sexta-feira, 26 de março de 2010

Dom Luiz, O Príncipe Perfeito



2010: NONAGÉSSIMO ANO DE FALECIMENTO DO
PRÍNCIPE DOM LUIZ DE BRAGANÇA
(*1878 +1920)

Segundo filho da Princesa Isabel e do Conde D’Eu, Dom Luiz Maria Felipe Pedro de Alcântara Gastão Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança, nasceu em Petrópolis em 26 de janeiro de 1878, no Palácio da Princesa, Avenida Köeller. Iniciou sua educação no Brasil, sob a orientação de seu aio, Barão de Ramiz, e completou-a na França durante o exílio com particular distinção.
Fez estudos militares na Academia Austríaca de Wiener Neustadt, conservando a nacionalidade brasileira, com permissão do Imperador Franz Joseph, primo e amigo de Dom Pedro II.
Em 1908, tornou-se Príncipe Imperial depois da renúncia de seu irmão, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara, ex-Príncipe do Grão-Pará. Com autorização e incentivo da Princesa Isabel dirigiu dois manifestos à nação brasileira, em 1909 e 1913, respectivamente. Desenvolveu intensa atividade política visando a revogação do banimento da Família Imperial e a restauração da monarquia.
Intelectual e escritor de grandes méritos mereceu o cognome de Príncipe Perfeito. Candidatou-se a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras na vaga do Almirante Barão de Jaceguai, não tendo sido eleito por causa de pressões políticas feitas por Pinheiro Machado.
Globe trotter e desportista, apreciava a equitação, o pólo, a natação, o montanhismo, a caça. Deixou notável obra literária, focalizando suas viagens pelo mundo, seus interesses pelas ciências sociais e pelos grandes problemas que então agitavam a humanidade.
Destaca-se o livro “Sob o Cruzeiro do Sul” (versão portuguesa de “Sous la Croix du Sud”, em várias tiragens e edições, simpaticamente acolhido pela crítica e pelo público, no qual relata sua frustrada viagem ao Brasil e pelo qual foi premiado pela Sociedade de Geografia da França e pela Academia Francesa.
Tentou visitar o Brasil e chegou ao Rio de Janeiro em 12 de maio de 1907, a bordo do vapor “Amazone”. Impedido de desembarcar, Dom Luiz recebeu os cumprimentos de centenas de admiradores durante cerca de 12 horas. Sua viagem ocupou as manchetes durante vários dias e deixou em pânico as oligarquias que ainda se sentiam inseguras no poder.
O Supremo Tribunal Federal indeferiu o pedido de “habeas corpus” impetrado pelo procurador da Família Imperial, Conselheiro José da Silva Costa, tendo votado a favor dos ministros Alberto Torres e Amaro Cavancanti.
Também em Santos teve que permanecer a bordo. Prosseguiu viagem por outros países da América do Sul. Antes de chegar a Corumbá, vindo da Bolívia, fez questão de pisar em terra brasileira durante alguns momentos para um sentimental piquenique, episódio do qual existe uma fotografia, tirada por seu ajudante, comandante Cândido Guimarães.
Deixou inédito: “Le Socialisme”, que Giberto Freire muito admirava dizendo que Dom Luiz antecipou a discussão da questão social; “Palestina e Egito”, “Diário de viagens aos Estados Unidos”, “Impressions d’Asie et Expedition de Chasse à Ceylan” e “Jounal de Guèrre”, este publicado na Revista do Livro, em 1960. O que restou de sua numerosa correspondência, ativa e passiva, merecia ser divulgado para maior conhecimento de sua empolgante personalidade.
lTomou parte na Primeira Guerra Mundial ao lado do Brasil e dos Aliados, engajado no exército britânico, comandado pelo general Sir Douglas Haig, mas tarde Lorde e Conde Bemerside. Destacou-se e várias missões no fronte no norte da França e da Bélgica e recebeu diversas condecorações e honrosas citações.
Sua longa permanência em locais pantanosos, durante as missões que executou na guerra, causou-lhe grave enfermidade reumática durante cinco anos. Foi grande o seu sonho de voltar à pátria. Alguns anos antes de falecer, em carta dirigida a um fiel amigo paulista, Amador da Cunha Bueno, chegou a escrever cheio de ilusão e esperança: “O ar do Brasil bastará para me fazer recuperar as forças perdidas”...
Vítima do reumatismo, e febre intermitente adquirida na África, e de uma pneumonia, faleceu em Cannes prematuramente em 26 de março de 1920. Contava 42 anos de idade, 31 dos quais vivido no exílio.
Logo que a notícia chegou ao Brasil, com imensa repercussão, o deputado Maurício de Lacerda, independente e oposicionista, subiu à tribuna da Câmara dos Deputados comunicando o falecimento do príncipe herdeiro.
Agora, dizia ele, não havia mais razão para o banimento, uma vez que havia morrido Dom Luiz de Orleans e Bragança, que tanto medo causava às oligarquias da República Velha. Instou pela revogação do iníquo ato do Governo Provisório republicano. Isso foi feito pouco tempo depois, com a aprovação do projeto do deputado mineiro Francisco Valadares, sancionado pelo presidente Epitácio Pessoa.
Jaz Dom Luiz no panteon dos Orleans em Dreux ao lado de sua esposa, Dona Maria Pia, de seu irmão Dom Antônio e de seu filho Dom Luiz Gastão. “Homem como poucos, príncipe como nenhum”, disse a seu respeito seu grande amigo e primo Alberto I, Rei dos belgas.


(Alexandre Miranda Delgado - é historiador e membro da IHGB)

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