadas estão muito distante do cumprimento das suas
atribuições constitucionais. Sem recursos, sem treinamento, sem
equipamento — sempre aguardando o recebimento da última sucata
descartada pelos europeus e americanos.
A equipe ministerial ajuda a explicar a mediocridade do governo. Quem
se arriscaria citar o nome de cinco ministros? Quem é o ministro dos
Portos? E o da Integração Nacional? Alguém sabe quem é o ministro da
Agricultura?
A presidente recebeu o governo com 38 ministérios. Não satisfeita com
o inchaço administrativo, criou mais: o da micro e pequena empresa, tão
inexpressivo que sequer possui um site.
Se as realizações do triênio são pífias, é inegável a eficiência da
máquina de propaganda. O DIP petista deixou seu homônimo varguista no
chinelo. De uma hora para outra, segundo o governo, o Brasil passou a
ter mais 20 milhões de pessoas na classe média. Como? Tal movimento é
impossível de ter ocorrido em tão curto espaço de tempo e, mais
importante, com uma taxa de crescimento medíocre. Mas a repetição do
“feito” transformou a fantasia estatística em realidade econômica.
Dilma Rousseff encerra seu triênio governamental melancolicamente. Em
2012, o crescimento médio mundial foi de 3,2% e o dos países emergentes
de 5,1%. E o Brasil? A taxa de crescimento não estava correta. A
“gerentona” exigiu a revisão dos cálculos. O PIB não cresceu 0,9%. O
número correto é 1%! Fantástico.
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