Marcos Troyjo *
O
peso de um país nas relações internacionais se dá em três patamares.
Força dissuasiva de defesa. Prosperidade de seus cidadãos e empresas.
Influência projetada por valores
intangíveis. Em todos, a inovação é cada vez mais determinante. E
inovação é algo produzido por elites.
Modos
de pensar e agir que opõem “Norte/Sul”, “mercado interno/externo”,
“empresas ou universidades públicas/privadas”, “manutenção/transformação
de empregos” tornam sociedades
reféns do imobilismo. Isso está bem argumentado desde o pioneiro
Schumpeter até Acemoglu & Robinson e seu indispensável livro Por que as Nações Fracassam.
Seu resultado é irrelevância no campo do poder tradicional. Baixa densidade tecnológica de sua economia.
Soft power limitado. A saída se dá basicamente com elites
liderando uma ou outra estratégia de inovação: destruição criativa
ou adaptação criativa.
A
primeira faz com que a economia esteja sempre em "caos evolutivo". Na
dinâmica de constante mutação, apenas os inovadores sobrevivem. A
substituição da máquina-de-escrever
pelo computador é típico exemplo de destruição criativa. Rica no começo
do século 20 graças à agropecuária, a Argentina – de elite educada, mas
pouco afeita à inovação – iniciou o terceiro milênio relativamente
pobre. Os EUA ascenderam desde o século 19 com
elite radicalmente inovadora. Tornaram-se a nação mais rica e poderosa
do mundo.
A
segunda significa fazer o mesmo que o líder, mas com inovação nos
custos de trabalho, logística, e velocidade. Este o rumo adotado por
elites asiáticas. O que empresas
sul-coreanas realizam em setores como televisores, smartphones ou
automóveis são típicos exemplos de inovação por adaptação criativa. A
grande arrancada chinesa desde 1978 também se deu por maciça adaptação
criativa.
O
problema é que muitos países, empresas e elites acomodam-se a
conjunturas que favorecem a substituição de importações ou modelos
agroexportadores. Daí, “adaptar-se" vira
caminho para obsolescência e conservadorismo.
Ao
contrário do que possa parecer, a inovação por destruição criativa não é
o produto da centelha de gênios. Ela demanda elites visionárias e
apaixonadas por seu país. Elites
funcionais são as que unem patriotismo e planejamento estratégico –
algo raro na tela de radar dos que dirigem o Brasil.
Não
basta amplo contingente oriundo do ensino médio ou escolas técnicas.
Educação universal é obrigação cívica. No entanto, inovação não é medida
em horas na sala de aula,
mas no que se faz de concreto e inovador com a educação recebida.
Portanto inovação é produzida por elites e é o produto de elites.
Elites
inovadoras levam seus países à combinação de “quatro elementos
constitutivos" da destruição criativa. Capital, conhecimento,
empreendedorismo e ambientes de negócios
conducentes à inovação.
O
insumo mais determinante da inovação é o capital humano de alta
qualidade – o escasso recurso chamado talento. No limite, a grande
corrida global deste século 21 nada mais
é do que uma competição entre elites.
*Marcos Troyjo, 46, é economista e cientista social e mora entre
Nova York e o Rio. Fez doutorado em sociologia das relações
internacionais na USP e pós-doutorado na Universidade Columbia, em Nova
York, onde também é professor-adjunto de relações internacionais e
políticas públicas e dirige o BRICLab. É professor-conferencista também
no Ibmec. Trabalhou como diplomata de carreira e foi secretário de
imprensa da Missão do Brasil junto à ONU em Nova York.
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