Por Vittorio Medioli
Os poderosos de antigamente mantinham ao seu lado,
além de ministros, banqueiros e generais, grupos ecléticos de
artistas, cientistas, arquitetos, filósofos, às vezes magos com
chapéus pontudos. Montavam grandes bibliotecas e valorizavam pessoas
de saber. As cortes eram os principais centros de cultura e
arte, fato que, pelo menos em parte, compensava as falhas
democráticas do sistema feudal conquistado na marra invariavelmente
com o apoio de um Maquiavel.
Os Medicis, senhores de Florença, interpretaram o
rolo dos monarcas mecenas melhor do que qualquer outro interessado de
sua época. Os gênios que cresceram à sombra dos Medicis ditaram o
estilo e os costumes de Roma, Londres, Paris, Viena, Praga, Moscou,
do mundo inteiro.
Os tempos mudaram. Ao contrário dos senhores de
Florença, os governantes da atualidade, produtos bastardos das
democracias, cultuam, por excelência e exclusividade, o populismo e
a demagogia. Sabem conviver com banqueiros, empreiteiros, economistas
cinzentos, às vezes com fraudadores, laranjas e figuras que, dos
antigos esplendores dos Medicis, não lembram nada.
Nada mesmo. Até os assessores destinados a
comparecer em público costumam despejar pouco brilho e quase nenhuma
admiração. Comunicam- se com linguagem arrastada e fria, adotada em
relatórios que servem para Bolsa de Valores e são ininteligíveis
às massas.
Poucos deles sabem soletrar o nome de uma meia
dúzia de filósofos, de pensadores humanistas; suas culturas parecem
fabricadas numa linha de montagem de caminhões.
O sistema favorece, nas proximidades do poder,
apenas os astutos e quem demonstra capacidade de sobreviver à
competitividade bestial. Em suma, quem se orienta num arcabouço
labiríntico que deveria servir ao povo, mas que dele suga, ou que
sempre sugou, favorecido pela ignorância e pela incapacidade do
próprio povo em decifrar o melhor.Platão julgava que os mais
ignorantes não teriam capacidade para escolher o melhor para eles.
Assim como as crianças não têm capacidade para se autogovernar.
Cosimo de Medici, que foi bastante amado pelos
seus súditos, se cercava de figuras como Marsilio Ficino, que
escreveu “O Modo de Capturar a Vida das Estrelas” (“De Vitae
Coelibus Comparanda”), obviamente para pô-las a serviço de um bom
governo. Algo de fantástico, comovente, que hoje não cabe no
apertado modo de viver e de ser malgovernado.
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