quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Endereços da web podem se esgotar esta semana


A internet está para ficar sem novos endereços, o que está levando gigantes da web como o Facebook Inc. e o Google Inc. a criar novas versões de seus sites e motivando telefônicas como a AT&T Inc. nos Estados Unidos ou a Telefônica no Brasil a renovar suas redes.
Esta semana, a organização que coordena os endereços da internet deve distribuir seu último lote de endereços existentes do protocolo de internet, ou IP, um passo equivalente a empresas telefônicas ficarem sem números para oferecer a seus clientes.
Os endereços de IP são sequências numéricas que direcionam o tráfego on-line para o lugar certo, similar à maneira como uma carta atravessa o sistema postal. Esse tipo de roteamento é geralmente invisível para os usuários - quando eles digitam www.facebook.com, por exemplo, estão na verdade conectando-se a um computador localizado no endereço numérico 66.220.149.32. É a oferta desses números que está para acabar.
Embora haja um novo sistema de endereçamento para a internet pronto para ser utilizado, que expande enormemente o número de endereços, ele não é compatível com o sistema atual. Por isso, em junho o Google, o Facebook, o Yahoo Inc. e outras empresas vão trocar para o novo endereço por um dia, no primeiro teste de larga escala da nova rede, apelidada de IP versão seis, ou IPv6.
Uma mudança permanente para um novo sistema de endereçamento de internet ainda vai levar anos. Mas agora ela é inevitável, disse Lorenzo Colitti, um engenheiro do Google que está ajudando a supervisionar a transição da empresa de busca para o IPv6.
A mudança é necessária por causa de um problema na maneira como a internet é projetada. A web é constituída de equipamentos de rede, como roteadores e servidores, que decodificam sinais eletrônicos usando um sistema de endereçamento criado mais de 30 anos atrás.
Esse sistema de endereçamento é chamado IP versão quatro, ou IPv4, que permite cerca de 4,3 bilhões de possíveis endereços. Nos anos 70, isso era mais do que o suficiente, já que a internet conectava somente uns poucos pesquisadores de governo e de universidades.
Mas agora todo tipo de aparelho se conecta à internet, bem como uma parcela cada vez maior da população mundial. Isso fez com que o número de endereços disponíveis caísse de mais de 1 bilhão em junho de 2006 para somente 117 milhões em dezembro de 2010, de acordo com a American Registry for Internet Numbers.
Mais de dez anos atrás, os fundadores da internet desenvolveram o sistema de endereçamento IPv6, que é muito maior e permite um número quase infinito de aparelhos e websites. Mesmo assim, menos de 0,25% das pessoas acessam atualmente a internet com conexões IPv6, informa o Google.
Se a mudança para o IPv6 der certo, a transição - que provavelmente ocorrerá gradualmente em vários anos - não terá um grande impacto nos consumidores. Alguns sistemas operacionais e roteadores mais antigos não vão funcionar com os novos endereços, mas os que foram comprados nos últimos dois ou três anos devem funcionar, de acordo com especialistas em rede.
As empresas de telecomunicação vêm atualizando suas redes de internet e celular. No Brasil, a Telefônica afirma que tem feito testes para implantar o IPv6 desde 2005 e que deve ter sua rede atualizada nos próximos dois anos. Nos EUA, a AT&T, por exemplo, gastou nos últimos anos "centenas de milhões" de dólares para atualizar sua rede de internet para grandes empresas, bem como na compra regular de equipamentos de rede que sejam compatíveis com o novo sistema de endereçamento, disse Dale McHenry, vice-presidente de serviços de redes empresariais.
Agora, as empresas vão precisar instalar equipamentos de rede compatíveis com os novos endereços e construir conexões para seus websites para as pessoas que utilizam os novos endereços.
No ano passado, a principal autoridade americana na área de tecnologia da informação determinou que todas as novas compras de tecnologia feitas pelo governo americano precisam ser compatíveis com o novo esquema de endereçamento e ordenou que as agências governamentais atualizem seus websites e equipamentos.
Empresas como a Cisco Systems Inc., que fabrica roteadores e comutadores, devem se beneficiar da mudança. "É uma mina de ouro, porque no final todo mundo vai ter que atualizar" para equipamentos que sejam compatíveis com o IPv6, que a Cisco começou a vender vários anos atrás, disse Joel Conover, um gerente sênior de marketing da Cisco.
No Facebook, a empresa informou que começou a planejar para a transição para o IPv6 três anos atrás, atualizando constantemente seus equipamentos com aparelhos que funcionam tanto no esquema novo quanto no antigo. A empresa lançou seu site na versão IPv6 no meio do ano passado, mas ele raramente é visitado.
O site, www.v6.facebook.com, precisa ser digitado manualmente e só pode ser visto por pessoas com uma conexão IPv6, o que significa que mais de 99% dos visitantes do Facebook que usam o sistema antigo de endereços receberiam uma mensagem de erro.
Facebook, Google e outras empresas anunciaram o teste de junho no mês passado.
Até agora, o novo esquema de endereçamento está travado no dilema do ovo e da galinha. Ninguém quer criar serviços que usam o novo esquema enquanto não houver uma rede para que eles sejam acessados, e ninguém quer construir uma rede até que haja serviços para impulsionar a demanda.

FONTE: Wall Street Journal

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