Por Danylo Martins | De São Paulo
O número de investidores-anjo no Brasil ainda é pequeno, mas está em
crescimento. São 6.450 pessoas físicas, segundo o último levantamento
feito pela rede Anjos do Brasil, organização sem fins lucrativos que
busca fomentar o segmento no país. Esse número cresceu 2,3% de junho de
2012 a julho do ano passado. Em 2011, o total de investidores era de
5.300, 18% menor.
Contudo, enquanto a fatia de pessoas aumentou pouco percentualmente, o
volume desse tipo de investimento teve uma elevação de 25% no mesmo
período, totalizando R$ 619 milhões investidos em startups, ante R$ 495
milhões em 2012. "O cenário é bastante positivo, mas o Brasil está muito
aquém de mercados maduros, como países da Europa", analisa Cássio
Spina, sócio-fundador da Anjos do Brasil.
Na visão de Junior Bornelli, vice-presidente de negócios e
relacionamento do Angels Club, o setor de educação está entre os cinco
que mais crescem no país para startups. "Uma dessas áreas é o
agronegócio. Muitos apostam em tecnologia para aplicar na agricultura",
diz. Outras que ganham destaque para investimento de capital semente são
biotecnologia e saúde, com a criação de aplicativos para smartphones e
softwares.
Um dos entraves que prejudica o avanço do investimento-anjo no país é
a questão fiscal. "Estão acontecendo conversas com o governo sobre o
assunto. A gente está tentando mostrar a importância do estímulo ao
investimento-anjo", afirma. "Nos Estados Unidos, dá para compensar o
prejuízo com lucros em exercícios posteriores", exemplifica Augusto
Ferraz, presidente da Polaris Investimentos. A ideia é sensibilizar o
governo brasileiro em relação a essa proteção tributária ao aplicador.
"Os tribunais passam por cima disso. O investidor não é CEO da empresa
em que investe e não pode ser cobrado por dívidas", afirma Spina.
A chamada "despersonalização" da pessoa jurídica é outro aspecto
colocado em pauta em conversas com o governo. "Mesmo se eu faço
investimento como pessoa física, o juiz tende a buscar [em situações
adversas] o patrimônio do anjo, mesmo ele não tendo participado como
gestor", diz Ferraz.
Magnus Arantes, presidente do HBS Alumni Angels of Brazil, acredita
que o problema não seja a questão fiscal. "A minha visão é um pouco
diferente da dos outros anjos. Nós precisávamos ter um ambiente que
facilitasse o desenvolvimento de empresas. Quando isso acontece, o que
fazemos acaba sendo facilitado também", explica. Esse avanço, diz, passa
por simplificação tributária e normas trabalhistas mais atualizadas,
não 'centenárias'. "Isso porque nós apostamos em empresas que trabalham
na economia real", reforça.
Os anjos podem atuar juntos, em um clube ou uma associação sem fins
lucrativos, individualmente ou por meio de fundos de investimento em
participações (FIPs). Os investidores recebem o capital quando ocorre o
desinvestimento (venda) da empresa. Segundo a Associação Brasileira de
Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), isso pode acontecer de cinco a
dez anos após o início do fundo. Para investidores mais abastados,
alguns gestores de patrimônio também incluem esse tipo de aplicação como
sugestão de diversificação de portfólio. "No nosso caso, temos capital
próprio e não fazemos captação de terceiros. São quatro analistas para
avaliar projetos que hoje chegam a quase 500", conta Augusto Ferraz,
presidente da Polaris Investimentos.
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