A pior petrolífera
Por Carlos Alberto Sardenberg
O melhor negócio do mundo é uma companhia de
petróleo bem administrada; o segundo, dizia Nelson Rockefeller, é
uma petrolífera mal administrada. E o terceiro, acrescentou um
gaiato brasileiro, é a Petrobrás.
Seria a venezuelana PDVSA a quarta?
A gestão do negócio é um desastre. Na era
chavista, num momento de alta demanda pelo óleo, a empresa conseguiu
perder produção e reservas. Isso foi consequência de incapacidade
gerencial, na medida em que os postos de comando da estatal foram
preenchidos por políticos e militantes. Menos engenheiros, mais
companheiros.
Mas como petróleo dá dinheiro mesmo com ofensas,
o segundo grande desastre venezuelano foi na utilização das
receitas da PDVSA. O que seria o certo? Investir primeiro na própria
companhia, de modo a torná-la mais produtiva e mais rica - quando,
então, pagaria mais dividendos e mais impostos para o caixa do
governo. Com esse bom financiamento, o governo poderia fazer as
políticas sociais que quisesse.
Chávez, porém, avançou no caixa da empresa.
Convenhamos que era uma tentação irresistível para um político
populista: todo mês, aquela montanha de dinheiro ali, dando sopa....
Precisa comprar fogão para distribuir nas favelas? Manda a PDVSA
comprar. Quem precisa de petróleo e faz fogão barato? A China.
Negócio fechado.
Para Cuba e outros amigos, a PDVSA passou a
entregar petróleo quase de graça e, ainda assim, pago com o
trabalho de médicos e agentes do serviço secreto. Verdade que os
médicos também são muito mal remunerados e os agentes, muito úteis
para reprimir protestos. Mas o óleo continua saindo barato para os
amigos e caro para a PDVSA.
Com tudo isso, não espanta que um dos
maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo tenha
conseguido ficar sem dólares . O caos econômico em que o chavismo
meteu a Venezuela é o desastre da PDVSA em escala nacional.
A Petrobrás não é a PDVSA - qualquer um percebe
isso. Mas olhando no detalhe, parece que tem muita gente do governo
querendo imitar os companheiros venezuelanos.
A estatal brasileira divulgou lucro em seu balanço
na última terça. Ontem, as ações da companhia despencaram na
bolsa. As ordinárias caíram abaixo dos R$ 13,00. Valiam mais de R$
50 há apenas cinco anos.
Não é especulação de mercado. Reflete, por
exemplo, a queda na produção nacional, embora existindo muito
petróleo para ser explorado. Uma queda tão expressiva que se a
produção subir 7% neste ano - conforme promessa da empresa -
voltaria ao nível de 2010. Ou seja, a empresa está fazendo muito
menos do que poderia. Por isso, vale menos.
A presidente da Petrobrás, Graça Foster, ali
colocada pela presidente Dilma, não critica a gestão anterior, do
tempo de Lula. Mas tudo que ela faz e diz é, sim, crítica a seus
antecessores. Diz que, para recuperar a companhia, está cortando
custos e mudando sistemas de modo a ganhar mais eficiência e
eliminar desperdícios. Feitos por quem?
Também criou um programa de prevenção a
fraudes. Notaram a palavra "prevenção"? Pois é, por que
não colocaram "combate" à corrupção? Porque seria um
ataque direto aos antecessores, também petistas, como elas, Dilma e
Graça.
Mas está claro para todo mundo que o
programa foi anunciado quando apareceram denúncias fortes, inclusive
no exterior.
O governo brasileiro não está avançando
diretamente no caixa de sua petrolífera. Mas indiretamente, está.
Ao reprimir os preços da gasolina e do diesel, para combater a
inflação, o governo obriga sua empresa a importar por um preço e
vender aqui mais barato. Prejuízo na veia, dívida em alta.
Nesse ambiente, manda a Petrobrás ampliar seus
investimentos, inclusive em refinarias alocadas politicamente, uma
delas, a de Pernambuco, em sociedade com, ela mesma, a PDVSA.
Graça Foster diz, em resumo, o seguinte: ok,
tivemos problemas, mas daqui em diante será diferente. Mas faz algum
tempo que diz isso. E faz algum tempo que não consegue seus
objetivos, como a crucial correção dos preços dos combustíveis.
E há detalhes, digamos assim, que inquietam.
Descobriram que a Petrobrás entrou com R$ 650 mil em patrocínios
para o congresso nacional do MST - aquele em que os congressistas
tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal. Perguntada, a Petrobrás
disse que o dinheiro se destinava a uma mostra de cultura camponesa,
parte do congresso, e que o patrocínio se alinha com o programa da
estatal na direção de uma "produção inclusiva e
sustentável".
Petróleo "inclusivo e sustentável"?
Nem a PDVSA conseguiria frase, assim, mais reveladora.
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