sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

LULA E O IRÃ: EM 2009, ELE PENSA COM A CABEÇA DE 1979


Por Reinaldo Azevedo


“A coisa melhor e mais barata para todos nós é contarmos com as negociações e termos paciência, muita paciência. (…) Na minha opinião, não é apropriado tratar o Irã como se fosse um país insignificante e fortalecer a pressão sobre o Irã todos os dias”.


Este é Lula, na Alemanha, depois de um encontro com Angela Merkel. Em palavras aparentemente tão mansas e pragmáticas, uma fala tão perigosa!
Ninguém trata o Irã como uma “país insignificante”. Ao contrário: é tão “significante” que o seu programa nuclear é alvo da preocupação mundial. E a razão é simples: ele se dá à margem de qualquer controle. Não fosse o Irã um país que financia o terrorismo em pelo menos três países e que anuncia o intuito de destruir um outro, talvez as preocupação fossem menores.
Paciência com Irã? No dia 27 passado, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) condenou o país por falta de cooperação. Qual foi a reação? Tentativa de se explicar? Não! Num claro desafio à entidade — e a boa parte do mundo —, anunciou a construção de dez novas centrais nucleares.
Lula insiste na cascata de que é preciso vencer as “desconfianças mútuas” entre o Irã e o Ocidente. Mas vejam só: já nem se trata mais de “Ocidente”. Até China e Rússia condenaram o país na AIEA. De resto, sabemos por que desconfiar do Irã, não? Mas qual é a desconfiança dos iranianos? Quando se fala nessa suposta “mutualidade”, supõe-se que os atores jogam, no mundo, papéis equivalentes. Tenham paciência!

O movimento é ainda discreto, mas já começa a ser evidente: a política externa destrambelhada do Brasil começa a chamar a atenção do mundo. O que parecia um protagonismo adequado à importância econômica do país está começando a ser visto como manifestação de arrogância. Há coisa de dois meses, a The Economist, que admira o país, indagava: “De que lado está o Brasil?”

Imaginem vocês: Lula, hoje o governante mais severo com Honduras de quantos tenham se pronunciado sobre a realidade daquele país, é, no entanto, um anjo de candura e compreensão quando o assunto é o Irã.
Não é por acaso que o respeitado presidente Óscar Arias, da Costa Rica, disse há dias, de forma irônica, que havia países que reconheceram sem pestanejar as eleições no Irã, eivada de fraudes, mas se negavam a reconhecer as de Honduras, sem fraude nenhuma. Estava se referindo, obviamente, ao Brasil.
Enquanto Lula era um “ex-operário” que havia chegado à Presidência do Brasil e alertava o mudo para os grandes problemas da humanidade (!), isso tinha lá o seu charme e seu apelo. Quando decidiu entrar na arena para valer, percebeu-se que a “contribuição” do país tem-se caracterizado por cobrar candura com ditadores e facínoras. O ditador do Sudão que o diga!
Lembram-se do sindicalista a revelar à revista Playboy quais eram os vultos da humanidade que ele tanto admirava? Pois é… Quem fala acima, em 2009, é o Lula de 1979.

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