domingo, 30 de janeiro de 2011

Crise no Egito

Na VEJA desta semana, Diogo Schelp escreve um excelente texto sobre a crise politica no Egito, de que reproduzo alguns trechos.

(…)
Os ditadores e as casas reais sempre foram as únicas verdadeiras esperanças de conter o radicalismo islâmico no Oriente Médio. Sem eles, o poder migra naturalmente para os grupos radicais que, já dominando os corações das multidões de fanáticos e passando-se por democratas, conquistam a mente do moderados. O Hamas. vitorioso nas eleições legislativas palestinas, em 2006, é um exemplo. O grupo terrorista hoje controla a Faixa de Gaza - onde as mulheres já não saem à rua sem o véu islâmico -, e o cada vez mais enfraquecido Fatah, um partido secular, domina a Cisjordânia. Na semana passada, o Hezbollah, misto de partido político e grupo terrorista xiita do Líbano, uma das poucas democracias do Oriente Médio, reuniu as alianças necessárias para dar as cartas no poder.(…)
Outros grupos fundamentalistas do Oriente Médio ambicionam chegar ao poder pelo voto. Para isso, primeiro precisam garantir o direito de participar de eleições, o que explica seu interesse nas recentes revoltas populares. Para eles, qualquer mudança no status quo provocada por elas é bem-vinda: seja um golpe de estado clássico, seja a convocação de eleições limpas. Nem todos os que foram às ruas desejam viver sob um estado regido pelas leis de Alá, mas os fundamentalistas, na falta de outros setores de oposição bem organizados, são os favoritos para ascender ao poder em qualquer uma das duas situações. Algo semelhante ocorreu na revolução de 1979 no Irã, que inicialmente reunia grupos variados, inclusive comunistas, e acabou seqüestrada pelos aiatolás, cujo governo hoje patrocina o terrorismo internacional e trabalha para ameaçar o mundo com uma bomba atômica. No Irã. a ditadura do xá Reza Pahlevi, aliado dos Estados Unidos, foi substituída por uma ditadura teocrática e antiamericana. Pode-se imaginar o pesadelo se algo equivalente ocorrer no Egito, cujo governo, ainda que antidemocrático, é o principal parceiro do Ocidente na guerra ao terror e um dos poucos da região que vivem em paz com Israel.
É o que precisa ser dito. Reconhecer a realidade como é não significa gostar da realidade como é, entendem? Leiam isto:
“A única opção política no mundo árabe, atualmente, é o fundamentalismo islâmico. Não há outra oposição organizada, infelizmente. Ele atrai a simpatia popular com slogans simples e mágicos, como o de que o Islã é a solução para tudo. Os fundamentalistas pregam que o governo islâmico é o único modo de purificar a sociedade. A população acredita.”
Não se trata de nenhum antiislâmico radical. Ao contrário: a opinião é do advogado palestino Ghaith al-Omari, que foi assessor para assuntos externos do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

É evidente que os regimes tirânicos e corruptos do mundo árabe, muitos deles apoiados pelo Ocidente, não ajudaram a conter o radicalismo. Mas isso não pode nos levar a fechar os olhos para a realidade: os extremistas são os grandes vitoriosos na crise que toma conta desses países. A democracia é só um pretexto, quando é…

Por Reinaldo Azevedo

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