FONTE: Coluna do Augusto Nunes. - Revista VEJA
Em 15 de junho de 2007, numa cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Lula avalizou com um sorriso e aprovadores movimentos de cabeça o palavrório de Ricardo Teixeira, comandante perpétuo da CBF. “A Copa do Mundo é um evento privado”, garantiu o supercartola. “O melhor da Copa do Mundo é que é um evento que consome a menor quantidade de dinheiro público do mundo. O papel do governo não é de investir, mas de ser facilitador e indutor”
Quatro meses depois, Teixeira repetiu no Rio a manifestação de apreço pelos pagadores de impostos. “Faço questão absoluta de garantir que a Copa de 2014 será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas”. Em 4 de dezembro de 2007, também no Rio, o ministro do Esporte, Orlando Silva, oficializou a promessa com o aval de Lula: “Os estádios para a Copa do Mundo serão construídos com dinheiro privado. Não haverá um centavo de dinheiro público para os estádios”.
Três anos e meio depois da discurseira, está claro que os brasileiros foram vítimas do conto da Copa. Lula queria transformar a festa esportiva em trunfo eleitoreiro. Ricardo Teixeira queria ampliar o cacife para disputar a presidência da FIFA ─ e continuar prosperando. Orlando Silva também queria continuar prosperando, e para tanto era necessário convencer os crédulos de que todo delinquente é recuperável. Como a farra dos Jogos Panamericanos de 2007, que deveria custar R$ 450 milhões, acabara de engolir R$ 5 bilhões, o campeão brasileiro de despesas superfaturadas achou prudente jurar que a Copa sairia de graça.
Conversa de vigaristas, confirmou a performance do ministro nesta quarta-feira. Com a arrogância dos condenados à impunidade, subiu a voz alguns decibéis e passou a exigir que o governo de São Paulo e a prefeitura da capital arranjem o dinheiro que falta para a construção do estádio do Corinthians. “Quando você se candidata a receber a abertura de uma Copa, eu imagino que você saiba das responsabilidades que possui”, falou grosso Orlando Silva.
Conforme o combinado, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab estão investindo R$ 350 milhões em obras no entorno do local onde será erguido o estádio. O aprendiz de extorsionário acha pouco. Como a Odebrecht acaba de anunciar que o colosso orçado em R$ 650 milhões vai custar R$ 1 bilhão, quer que os paulistas banquem a diferença. E invoca o precedente aberto pelo governador Sérgio Cabral, que espetou nos bolsos dos fluminenses a conta da reforma do Maracanã. Deveria custar R$ 600 milhões. Acaba de saltar para R$ 950 milhões.
Como a Odebrecht, o consórcio que age no Maracanã aumentou a gastança em R$ 350 milhões. A quantia talvez tenha resultado da soma das comissões, propinas e taxas de sucesso. Até agora, a corrupção era medida em porcentagens. A bandidagem esportiva pode ter descoberto que fixar um preço para a roubalheira dá mais dinheiro e menos trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário