Por Marcos
Troyjo
Grandes
mamíferos, assim como investidores internacionais, são hipersensíveis.
Comportam-se como manada. Reagem instintivamente a oportunidade e perigo.
Bancos de investimento são intérpretes, e muitas vezes origem, do estouro da
boiada.
Após 6
anos em que mercados desenvolvidos foram fonte de más notícias, é hora dos
emergentes sentirem o impacto da aversão ao risco.
Há grande generalização nesses
movimentos. O índice MSCI de Mercados Emergentes, por exemplo, abarca países
tão distintos quanto Egito, México, República Tcheca, Qatar, Coreia do Sul ou
Grécia.
Para
evitar mais superficialidades, Wall Street liga a máquina de produzir siglas e
modula os que mais perdem. As estrelas cadentes são os “Fragile-5”:
Brasil, Indonésia, África do Sul, Índia e Turquia, identificados pelo Morgan
Stanley como mais vulneráveis em razão de quadro fiscal insatisfatório.
A
ojeriza surge em grande parte de fatores externos aos emergentes. Retomada do
crescimento nos desenvolvidos. Diminuição dos estímulos monetários nos EUA.
Propalada desaceleração da China. Todos esses vetores vêm sendo exacerbados.
Os
ricos não estão com essa bola toda. Embora o Banco Mundial estime que neste ano
os EUA cresçam 2,8%, a Zona do Euro expandirá 1% e o Japão, 1,4%. Os
emergentes, 5,3%.
Entre
2004 e 2006, período em que países emergentes foram responsáveis por 70% do
crescimento mundial, a taxa básica de juros dos EUA (FED funds) subiu de 1%
para 5,25 %. Hoje, está entre 0% e 0,25% e mantém-se a recompra de ativos em
US$ 65 bilhões mensais. Será que a atual bomba de sucção de liquidez é tão
poderosa assim?
A
aterrissagem chinesa também precisa ser vista de forma proporcional ao peso do
dragão asiático no mundo. Entre 2004 e 2006, a economia chinesa cresceu à média
anual de 11,4%. Seu PIB saltou de US$ 2 trilhões para 2,7 trilhões.
Contribuição incremental de US$ 700 bilhões à economia global.
Se
entre 2014 e 2016 a China crescer em média 7% ao ano, seu PIB pulará dos atuais
US$ 9 trilhões para US$ 10,3 trilhões. A diferença positiva é quase o dobro do
que há 10 anos a China agregava ao PIB mundial. Quanto à demanda, em 2004 a
China comprava US$560 bilhões do exterior. Neste ano importará mais de US$ 2
trilhões.
Há,
portanto, muito de Maria-vai-com-as-outras na atual sabedoria convencional
contra os emergentes. Reações epidérmicas vão passar. Não nos aguarda uma
reedição da velha geometria Norte-Sul. Nada, contudo, de nova febre pelos
emergentes. Após essa grossa generalização, deve seguir-se uma depuração dos
emergentes com maior potencial.
Nesse
processo, o foco se lançará para além da macroeconomia. Será mais do que
contrapor panorama internacional de liquidez ao quadro fiscal de curto prazo
deste ou daquele país.
O
critério diferenciador será o modelo de economia política adotado para lidar
com um cenário de cadeias produtivas globais, acordos seletivos de comércio e
investimento e a corrida por inovação. O Brasil terá sucesso nessa "Grande
Triagem”?
Nenhum comentário:
Postar um comentário