segunda-feira, 18 de novembro de 2013

‘O monarca não é uma pessoa política’, diz rei da Suécia

    • Em visita ao Brasil na semana passada, Carl Gustav XVI, revelou que tenta exercer uma monarquia moderna
    • Seu papel, segundo ele, é abrir as portas de acadêmicos de seu país ao mundo, mantendo-se distante do sistema político 
      RIO — “Vocês celebrarão um feriado amanhã, não é?”, perguntou Carl Gustaf XVI, rei da Suécia há 40 anos, durante visita ao Rio na última quinta-feira. Ao saber que o dia seguinte marcava o aniversário da Proclamação da República, disse: “Está vendo, vocês decidiram isso!”, concluindo uma conversa na qual procurou mostrar-se como um homem aberto a mudanças ao comentar, em um país que foi império e virou república, a permanência de monarquias nos dias de hoje.
      Muito distante dos poderes dos absolutistas de eras passadas e consciente das limitações políticas de um rei em seu país, Carl Gustaf XVI sabe que um monarca precisa manter-se relevante para seus súditos de outros modos. No caso desta passagem pelo Brasil, usou o peso de seu nome e seu cargo para abrir portas para uma delegação de executivos e acadêmicos da Suécia, à frente da Missão Real de Tecnologia. A iniciativa itinerante existe desde 1984, e este ano o Brasil foi o país escolhido. “Esta não é uma visita para vendas”, ressaltou o rei, marcando uma precavida distância do que julga estar fora de sua alçada.

      O GLOBO: O incentivo da monarquia à tecnologia é uma forma de modernizar uma instituição tão antiga?

      Carl Gustav XVI: Bom, para mim, é sempre uma possibilidade de aprendizado. Viajamos com executivos de diferentes indústrias, acadêmicos. Todos aprendem muito, cada um tem trajetórias completamente diferentes. Costumamos dizer que é uma universidade itinerante. Mas, claro, é muito importante para os integrantes dessa delegação que eles passem a se conhecer. É sobre fazer networking, também.

      Então fazer contatos seria um aspecto importante da tarefa de um monarca hoje em dia.

      Carl Gustav XVI: Mas é basicamente isso. Esta é apenas uma das viagens que eu faço. Às vezes em alguns países, não é o caso do Brasil, há uma certa dificuldade em entender o meu papel como membro e patrono da academia.
      Para muitos em países republicanos, o papel do monarca não é muito claro. Para o senhor, qual o papel das monarquias hoje?

      Carl Gustav XVI: É exatamente o que tento explicar. O monarca na Suécia é uma pessoa no sentido mais objetivo, não é uma pessoa política. É alguém que paira à parte do sistema político. Eu não atuo para vender produtos de empresas, mas abro espaço para conversas, reuniões.
      Não é uma visita de vendas. Também não é política?

      Carl Gustav XVI: Não. De forma alguma. Já vim ao Brasil em visitas oficiais para reunir-me com o presidente Lula, por exemplo, mas não anuncio publicamente nenhuma posição política. É claro, no âmbito privado, é possível discutir assuntos de interesse de ambas as partes, sem problemas.

      O senhor é rei há 40 anos. Como vê a evolução da monarquia sueca pelas próximas quatro décadas?

      Carl Gustav XVI: Talvez eu deva mudar a perspectiva desta pergunta. Eu tenho um lema (o lema de seu reinado): “Com os tempos.” Sempre tento acompanhar o desenvolvimento da sociedade. As mudanças têm acontecido de forma devagar. Você precisa sentir o que o público quer de uma monarquia moderna, e isso é algo que deve ser captado no ar, a vontade de mudança. Haverá, claro, na próxima geração, diferenças. Minha filha (Victoria) vai assumir o trono, não se sabe quando - a decisão não é minha. Acho que devemos sempre trabalhar dentro de nossas capacidades e nossas crenças.

      FONTE: Jornal O GLOBO
      Bernardo Barbosa
      Publicado: 18/11/13

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