quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Eles e nós. Ou: O Paradoxo da Liberdade

Eles poderiam dizer que não suportam as acusações que lanço contra eles. Mas eu não os acuso de nada — ladroagem, corrupção, desídia. Outros mais capazes do que eu o fazem. Eu os acuso de farsantes intelectuais. E não vou mudar.
Eles poderiam dizer que não suportam as minhas reiteradas calúnias, as minhas reiteradas injúrias, as minhas reiteradas difamações. Mas eu não os calunio, injurio ou difamo. Eu relato o seu pensamento. E esse relato os ofende. E não vou mudar.
Eles poderiam dizer que não suportam a campanha eleitoral que faço em favor deste ou daquele. Mas eu repudio os que pensam com ou sem eleição — ainda antes de chegarem ao poder e tentarem impor a “linha justa” ao jornalismo. Eu repudio os mais de 200 anos de sua herança intelectual, coisa que eles próprios ignoram. E não vou mudar.
Eles poderiam dizer que não suportam as minhas injustiças. Mas eu me limito a lhes atribuir o que de fato lhes pertence, segundo seus próprios documentos. Só não me obrigo a vê-los com os mesmos olhos e a mesma moralidade com que se vêem. E não vou mudar.
Eles poderiam dizer que não suportam a defesa que faço de regimes discricionários, de ditaduras, de legislações de exceção. Mas eu sou aquele contra os regimes discricionários, as ditaduras e as legislações de exceção. Eles defendem um regime que apedreja e enforca; eu defendo os regimes pautados pelos direitos humanos; eles defendem o diálogo com os tiranos; eu defendo o diálogo com os democratas. E não vou mudar.
Eles poderiam dizer que não suportam a minha militância permanente contra o estado de direito. Mas eu sou aquele que defende que o direito deva ser encontrado na Constituição e nas leis democráticas. E não vou mudar.
Eles poderiam dizer que não suportam a minha intolerância com a diferença, o meu preconceito. Mas sou aquele que defende que seus adversários intelectuais tenham o direito de se expressar livremente; que se organiza para combatê-los. Eles é que gostariam de me silenciar. Talvez não mudem. Eu não vou mudar.
Eles repudiam, em suma, a liberdade que lhes permite ser hoje quem são. Eu prezo a liberdade que lhes permite ser quem são e ser quem sou.
E NÓS SOMOS, COM EFEITO, MUITO DIFERENTES.
E não vou mudar.

Texto escrito por Reinaldo Azevedo

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