Herança Dilma
Por Miriam Leitão
O modelo Dilma fracassou. Em 2015, a economia terá que passar por
ajustes, mesmo na hipótese possível de ela se reeleger. O que Dilma
escolheu teve resultado negativo. Uma inflação corretiva será necessária
para salvar o setor de energia e combustíveis. Os truques contábeis e
as transferências para o BNDES escamotearam gastos que terão que ser
contabilizados.
A presidente Dilma, ninguém duvida, é chefe da
equipe econômica e comanda o setor elétrico. Ela não gosta de delegar, e
menos ainda nas duas áreas, porque ela é economista e foi ministra das
Minas e Energia. Está convencida de que tem as melhores propostas.
O
modelo Dilma é baseado na repressão das tarifas públicas como política
anti-inflacionária; desonerações de impostos e empréstimos subsidiados
para alguns setores como incentivo ao crescimento; estímulo ao consumo
através do crédito dos bancos públicos; incentivo à apreciação cambial;
forte redução de taxa de juros; um pouco mais de inflação e relaxamento
fiscal.
Ao fim de dois anos e meio, a Petrobras e o setor elétrico
estão descapitalizados; a arrecadação tem desacelerado e o superávit
primário caiu; transferências aos bancos públicos já representam 9% do
PIB e viraram um orçamento paralelo e um novo esqueleto; as famílias
estão endividadas; a inflação ficou alta por tempo demais, corroeu a
renda e os juros voltaram a subir. Um choque externo está elevando o
dólar muito além do que se pretendia, e o déficit em transações
correntes aumentou.
Quando algumas das políticas começaram a
mostrar efeitos colaterais, o governo optou pelas gambiarras. A queda do
desempenho fiscal tem sido escamoteada através de truques contábeis.
Alguns indicadores fiscais perderam a credibilidade.
A política de
escolher empresas que, com privilégios, liderariam o capitalismo
brasileiro foi copiada do governo militar com idêntico fracasso. Hoje, o
próprio BNDES afirma que a política dos campeões nacionais foi
abandonada. Isso depois que muitos empréstimos com juros negativos e
compra de ações e debêntures beneficiaram os favoritos do banco. O custo
das várias escolhas erradas não foi apresentado ao contribuinte.
O
setor de energia vive um curto-circuito. Os reservatórios das
hidrelétricas passaram o ano inteiro com um nível de água abaixo do que
estavam nos mesmos meses dos últimos dez anos. O acionamento das
térmicas durante meses criou um custo que está sendo escondido. O
mercado fala em R$ 9 bilhões no ano de diferença entre o custo da
energia e o preço que ela é vendida. O desequilíbrio ocorreu quando a
presidente, em ato de campanha eleitoral, anunciou a queda do preço da
energia ao consumidor e uma redução ainda maior ao setor industrial.
Reduziu o preço quando o custo estava subindo. Quem está cobrindo a
diferença é o Tesouro, com endividamento. Foi recriado um sistema de
subsídio, mas agora com dívida pública.
E por falar nela, o
governo anuncia que a dívida líquida está em queda, mas a dívida bruta é
que tem sido olhada. Mesmo com a fórmula de cálculo brasileira — e não a
do FMI—, ela subiu de 53% do PIB no final de 2010 para 59%.
A
balança comercial está negativa, no acumulado, desde o começo do ano. E
estamos tendo déficit para comprar gasolina. A diferença entre o que o
Brasil exporta e importa de petróleo e derivados chegou a US$ 16
bilhões. A Petrobras vende a gasolina por um preço menor do que paga.
Isso está tirando a capacidade da empresa de investir.
O governo
está convencido de que vários desses desequilíbrios serão resolvidos
pelas concessões que vão injetar novo ânimo na economia. No próximo dia
18, vai privatizar duas rodovias com chance de sucesso, porque os
consórcios sabem que terão o anabolizante de 49% de capital de bancos
públicos e dos fundos de pensão de estatais através do “fundo noiva”.
Haverá
eventos favoráveis, como a licitação do pré-sal. Alguns números
econômicos bons serão seguidos de outros ruins. A propaganda falará
apenas dos bons. No ano que vem, o governo deve ampliar gastos, como
todos os governos fazem em época eleitoral. Em 2015, o eleito terá uma
herança difícil e muito trabalho para corrigir todas as distorções
criadas pelo modelo Dilma. Mesmo que seja a própria Dilma.
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